Admitamos que em matéria de felicidade, durante muito tempo acreditámos que esta é “o que nos acontece por acaso, e sobre isso não temos qualquer controlo”, conforme podemos ler no livro de Darrin McMahon Uma História da Felicidade (Edições 70). Hoje conclui-se não só que temos uma palavra a dizer na medida da nossa felicidade como pudemos aprender a fluir nesse sentido. É o resultado de anos de trabalho e de investigação no campo da Psicologia Positiva que nos coloca a possibilidade de sermos felizes como uma responsabilidade que cabe unicamente a cada um de nós.
Autor de um livro como esse mesmo nome e à volta do tema, Mihaly Csikszentmihaly descreve o fluir ou estado de fluxo (Flow) como um estado mental que alcançamos quando nos envolvemos completamente numa actividade, de tal forma que nada mais parece importar. “A experiência em si própria é tão agradável que as pessoas a farão por puro prazer, independentemente dos ‘custos’”, conclui o psicólogo húngaro a residir nos Estados Unidos da América, depois de ter estudado/ observado o envolvimento de dois estudante em diferentes actividades – um fazia os trabalhos para casa (TPC), o outro assistia a um programa de televisão.
RECRIAR OS DIAS
Fluir envolve, segundo Mihaly Csikszentmihaly:
· Actividade desafiante que exija habilidade: requer um certo balanço: actividades muito exigentes produzem ansiedade; actividades pouco exigentes causam aborrecimento
· Metas claras e resposta: uma boa e rápida resposta permite ao indivíduo saber que teve sucesso. Este conhecimento cria ‘ordem na consciência’
· Concentração na tarefa entre mãos: concentração em actividades que dão prazer evita pensamentos preocupantes· Sensação de controlo: aqui o facto de controlar não é tão importante como o sentido subjectivo de exercer controlo em situações difíceis
· Perda de auto-consciência: o indivíduo sente que está concentrado na actividade
. Alteração do tempo: segundos podem parecer horas, e horas podem parecer segundos.Mas já nos anos 60, enquanto estudante, Csikszentmihaly tinha ‘descoberto’ que a felicidade não depende da sorte ou dos acontecimentos externos, mas da percepção que cada indivíduo tem deles. Como tal a felicidade tem de ser cultivada, conclui, sublinhando: “Mas isto não significa que devemos buscar o prazer de forma imprudente. Os melhores momentos não são os de prazer passivo, mas quando nos sentimos entusiasmados com a realização [de actividades] – quando estamos em estado de fluxo.” Dito de outra forma, é o prazer intrínseco que está ligado à felicidade e não a eventuais recompensas externas.
Fluir envolve, segundo Mihaly Csikszentmihaly:
· Actividade desafiante que exija habilidade: requer um certo balanço: actividades muito exigentes produzem ansiedade; actividades pouco exigentes causam aborrecimento
· Metas claras e resposta: uma boa e rápida resposta permite ao indivíduo saber que teve sucesso. Este conhecimento cria ‘ordem na consciência’
· Concentração na tarefa entre mãos: concentração em actividades que dão prazer evita pensamentos preocupantes· Sensação de controlo: aqui o facto de controlar não é tão importante como o sentido subjectivo de exercer controlo em situações difíceis
· Perda de auto-consciência: o indivíduo sente que está concentrado na actividade
A felicidade é algo cognitivo, está na cabeça. Enquanto que a alegria está no coração. A tese é de George Vaillant que acredita no poder das emoções positivas e nas relações duradoiras como factores protectores. O psiquiatra e psicanalista norte-americano defende ainda que a felicidade centralizada exclusivamente no “eu” não resulta. É preciso envolvermo-nos também com o outro, pois é precisamente nesse envolvimento que reside a melhor fonte de emoções positivas. Pondo em causa a felicidade material, tão presente no nosso tempo, Vaillant convida-nos a pensar ao fim de cada dia no que nos possibilitou fazer algo positivo ou pelo qual nos encontramos gratos.
Martin Seligman, um dos pais da Psicologia Positiva, autor do livro Authentic Happiness (Paperback), sugere igualmente este caminho de reflexão diária do bom que nos acontece. É um dos passos incluídos no exercício das 3 bênçãos, que consiste em identificar diariamente 3 coisas boas que nos tenham acontecido e nos tenham feito sentir abençoados. Paralelamente desafia-nos a viver e apreciar cada momento com intensidade. Seligman defende, assim, o que ele próprio chama “comportamento voluntário” rumo à felicidade. Independentemente da nossa história pessoal, do que nos aconteceu ontem, e do que o futuro nos possa trazer.
