As inimigas silenciosas
O calor incendeia o desejo e derrete a prud#234;ncia. Aprenda a defender-se!

O Verão traz o Sol, o Sol traz o calor e leva-nos a usar menos roupa e a adoptar uma atitude mais despreocupada. Os nossos níveis de stress estão significativamente mais baixos e até flirtamos mais. Mas não baixe demasiado as defesas. Não há qualquer razão para que um caso de uma noite tenha consequências para a vida inteira.
Falamos de doenças ou infecções transmitidas por via sexual. “Todas as doenças sexualmente transmissíveis (DST) são inicialmente apenas infecções, pelo que é mais correcto chamar-lhes infecções sexualmente transmissíveis (IST)”, esclarece Fernando Aires Ventura, director do Departamento de Clínica das Doenças Infecciosas e Parasitárias e assistente de Doenças Infecciosas do Hospital de Egas Moniz. “O que acontece, em muitos casos, é que, devido à ausência de sintomas, não se pensa em rastreio e a infecção nunca é devidamente identificada, acabando por evoluir para doença.”
As IST não discriminam, não escolhem idade, sexo nem estatuto social. “Uma pessoa pode ser, aparentemente, da maior confiança, mas pode ter tido um contacto sexual prévio com uma pessoa infectada que, por sua vez, teve contacto com outra que também estava infectada e não sabia”, esclare Maria do Carmo Rocha e Silva, ginecologista e obstetra da clínica Medicil, no Porto, e membro da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
Este é um assunto complexo, que envolve questões não só relativas à saúde, mas também à educação. Tal como o sexo desprotegido é uma das pricipais causas de contágio, a vergonha é a principal inimiga da detecção das IST. Por isso mesmo, é importante confiar no sigilo profissional dos médicos. “A informação fica sempre entre o doente e o médico. Este nunca pode ficar sozinho com a informação, tem sempre de a partilhar com o doente, mas também não a pode partilhar com mais ninguém”, garante a especialista.
As mudanças culturais dos últimos anos têm-se traduzido num início da vida sexual activa cada vez mais precoce e, com ela, um elevado número de parceiros sexuais. Tudo isto, aliado à prática do sexo desprotegido, coloca-nos numa posição vulnerável.
À semelhança do que acontece em Portugal, verifica-se também um aumento do número de infecções no resto da Europa, de acordo com dados da Direcção Geral de Saúde (DGS). Um dos motivos que podem explicar esta tendência é a resistência de algumas bactérias aos tratamentos tradicionais – algo que se está a verificar com a gonorreia. Epidemias de sífilis também têm sido registadas em países europeus.
A boa notícia é que estas infecções são facilmente curáveis, quando detectadas numa fase inicial. Mas, assim como os sintomas, os danos por elas causados são igualmente silenciosos. Quando não tratadas atempadamente, a gonorreia e a clamídia podem causar infertilidade, e a sífilis pode causar danos irreversíveis no cérebro, coração e sistema nervoso. O contágio pode dar-se também de mãe para filho, durante a gestação, o parto ou o aleitamento.
O herpes genital é um problema mais frequente, doloroso, e que não deve ser subestimado. Apesar de existirem tratamentos que aliviam os sintomas – lesões ou secreções –, não existe cura definitiva.
As infecções por tricomonas são causadas por um parasita e geralmente não são graves. Contudo, “se não forem tratadas, na mulher há sempre o risco de haver comprometimento a nível das trompas e do útero, podendo progredir por via ascendente”, esclarece Maria do Carmo Rocha e Silva. A infecção ocorre quando se dão alterações significativas do PH da flora vaginal, que é, por norma, ácido. Os sintomas são quase sempre nulos e os efeitos a longo prazo incluem predisposição para contrair ou desenvolver VIH, Sida e cancro cervical.
Existe ainda um vírus com o qual se estima que cerca de 80 por cento da população estará alguma vez em contacto, o que faz dela a IST mais comum do mundo. O HPV (vírus do papiloma humano) provoca, à semelhança das outras infecções, sintomas muito discretos. A consequência mais grave é o cancro do cólo do útero, com mais de 70 por cento dos casos atribuídos ao HPV. Em Portugal, já está disponível uma vacina (Gardasil) capaz de prevenir quatro tipos de HPV, os quais são responsáveis por cerca de 75 por cento dos casos de cancro de colo do útero em todo o mundo. Mas há que ter em conta que existem 100 tipos diferentes deste vírus, pelo que deverá continuar a submeter-se a citologias (ou exames de Papanicolau) regulares para despistar a doença, que não é detectável no sangue.
A Hepatite B, à semelhança do HPV, não tem cura, mas pode ser prevenida. Antes de mais há que evitar comportamentos de risco, como partilhar seringas ou outros materiais cortantes ou perfurantes e ter relações sexuais desprotegidas. Existe uma vacina contra o vírus da hepatite B, o VHB, que normalmente se toma durante a infância, mas que não invalida a adopção de outros cuidados. Os efeitos a longo prazo incluem lesões hepáticas graves e vitalícias, cirrose, insuficiência hepática ou cancro do fígado. A sua detecção é bastante difícil se não forem realizados exames ao sangue.
A pior e mais conhecida consequência dos comportamentos de risco é o HIV. O vírus da Imunodeficiência Humana é responsável pelo desenvolvimento de complicações no sistema imunitário e pelo aparecimento da Sida no último estágio da doença. Pode pensar que já sabe tudo sobre este vírus mortal, mas Portugal é um dos países da Europa com mais casos de HIV-2, sendo que 45 por cento dos mesmos ocorre em residentes de Lisboa. Enquanto o tipo 1 do HIV (HIV-1) é responsável por esta pandemia a nível mundial, o HIV-2 é o agente das epidemias localizadas. É uma ameaça potencialmente mortal, mas, se a pessoa infectada se submeter ao tratamento anti-retroviral adequado e feito na hora certa, é possível nunca vir a desenvolver Sida.
Nunca é demais lembrar que um gesto tão simples como usar um preservativo pode ser o suficiente para salvar a sua vida e a de outros. Hoje em dia, não se pode falar assertivamente em sexo seguro, mas este método é ainda o mais seguro contra as IST. Lembre-se também de que o risco de contrair uma destas infecções nada tem a ver com quem é, mas sim com as escolhas que faz. Proteja-se e desfrute do sexo em pleno.
MITOS E VERDADES
Mito: Não se pode contrair uma IST pelo sexo oral ou anal.
Verdade: Onde há sexo, pode haver IST.
Mito: Se já apanhou uma IST, não poderá voltar a apanhá-la.
Verdade: Pode apanhar algumas IST mais do que uma vez. No caso do HIV, se houver relações sexuais desprotegidas entre pessoas infectadas, existe o risco de reinfecção do HIV, uma vez que existem várias estirpes do vírus.
Mito: Sida e HIV são a mesma coisa.
Verdade: O HIV é um vírus que pode ou não levar ao desenvolvimento da Sida. Uma pessoa pode estar infectada durante anos sem desenvolver Sida, da mesma forma que uma pessoa HIV positiva pode não ser portadora da doença, só do vírus.
Mito: Pode apanhar uma IST numa casa de banho pública.
Verdade: As IST não vivem em objectos inanimados.
