Quando estou chateada tendo a ir para o Centro Comercial fazer compras para mim… roupas, sapatos, etc… de modo geral gastos supérfluos. Sempre o fiz e achava normal e até dizia que era terapêutico, mas na última semana o meu marido achou que estava a gastar demais, dizendo que as minhas compras estavam a ir além do normal. De facto gastei um pouco mais que o habitual, porque me entusiasmei com um vestido que vi na montra… será que tenho um problema?
Cara Sílvia, antes de mais gostaria de sublinhar e valorizar o facto de haver abertura para discutirem estas questões em casal, com aquilo que pode ser uma preocupação positiva pelo bem-estar de cada um. A informação que disponibiliza naturalmente não me habilita a referir se existe ou não um problema, em termos de patologia, mas irei deixar alguns pontos sobre este tema que poderão acrescentar à vossa reflexão partilhada.
As compras são muitas vezes sentidas como uma forma de terapia, isto é, de alívio num momento de mal-estar, seja por tristeza, depressão, vazio, frustração ou irritação. Se é um facto que no imediato podem trazer algumas emoções positivas, estas podem estar a contribuir para uma fuga a enfrentar essas mesmas emoções. É assim importante distinguir momentos de fuga, sem impacto maior no bem-estar individual e familiar (momentos pontuais e pouco frequentes, em que se fazem compras por impulso em lojas ou online, sem impacto nas finanças pessoais e sem impedir que haja posteriormente um momento de reflexão sobre as emoções de base e definição de estratégias para lidar com as mesmas) de algo mais regular e de maior gravidade.
Se todas as pessoas poderão ter tido um momento de compras por impulso, muitas referem o prazer no objeto comprado e até podem referir que se tratou de um gasto desnecessário mas sem impacto nas contas pessoais e/ou familiares. Poderemos perceber que há sinais de alerta quando comprar passa a ser, não um entusiasmo pontual com dado objeto, mas sim uma forma regular de alívio de uma tensão emocional que não se está a conseguir enfrentar, passando este a ser um padrão de comportamento. Nestes casos, quando podemos falar de um comportamento mais compulsivo em relação às compras, podemos chegar a uma situação em que o que se compra deixa de ser importante, havendo compras frequentes de objetos que podem nem chegar a ser usados. Nestas situações, o objetivo está no ato de comprar mais do que no ter. É ainda de referir que muitas pessoas que sofrem desta compulsão, tendem a gastar mais do que podem, com gastos acima do que ganham, com implicações nas finanças pessoais e familiares, descontrolo frequente com cartões de crédito, e muitas vezes com mentiras a familiares e amigos, escondendo mesmo o que se comprou. Estes impulsos nas compras são frequentemente acompanhados de sentimento de culpa, sendo que os pensamentos em torno das compras ocupam parte significativa do tempo útil das pessoas em questão. Nestas situações podemos estar perante uma situação de oniomania, o termo clínico utilizado para as situações referentes a compras compulsivas com consequências adversas. De modo geral, são os familiares a dar os primeiros sinais de alerta, à medida que se apercebem dos excessos – quer pelo impacto no orçamento familiar, quer na gestão de emoções e relações do comprador – e é um processo até o próprio assumir o descontrolo do comportamento de comprar.
Assim, há que refletir sobre se as compras que efetua fazem parte de situações pontuais sem impacto maior - em que a sugestão será de evitar concretizar as compras que considera supérfluas no momento em que vê o produto (refletir se é oportuno, eventualmente com alguém de sua confiança, e esperar alguns dias até decidir, e não fazê-lo num momento de transtorno emocional percebido), fazer uma lista do que pretende comprar e de quanto pretende/pode gastar nesse mês, ou nessa ida ao Centro Comercial – ou se sente que se trata um comportamento repetido e com consequências negativas em termos financeiros, familiares e/ou profissionais (gastar mais do que pode, ficar muito ansiosa em relação às compras, pensar muitas vezes nas compras, despender muito tempo online em sites de compras ou em idas a lojas e centros comerciais, etc.)… Nesse caso, ou na dúvida, fica a recomendação de consultar um profissional de psicologia que poderá ajudá-la a encontrar formas de gerir emoções e, naturalmente, encontrar estratégias para prevenir esta situação.