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Cultivar a felicidade é também o ‘emblema’ de Richard J. Davidson, outra referencia na psicologia da felicidade. O especialista defende que mesmo sem ter em conta a medida da nossa predisposição para a felicidade, “é possível vir a desenvolver uma atitude mais feliz”.
Aprender a fluir para vencer a resistência às mudanças ( e ser feliz) é uma proposta recorrente nos nossos dias. São tema de workshops internacionais, sobretudo nos Estados Unidos da América, que agora também começam a chegar a Portugal. O Centro de Psicoterapia Somática em Biossíntese (C.P.S.B) fez recentemente um, que reuniu cerca de três dezenas de participantes.
É uma oportunidade para analisar, explorar e reinventar atitudes e crenças, e começar a fazer escolhas e tomar decisões de acordo com as nossas paixões, desejos e compromissos.
A psicóloga e psicoterapeuta somática Maria del Mar Cervantes, presidente do Centro, lembra que a felicidade não é absoluta. “É impossível ser feliz permanentemente, e é precisamente isso que nos faz envolver. Ser feliz é um estado, não é uma condição. Precisa ser mimada, regada e cuidada. Ela é individual e única, não pudemos fazer a felicidade do outro”.
Nesta linha de raciocínio, a psicoterapeuta, chama a importância para a “coerência do ‘eu’”: é desejável que cada um se mantenha fiel a si próprio, “cuidar do seu caminho” com aquilo que é, caso contrário vai ficar “angustiado e sentir-se perdido”. E a este propósito, mais adiante na sessão, lança a questão “o que fariam se fossem livres, não tivessem limitações de dinheiro e de tempo?” – restrições normalmente nomeadas.
A mensagem é validada: antes de mais, importa descobrir quem somos, e isso cabe exclusivamente a cada um de nós. “A aceitação da realidade” é o passo seguinte. A aceitação sem ideias pré- concebidas. E logo depois “aceitar com entendimento”. Explica: “Não é aceitar porque não tenho outro remédio, mas porque entendo, de facto, com serenidade, seja o que for.” Pode ser a atitude de uma pessoa, ou a ruptura de uma relação, entre outras coisas. “Temos o direito à indignação, quando acontece algo que não controlamos e planeamos, mas temos que aceitar”, observa.
O CAMINHO PARA A FELICIDADE
Cinco sugestões a seguir:
.Cuidar do corpo e da mente, o que passa por levar uma vida saudável (alimentação equilibrada e exercício físico)
. Envolvimento em actividades que dão prazer (atingir estados de fluxo)
. Exercitar emoções positivas e alimentar relações duradouras
. Generosidade com os outros é fundamental: o que fazemos tende a reverter a nosso favor
. Evitar comparações sociais, sobretudo com pessoas que estão numa situação de vantagem económica e social, por exemploFluir permite estar em consonância com todos os nossos sentidos, segundo Maria del Mar Cervantes que propõe este encontro de cada um [dos presentes] consigo mesmo, “como o seu cuidador interno verdadeiro. Descobrindo-me realmente e cuidando-me para fluir e sentir felicidade.”
Cinco sugestões a seguir:
.Cuidar do corpo e da mente, o que passa por levar uma vida saudável (alimentação equilibrada e exercício físico)
. Envolvimento em actividades que dão prazer (atingir estados de fluxo)
. Exercitar emoções positivas e alimentar relações duradouras
. Generosidade com os outros é fundamental: o que fazemos tende a reverter a nosso favor
Das diferenças entre felicidade e desejo, a psicoterapeuta diz: “No desejo eu estou constantemente a sair do meu estado para procurar o que me falta, para ter felicidade. Quando na verdade, quando estou bem comigo mesmo as coisas surgem. Fico disponível, onde quer que esteja, para o que a vida me tenta dar.” E concluindo o tema do encontro que é felicidade, fluir e ser, assegura: “Sem entrar em contacto com o nosso ser não vai ser possível fluir e sermos felizes. Mas para isso é preciso tirarmos as ‘camadas’ que nos cobrem – falsas visões de nós próprios que nos incutiram e se transformaram em auto-enganos, impedimentos, sofrimentos e frustrações – as quais não nos permitem ver quem verdadeiramente somos: o nosso ‘eu’ profundo. É preciso fazer a paz com o passado e fluir para a felicidade!