Cancro do ovário e a importância de ouvir o nosso corpo
É uma doença silenciosa, afeta cerca de 600 mulheres por ano em Portugal e tem associada uma alta taxa de mortalidade. Os sintomas são difíceis de detetar até já ser tarde. Daí a importância de estar informada e atenta aos sinais que o corpo dá. No final de janeiro foi lançado um guia gratuito para lidar com esta doença.

O cancro do ovário é já a quinta maior causa de mortalidade por doença oncológica nas mulheres. Uma doença silenciosa, com sintomas difíceis de identificar e, no início, fáceis de ignorar, o que causa muitos diagnósticos tardios e uma alta taxa de mortalidade. Estima-se que este cancro matou mais de 400 mulheres em Portugal em 20201.
O tratamento existente para as mulheres afetadas pelo cancro do ovário tem um enorme impacto na qualidade de vida dos doentes e dos seus cuidadores. Mas para tal, é importante que exista maior conhecimento sobre a doença, não só para detetar atempadamente, mas também para saber mais sobre como prevenir e como lidar com este cancro.
Felizmente, o avanço da ciência e uma nova geração de terapias trazem a esperança de, num futuro próximo, ser possível a cada vez mais mulheres tratar e ultrapassar esta doença, com maior qualidade de vida.
Informação é a primeira arma contra o cancro
O conhecimento é a primeira arma de cada mulher na luta contra o cancro do ovário. Por isso é tão importante o lançamento, que ocorreu no final de janeiro, do guia Cancro do Ovário, como lidar com a doença?. Este manual de apoio está já disponível para download no website da Associação MOG (Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos) e no website da Associação Evita (Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos genes relacionados com Cancro Hereditário).
Em breve, espera-se que este manual esteja presente em centros de saúde, clínicas e consultórios por todo o país, conforme sublinharam Cláudia Fraga, da Associação MOG, e Tamara Milagre, da Associação Evita, que partilharam experiências pessoais e sublinharam a importância das associações no apoio às doentes (ver caixa).
A importância de não estar sozinha
Associações como a MOG e a Evita são importantes para promover o conhecimento e a interajuda entre as mulheres que já foram diagnosticadas. A solidão é comum, a informação é escassa e o acesso aos médicos nem sempre é fácil. Estas associações têm a experiência e o acesso ao conhecimento e a pessoas qualificadas e substituem com vantagens pesquisas na internet e notícias sensacionalistas que podem aumentar a confusão e alimentar equívocos.
Foi com o apoio destas associações, da GSK e da Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa (AEOP), que teve lugar no dia 31 de janeiro a apresentação deste guia, numa sessão aberta na qual doentes e cuidadores partilharam experiências e esclareceram as dúvidas com um painel de profissionais de saúde e especialistas que contribuíram para o guia. A sessão foi transmitida online e está disponível no site da Máxima e no Facebook da Associação MOG e da Associação Evita.
Fatores de risco do cancro do ovário2
• Idade: o risco aumenta com a idade, em especial a partir dos 50 anos
• Obesidade
• Primeira menstruação antes dos 12 anos, menopausa tardia (depois dos 52 anos), nunca ter engravidado ou com primeira gravidez após os 35 anos.
Historial de cancro do ovário na família é sinal de alerta
Questiona o porquê de ser ainda mais importante, no caso do cancro do ovário, que exista informação e sensibilização das mulheres para a sua existência? Como sublinhou neste evento Mónica Nave, especialista em oncologia médica no Hospital da Luz, esta é uma doença em que não existe uma estratégia de vigilância que permita o rastreio e a deteção atempada nas mulheres em geral.
No caso das mulheres com um historial de cancro do ovário na família (que duplica o risco de vir a ter a doença), existe uma minoria (estimada entre 6 e 20%) que tem uma alteração genética específica – que pode ser detetada com testes – que aumenta muito a probabilidade de ter a doença, recomendando-se o rastreio e até mesmo intervenções preventivas.
Para Filipa Silva, especialista em oncologia médica na Fundação Champalimaud, o facto de esta doença ter sintomas relativamente benignos e próprios de outras causas (ver caixa) leva a que demasiadas vezes o diagnóstico só surja em situações de ida às urgências. Para esta especialista, "se tem um sintoma que persista, e mesmo que já tenha procurado ajuda médica, volte a procurar ajuda médica. Seguir a intuição e insistir. Não desistir e ouvir o nosso corpo."
Sintomas de cancro do ovário2
O cancro do ovário causa sintomas semelhantes a outras doenças mais comuns e menos graves. Isto faz com que seja bastante difícil um diagnóstico precoce. Os sintomas mais frequentes são:
• Aumento do volume abdominal
• Sensação de enfartamento
• Saciedade precoce
• Perda de apetite
• Dor abdominal/sensação de peso nos quadrantes inferiores
• Queixas urinárias como aumento da frequência e urgência urinária
Outros sintomas menos frequentes ou que geralmente aparecem em fases mais avançadas de doença são:
• Distúrbios de trânsito intestinal face ao padrão habitual (diarreia, obstipação)
• Perda de peso sem razão aparente
• Cansaço sem razão aparente
• Falta de ar
• Hemorragia vaginal
Tratamentos têm impacto na qualidade de vida
Se tiver a infelicidade de ter um diagnóstico de cancro do ovário é da máxima importância estar preparada e ter consciência de que terá de seguir tratamentos com grande impacto na qualidade de vida, como sublinhou Cristiana Marques, especialista em oncologia médica no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.
