Pela estrada fora
Jessica Athayde, Maya Booth, Vera Kolodzig e Diogo Amaral contam-nos os segredos sobre as suas viagens.

Há quem parta com o namorado, com uma amiga e há quem viaje sozinha. Qualquer uma destas opções pode revelar-se um desafio, mas todas podem ter um final feliz. Recordamos três viagens que, pelo menos na memória, vão durar para sempre...
JESSICA ATHAYDE, 29 ANOS
"VIAJAR SOZINHA ERA ALGO QUE TINHA DE FAZER"
Para onde quer que vá, a sua pulseira de linha mantém-se no pulso direito, como que a recordar-lhe uma das histórias mais emocionantes que teve oportunidade de viver nas suas viagens a solo. Em dezembro do ano passado, em Ubud (Bali, Indonésia), um dos locais onde revela ter sido mais feliz, Jessica deparou-se com um taxista que dizia chamar-se Ketut.
"O mesmo nome do curandeiro do filme Comer, Rezar, Amar", comentou a atriz. Dos quatro habitantes de Ubud chamados Ketut, este não era o curandeiro de Julia Roberts, mas o taxista demorou apenas dez minutos a levá-la até ele. A fotografia está no seu blogue, Jessy James, onde partilha algumas das suas últimas aventuras pelo mundo. As viagens sempre fizeram parte da sua vida. Ser filha de mãe inglesa e pai português originou desde muito cedo voos entre Lisboa e Londres, onde cresceu até aos 11 anos. Regressou para viver em Portugal, mas nem por isso deu descanso ao passaporte. Continuou à descoberta da Europa com a família e, mais tarde, com as amigas, fez a sua primeira viagem ao Brasil: "Tinha a ideia das praias e do paraíso das novelas da Globo e queria muito conhecer o Rio. Foi uma desilusão." Depressa a sua curiosidade mudou das Américas para a Ásia e a coragem de se meter sozinha ao caminho surgiu no ano passado. Bali, onde conheceu Ketut, foi a primeira experiência: "Acabei por estar com muita gente conhecida em Bali. Por isso, esta foi como que uma viagem interior de preparação para a Tailândia." Porquê Tailândia? "Porque sabia que era um local que estava preparado para receber mulheres que viajam sozinhas de mochila às costas, porque tem a vertente dos templos e meditação e, por outro lado, opções para fazer mergulho", conta.
"Não pensem duas vezes."
Não esquecer de levar...
"Um cartão de crédito. Mas eu nunca levei."
Um livro para a viagem...
E foi na praia, com água a 30 graus, em Koh Samui, que Jessica Athayde começou o ano de 2015: "A melhor passagem de ano da minha vida. Precisava de uma folga. A minha personagem (em Mulheres, transmitida pela TVI) tinha sido muito intensa. Decidi então viajar sozinha, algo que achava que tinha de fazer pela primeira vez na vida." Partiu sozinha mas, conta, quem faz uma viagem a solo conhece um mundo inteiro de gente. Jessica ainda acompanha os passos, pelas redes sociais, dos viajantes com quem se cruzou e que prosseguem a sua viagem de um ano pelo planeta. Recorda o casal de portugueses que abriu uma hamburgueria em Koh Phangan, onde lhe deram abrigo, oferecendo assim uma alternativa aos hotéis que "não eram para o meu bolso". E não esquece o holandês e a espanhola que tinham começado a viajar juntos após se conhecerem no hospital devido a uma intoxicação alimentar. Jessica comeu de tudo um pouco, experimentando desde raw food a refeições mais típicas. Só deixou de comer chocolate: "Em Chiang Mai, Tailândia, eis que um dia de manhã a mota que eu tinha alugado não estava lá. Teria de pagá-la? E se viesse a polícia, o que se passaria? Fiz então a promessa: se a mota aparecesse, deixaria de comer chocolate até ao fim da viagem. Felizmente, tudo acabou por resolver-se — uns espanhóis tinham levado a minha mota por engano."
