Quem é Meng Wanzhou, a vice-presidente da Huawei que continua em liberdade condicional

Acusada de fraude, foi detida no Canadá em 2018 a pedido dos EUA, que exigem a sua extradição. A filha do fundador da gigante das telecomunicações chinesa encontra-se no meio de um conflito tecnológico muito maior, entre os EUA e o seu país de origem. E tudo isto aparenta ser apenas o começo.

Foto: Getty Images
03 de outubro de 2019 às 07:00 Máxima

A tensão entre os EUA e a China é crescente, muito também no plano tecnológico. E Meng Wanzhou, 47 anos, ganhou um protagonismo, provavelmente indesejado, numa batalha legal que contribuiu ainda mais para a colisão entre os dois países. O caso remonta ao ano passado, mas está longe de terminar. No último dia 24 de setembro, Meng Wanzhou participou em mais uma audiência num tribunal de Vancouver, no Canadá, nesta que é já uma disputa diplomática.

Como seria de esperar, a sua presença não passou despercebida à imprensa, especialmente tendo em conta o pormenor presente no seu tornozelo esquerdo, contrastante com um visual que espelha o seu estatuto. Falamos, obviamente, da pulseira eletrónica com localizador GPS que a obriga a permanecer em território canadiano desde dezembro do ano passado, altura em que foi detida palas autoridades desse país.

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A diretora financeira e vice-presidente da multinacional Huawei – empresa fundada pelo seu pai, Ren Zhengfei, em 1988 – foi detida durante uma escala no Canadá, numa viagem com destino ao México, sob a acusação de conspiração e fraude a várias instituições financeiras. Se for considerada culpada das acusações, enfrentará até 30 anos de prisão nos EUA.

Pequim não está contente e já retaliou. Alega que a detenção de Meng teve propósitos políticos, exigindo a sua libertação. Após este episódio, dois cidadãos canadianos foram presos na China, acusados de terem ameaçado a segurança nacional do país. Esta tomada de posição foi vista como uma represália, contribuindo para minar a relação entre os dois estados. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá já se pronunciou frisando que o país, enquanto estado de direito, se limita a cumprir os vários tratados internacionais e admitindo que esta atitude não é aceitável na comunidade internacional. "Usar a detenção arbitrária como uma ferramenta para alcançar objectivos políticos, internacionais ou domésticos, é algo que preocupa não apenas o Canadá, mas também todos os nossos aliados" comentou ao jornal Toronto Star.

Meng Wanzhou, executiva chinesa, nasceu em 1972, em Chengdu, cidade do sudoeste da China e enquanto jovem, adotou o apelido da sua mãe, a filha de um alto funcionário do partido Comunista. O seu pai deixou o exército em 1983 e fundou a Huawei cinco anos depois, na província de Shenzhen, para onde a família se havia mudado, entretanto.

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Tirou um mestrado em contabilidade na Universidade de Huazhong na China e, pouco depois juntou-se à empresa da sua família, em 1993, começando como recepcionista. Desde então escalou profissionalmente na multinacional tecnológica até à posição de topo que tem hoje.

Meng já esteve casada várias vezes, tendo quatro filhos, o último do empresário Liu Xiaozong, com quem se casou em 2007 e que trabalhou na Huawei durante alguns anos. O casal viveu vários anos no Canadá, pelo que tem duas propriedades luxuosas em Vancouver – avaliadas entre 3,7 e 10,6 milhões de euros. É aqui que se estabeleceu após a sua detenção.

De acordo com o site Business Insider, Meng padece de alguns problemas de saúde: sobreviveu a um cancro da tiróide, tem hipertensão, dificuldade em dormir e o seu bem-estar depende de tratamentos diários e medicamentos. Os seus advogados acreditam que estas dificuldades podem piorar durante a sua detenção.

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A verdade é que até 1 de dezembro, pouco se sabia sobre a vice-presidente de uma das maiores empresas tecnológicas do mundo, muito a par com a Samsung e a Apple. Presente em 170 países, a Huawei teve um lucro líquido de 7.863 milhões de euros só em 2018. Meng, por sua vez, chegou mesmo a ser indicada pela revista Forbes como uma das mais bem sucedidas empresárias da China.

Relativamente à detenção da filha, o fundador da Huawei mostrou-se confiante, revelando ao Business Insider este ano: "Não há motivos para acusações de Estados Unidos, portanto os tribunais resolverão isso" acrescentando que "será um longo caminho, mas ela tem paciência para aguentar." Já Meng enviou uma carta aos 180 mil funcionários da empresa a agradecer o seu apoio durante este processo.

A diretora financeira da Huawei foi acusada palas autoridades norte-americanas de ter violado as sanções impostas pelos EUA ao Irão. Pagou uma fiança de cerca de 6,6 milhões de euros para se manter em liberdade condicional e paga a uma empresa de segurança privada para garantir que não sai de casa sem autorização judicial, isto até se saber se será extraditada para aos EUA. A sua próxima audiência num tribunal de Vancouver está agendada para janeiro de 2020, num processo que está longe de ter um fim.

Foto: Getty Images
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