Expressiva, enérgica e de sorriso fácil. Assim é Ana Guiomar. Uma mulher capaz de roubar a cena cada vez que aparece, seja na televisão, no teatro ou na vida.
Ana Guiomar - 100% atriz
24 de março de 2014 às 07:00 Máxima
Natural de Torres Vedras, a atriz, de 25 anos, começou a sua carreira quase por acaso, quando foi selecionada para o elenco de Morangos com Açúcar. Desde aí nunca mais parou. Seguiram-se outras novelas e algumas curtas-metragens, até que acabou por ser convidada para trabalhar em teatro. Com a sua primeira experiência (Purga), conquistou a nomeação para o prémio de Melhor Atriz da Sociedade Portuguesa de Autores. Está agora no Teatro Aberto, onde protagoniza, ao lado de Pedro Laginha, a sua terceira peça, Vénus de Vison.
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- Sempre soube que queria ser atriz?
Não! Sempre sonhei ser veterinária para poder trabalhar com bichinhos e acho que se tivesse outra profissão era isso que ia fazer. Mas na escola gostava muito de ensaiar para as festas de Natal e levava aquilo muito a sério. Uma vez afixaram um póster com um casting para a série Uma Aventura. Enviei a cassete e a partir daí passei a inscrever-me em clubes de teatro e agências. Comecei por fazer publicidade e catálogos do “Regresso às Aulas”. Depois, fiz o casting para várias produções da NBP e foi assim que entrei para os Morangos.
- Hoje sente que é mesmo isto que quer fazer?
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É mesmo isto que quero fazer e, acima de tudo, tento respeitar a profissão ao máximo. Para alguns, isto é um hobby e as fotografias e as presenças é que contam. Isso a mim não me seduz. Gostava muito de ser atriz o resto da vida. Espero que seja isso que esteja previsto para mim.
- Teatro ou televisão: o que lhe dá mais prazer fazer?
Não consigo mesmo escolher. Há pessoas que dizem: “Ah, mas a televisão é um trabalho menor!” Não, dá-me imenso gozo fazer! Adoro toda a parte dos bastidores e do convívio porque sou muito faladora e estou sempre na palhaçada. Mas também gosto do trabalho rápido e do frenesim que é a televisão. O teatro é completamente diferente. É fazer toda a dramaturgia dos textos: são três meses a ensaiar aquelas falas, a compreendê-las... Encaro o teatro como alta competição, ou seja, posso sair do palco, mas a minha cabeça não sai realmente de lá, enquanto que, se sair de um estúdio, desligo mesmo.
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- E onde acha que “se aprende mais”?
Nos dois sítios. Basta estar disposto a isso e perder cinco minutos para ouvir os outros. Falta capacidade de absorção a algumas pessoas, estar nos bastidores, ver os atores mais velhos a trabalhar, tentar aprender com eles. Acho que isso faz toda a diferença. Como em qualquer profissão!
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- Tem recebido boas críticas com Vénus de Vison.
Fico contente porque, a nível de teatro, este foi o trabalho que mais insegura me deixou. Deixou-me mesmo muito nervosa, até porque estava a trabalhar pela primeira vez algo que ainda não tinha explorado e que me custou muito encarnar: o meu lado mais feminino e sedutor. Pensei: “Guiomar, agora cresceste, ok? Já não vais falar do Bart [o cão], não vais falar da tua mãe, mete na tua cabeça que agora vais ser uma mulher!” Portanto, ouvir críticas positivas já me dá outra segurança, aliás, acho que só agora é que estou a relaxar um bocadinho mais!
- Porque acha que esta peça está a ser tão bem recebida?
