Há quem os utilize regulamente na cozinha e são o grande paliativo da indústria alimentar que usa e abusa dos aditivos alimentares para conservar, aromatizar, dar cor, intensificar o gosto ou até criar novos sabores. O problema? Alguns são tóxicos e provocam doenças.
06 de setembro de 2015 às 12:00 Máxima
Gomas, gelatinas, rebuçados, bolachas e bolos coloridos, pastilhas elásticas, gelados, chupas, refrigerantes, batatas fritas de pacote e tantos outros snacks. Não há criança que lhes resista. É assim nos dias de festa e nos aniversários dos amigos. Mas também são aquelas as guloseimas que os filhos pedem quando acompanham
a mãe ou o pai ao supermercado. Preocupados com os malefícios do açúcar, que todos associam à obesidade e à diabetes, os pais resistem como podem à pressão dos filhos e da publicidade. Mas o que muitos desconhecem é que o açúcar é apenas um entre os muitos venenos igualmente usados no fabrico de diversos produtos alimentares infantis. "Alguns corantes artificiais são tão ou mais prejudiciais do que o açúcar. Muitos são tóxicos e o seu consumo está associado à hiperatividade infantil, crises de asma, urticária, eczema, dores de cabeça", esclarece a nutricionista Daniela Seabra que, entre outros, desaconselha totalmente a ingestão de produtos que contenham tartrazina ou E102 (confere cor amarelo-limão), vermelho cochonilha A, também conhecido como ponceau red ou E124, e azul brilhante ou E133.
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A especialista em nutrição funcional na Clínica Cristina Sales, no Porto, explica que é longa a lista dos corantes que prejudicam a saúde, mas lembra que já é clara a relação entre os corantes E124 e E102, ambos usados no fabrico de gomas, gelatinas e outros produtos alimentares destinados às crianças, e a hiperatividade: "Alguns fabricantes mais conscienciosos já advertem para esse efeito em embalagens, por isso os pais devem estar atentos aos rótulos dos produtos que adquirem." Os corantes não são o único aditivo que merece preocupação na alimentação infantil. Daniela Seabra fala também no ácido fosfórico, um conservante usado em muitos alimentos e bebidas (refrigerantes) consumidos diariamente, incluindo os cereais de pequeno-almoço. "Os seus efeitos de estimulante cerebral são claramente conhecidos e agora sabe-se que, em certas concentrações, é neurotóxico. As crianças que todos os dias comem cereais processados ao pequeno-almoço estão a ingerir quantidades enormes de ácido fosfórico, o que pode ter consequências graves a médio e longo prazo", adverte a especialista.
Outro aditivo extremamente nocivo é o glutamato monossódico (E621), um intensificador de sabor que está presente em quase toda a comida processada (bebidas, bolachas, caldos, molhos, sopas, etc.) e que é estimulante e tóxico para o cérebro: "Pode provocar degenerescência cerebral e dificuldades cognitivas em todas as idades." Daniela Seabra alerta que o glutamato monossódico "ainda é usado em refeições servidas em refeitórios escolares que não têm nutricionista – sei de alguns infantários e escolas onde as cozinheiras se recusam a usá-lo – e em diversos restaurantes de todo o país". Outro dos problemas do E621 – também conhecido como "o Salvador" dos preparados e produtos alimentares, incluindo os que são confecionados com ingredientes de má qualidade, pois confere um sabor especial e permite que a comida fique saborosa com pouco esforço – é que cria habituação: "As papilas gustativas acostumam-se à intensidade do estímulo e, com o uso continuado, os alimentos isentos de glutamato monossódico parecem saber a… nada."
decrescente da quantidade (se comprar um hambúrguer e o primeiro ingrediente da lista não for carne, já sabe que não é o que procura. O mesmo se aplica a um panado de peixe) e os nomes das substâncias suscetíveis de causar alergias ou intolerância alimentar (leite, trigo, ovos, peixe, soja, aipo, mostarda, sésamo, etc.)
estão destacados. Todavia, a declaração nutricional não é obrigatória, entre outros, para edulcorantes de mesa, gelatinas e pastilhas elásticas, precisamente alguns dos produtos constituídos por aditivos que podem ser tóxicos.
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De acordo com Daniela Seabra, "o glutamato monossódico ficará para a história da comida processada como a substância responsável pela criação do sabor Unami, o chamado quinto gosto – além do doce, azedo, amargo e salgado. Serve para reforçar a capacidade de saboreio das papilas gustativas". Outro problema de dimensão ainda pouco clara, adianta a nutricionista, são as consequências da interação de vários aditivos a longo prazo, mas o risco de toxicidade que pode advir com o efeito cruzado é sério e real: "As hipóteses em estudo apontam para o aumento da inflamação sistémica, alteração da capacidade de desintoxicação do fígado e alterações na forma como algumas das nossas células funcionam ou como alguns dos nossos genes são lidos."
OS CORANTES QUE FAZEM BEM
A
escolha de Daniela Seabra, nutricionista funcional.
> CURCUMINA OU E100 > Composto de cor amarela obtido a partir da curcuma longa (ou açafrão das Índias). É antioxidante, anti-inflamatório, estimula a libertação de bílis e têm-lhe sido atribuídas propriedades anticancerígenas.
> RIBOFLAVINA OU E101> É o outro nome da vitamina B2. Corante de cor amarelo vivo, ajuda no metabolismo das proteínas, gorduras e hidratos de carbono; é importante na formação de células do sangue e para manter a pele, cabelo e unhas saudáveis.
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> CLOROFILAS, CLOROFILINAS OU E140> A clorofila, que dá a cor verde às plantas e permite a fotossíntese, também favorece a oxigenação. É rica em magnésio e ajuda na formação do sangue.
> COMPLEXOS CÚPRICOS DA CLOROFILA OU E141> Também é clorofila – a indústria alimentar substituiu a molécula de magnésio por uma de cobre para aumentar a sua estabilidade nos produtos alimentares. É preferível a versão original, o E140.
> CAROTENOS OU E160A> Compostos que dão a cor laranja à cenoura – os carotenos ou pró-vitamina A. Bons para a visão, para o sistema
imunitário e para um crescimento adequado.
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> EXTRATO DE PIMENTÃO OU E160C> De cor avermelhada, rico em capsantina e capsorubina, dois fitoquímicos de elevado poder antioxidante.
> LICOPENO OU E160D> Também tem cor avermelhada, responsável pela cor vermelha do tomate. É um importante antioxidante.
> XANTINAS OU E161> Grupo que inclui diferentes compostos fitoquímicos, com capacidades anticancerígenas e antioxidantes: por exemplo, as flavoxantinas (E161a), a luteína (ou E161b), a criptoaxantina (ou E161c), a rubixantina (ou E161d), a violaxantina (ou E161e), a rodoxantina (ou E161f) e a cantanxantina (ou E161g).
> VERMELHO DA BETERRABA, BETANINA OU E162> De cor avermelhada, com origem na beterraba e ação antioxidante.
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> ANTOCIANIDINAS OU E163> De cor avermelhada, azul ou roxa, é um dos compostos presentes nos frutos silvestres (amoras, framboesas, mirtilos e arandos). Tem efeitos antioxidantes.
> CARBONATO DE CÁLCIO OU E170> É muito importante para o desenvolvimento da massa óssea e dentição.