Uma jornada da doente oncológica com este tipo de cancro envolve normalmente grandes intervenções cirúrgicas nos órgãos afetados e tratamentos sistémicos, nomeadamente quimioterapia, que procuram destruir o cancro em todos os órgãos e estruturas do corpo.
Apesar de a evolução dos tratamentos permitir que cada vez mais mulheres sobrevivam e vivam com qualidade de vida, como este cancro é habitualmente detetado tardiamente, a vigilância deve ser apertada e o regresso do cancro é frequente, previne Sónia Ferreira, enfermeira especialista em saúde materna e obstétrica na Fundação Champalimaud.
Terapias avançadas vão aumentar esperança de vida das doentes
Se um diagnóstico é um momento de grande sofrimento psicológico, também os tratamentos e a intervenção cirúrgica são tempos de grande sofrimento físico (dores, fadiga, insónia) e produzem alterações que mexem muito com a autoestima da mulher (extração de órgãos reprodutores, alterações hormonais e da imagem). Um sofrimento que se estende aos cuidadores e aos que são próximos da doente, o que requer uma abordagem integrada. Não só com médicos, mas com psicólogos, assistentes sociais e outros especialistas. "Um cuidador cuida, mas também se deve cuidar: é este o segredo para o sucesso de um processo longo e partilhado", avisa a enfermeira Sónia Ferreira.
Felizmente, há muitos avanços importantes com terapias promissoras, algumas já em utilização, outras em fase de ensaios clínicos, reforçou Joana Bordalo e Sá, especialista em oncologia médica no Instituto Português de Oncologia do Porto.
Q&A com a especialista Joana Bordalo e Sá
1. Infelizmente, os diagnósticos de cancro do ovário começam a aparecer em idades cada vez mais jovens. Qual a importância dos tratamentos de manutenção de primeira linha nestas situações?
O cancro do ovário continua a ser uma neoplasia diagnosticada principalmente na mulher pós-menopáusica, apesar de também estar presente em idades mais jovens. O tratamento de manutenção, após a primeira linha de quimioterapia baseada em platino, se resposta completa ou parcial, pode melhorar os resultados de sobrevivência, com razoável tolerância e sem prejuízo da qualidade de vida.
2. Qual a importância de uma abordagem multidisciplinar na escolha do tratamento do cancro do ovário em mulheres jovens que planeiam a maternidade?
A abordagem e ampla discussão com uma equipa multidisciplinar é fundamental em todas as mulheres com este diagnóstico. A remoção cirúrgica do ovário e trompa, apenas do lado afetado, pode ser uma solução para as mulheres mais jovens, que ainda desejem uma gravidez futura, dependendo das características do tumor. No entanto, as sobreviventes de cancro do ovário devem remover o outro ovário e trompa remanescentes e o útero, e completar a cirurgia após terminarem o planeamento familiar.
Os medicamentos inovadores aumentam muito a esperança de vida de uma mulher com cancro do ovário. Neuza Teixeira, country medical manager da GSK, falou em entrevista à Máxima precisamente da importância de apoiar estas associações, de forma a aumentar a literacia das doentes, dos cuidadores e dos familiares, e do trabalho da GSK que tem como um dos grandes pilares o desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas.
A sessão de apresentação do Guia "Cancro do Ovário, Como lidar com a doença?" foi encerrada por Maurizio Borgatta, general manager da GSK, com uma nota de esperança. "Enquanto farmacêutica líder em inovação, temos o compromisso de não deixar nenhuma mulher, ou pessoa, com cancro para trás. E, por isso, movemos todos os esforços e alianças para contribuir para o desenvolvimento de respostas para todas as mulheres com um diagnóstico de cancro do ovário", sublinhou.
Para mais informações sobre cancro do ovário, consulte o seu médico.
Este conteúdo foi desenvolvido com o apoio da GSK.
NP-PT-NRP-OGM-230008 I 02/2023
Referências:
1. Dados Globocan 2020. Disponível em: https://gco.iarc.fr/today/data/factsheets/populations/620-portugal-fact-sheets.pdf. [Consultado em outubro de 2022].
2. Guia "Cancro do Ovário, Como lidar com a doença" (2022). Disponível em: https://mogportugal.pt/wp-content/uploads/2023/01/Guia_Cancro_Ovario_19out2022.pdf e https://www.evitacancro.org/wp-content/uploads/2023/01/Guia_Cancro-Ova%CC%81rio_19out.pdf. [Consultado em fevereiro de 2023].