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Acho que o segredo desta peça é o texto [da autoria do dramaturgo norte-americano David Ives], que é maravilhoso! O universo erótico e masoquista, muito baseado na submissão e na degradação, também fascina as pessoas. Algumas porque já conhecem, outras porque nunca viram e querem conhecer, outras porque gostavam de experimentar... Depois da peça, sentimos quando é que uma pessoa ficou interessada ou fascinada por aquele mundo, sobretudo pelo tipo de perguntas que nos fazem. O facto de sermos apenas dois também se traduz num grande trabalho de ator – é uma peça muito vital, que não pode ser feita sem energia.
- O que aprendeu com a Vanda, com a Vénus de Vison?
Talvez a confiar menos nas pessoas. Esta personagem é muito felina, mede muito as coisas, mas quando é para atacar, ataca mesmo. Eu não sou assim, vou avançando devagarinho com medo e agora estou a aprender com esta atitude mais destemida.
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- Fica muito nervosa antes de entrar em palco?
Fico sempre nervosa e digo para mim mesma: “Agora é que me vou espalhar ao comprido!” Depois tento ser positiva, mas os nervos assolam-me sempre.
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- Prepara-se muito para um papel?
Sim, dedico-me bastante. Em teatro, não sei trabalhar sozinha em casa. Prefiro trabalhar com as pessoas e é nos ensaios que eu decoro o texto, não consigo ir para casa decorá-lo como faço nas novelas.
- Quais são as suas fragilidades enquanto atriz?
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Acho que precisava de ter aulas de dicção para não ficar tão cansada e para conhecer os meus limites. A insegurança também é uma fragilidade que tenho. Ao início, pensei que não ia conseguir fazer de Sónia no Dancin’Days, sobretudo porque era uma personagem que agarrava as maminhas e dizia que eram “as suas meninas”! Mas depois fiz e até correu bem. Por isso, acho que, às vezes, me falta acreditar mais e colocar o preconceito de lado.
- E quais acha que são os seus pontos fortes?
Trabalhar, trabalhar, trabalhar. Oiço muito os outros e confio porque por exemplo em teatro tens mesmo de te deixar ir.
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- Como gostava de ser vista pelo público?
Como atriz! Única e exclusivamente! Quanto mais o ator se expõe, menos ator e mais figura pública é. Não me interessa que o público me conheça dessa forma. Por isso é que nós vemos as novelas brasileiras e dizemos que este ou aquele ator vão muito bem. Mas isso é porque nós também não o conhecemos e, portanto, aquele mundo é-nos muito mais distante. Também gosto que se identifiquem comigo, apesar de não ser bem comigo, mas sim com as minhas personagens. É sinal de que são verdadeiras.
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- O melhor e o pior da fama.
O melhor é o reconhecimento positivo porque, para mim, não há nada melhor do que ir na rua e as pessoas dizerem que viram determinado papel e adoraram. Em teatro, é muito bom quando as pessoas ficam cá fora à nossa espera para nos darem os parabéns. Do lado negativo... há dias em que estou maldisposta e quero ir ao supermercado e não me apetece falar com ninguém [risos].
- O que ainda lhe falta fazer?
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Personagens não peço porque acho que as que me têm calhado têm sido muito boas. Ser protagonista de uma novela? Interessa-me se a personagem for boa. Se for a nhonhozinha que anda ali a sofrer por amor e que não tem pai para a filha, pode ser mas... enfim [risos]... Já fiz coisas que nunca me passou pela cabeça fazer e adorei! De taxista, por exemplo [Carla, na novela Os Nossos Dias]! Gostava de fazer mais séries como fiz o Conta-me [Como Foi]. Em teatro, ainda quero fazer muita coisa, mas a Vénus de Vison arrisca-se a ser uma das peças que mais me vai marcar porque é muito boa mesmo!
- E cinema?
Só se fosse lá fora. As pessoas perguntam-me se eu gostava de fazer cinema. Sim, gostava, mas que cinema é que se tem feito cá? Podemos ficar com uma belíssima personagem de uma novela, muito melhor do que uma personagem de cinema. Depende muito da maneira como a tratamos.