Foi um susto, mas nem por isso o episódio a levou a ponderar suspender a aventura: "É ótimo viajar sozinha. Se quero ler, leio, se quero atender o telemóvel, atendo. Quando se viaja sozinha, vamos onde queremos e onde nos apetece. Ninguém ‘empata ninguém." Neste momento, as gravações para a novela Santa Bárbara, da TVI, vão obrigar Jessica a um curto intervalo por Portugal, mas Timor já é um destino pensado. Aqui, Jessica tenciona integrar um programa de voluntariado e depois... quem sabe com que aventuras irá retribuir o sudeste asiático.
MAYA BOOTH, 31 ANOS
"TRÊS MESES EM VIAGEM ACABA POR SER UM TESTE À AMIZADE"
No Instagram de Maya Booth há pelo menos uma fotografia que terá o poder de traçar o rumo de muitas viagens. Parece cinematográfico aquele balouço sobre a água legendada como blue lagoon. As tonalidades verdes existem naquela natureza selvagem e as duas personagens que se equilibram neste cenário empolgante garantem que o paraíso é real. Algures na Ásia. O destino foi consensual.
Maya Booth e Soraia Chaves decidiram que, após um ano intenso de gravações (da telenovela Dancin’ Days, SIC), mereciam umas férias grandes. E, há dois anos, reservaram três meses para descobrir a Tailândia, o Laos e a Indonésia. Nunca antes tinham viajado juntas, mas havia fortes indícios de que tudo podia correr bem. Maya e Soraia conheceram-se precisamente numa viagem, em Luanda, a propósito das gravações de Voo Directo, que proporcionaram também alguns passeios. E Maya tinha já a experiência de uma viagem longa. Há uns anos, partiu em digressão com a banda inglesa James (Maya é sobrinha do ex-vocalista, Tim Booth) e durante três meses percorreu os Estados Unidos de autocarro: "Foi inesquecível, pela viagem e pelo ambiente. Todos os dias a ouvir música..."
"Eu aconselharia antes um bar: Sunset bar, em Koh Kood, Tailândia. Tem uma senhora maravilhosa que cozinha para nós e nos dá indicações excelentes."
Um conselho para quem viaja com uma amiga...
"Ouvir o ritmo do outro. Seguir os instintos. Estar disponível para a aventura e experiências."
Uma descoberta na cozinha...
"O picante. Antes de viajar para a Ásia, não gostava de picante. Mas passei a viagem toda a comer picante. Praticamente todos os dias."
Na viagem à Ásia, há também uma música que ainda hoje ajuda a imortalizar os melhores momentos: "Demon Host, de Timber Timbre", conta Maya. E os melhores momentos não cabem no Instagram. Maya começa pela preparação da viagem: "Fomos as duas às compras. Trouxemos uma rede antimosquitos, cadeado e, entre tanta coisa, onde gastámos mais dinheiro foi na farmácia, com repelente, protetores solares, etc." Ainda assim quando Maya fez a mochila, ficou contente com o resultado. "Queria levar o essencial e fazer uma mochila leve para transportar de um lado para o outro." E assim foi. Menos rigoroso foi o planeamento da viagem: go with the flow foi o lema e abriu os horizontes à aventura.
"Os percalços começaram logo no primeiro dia. Queríamos tanto sair da confusão de Banguecoque e chegar a um local paradisíaco com praia e uma cabana e acabámos fechadas num carro, avariado e sem ar condicionado", recorda Maya. A atriz sofreu ainda um acidente de mota e foi aconselhada pela médica a não ter contacto com a água. Missão impossível. "Além dos locais, conhecemos gente maravilhosa. Quando fazemos uma viagem de autocarro de dez horas, isso é inevitável. Houve ainda um passeio de barco que fizemos pelo rio Mekong, a jogar e a divertirmo-nos com uns passageiros do banco da frente", recorda. Em três meses de viagem, a atriz conta que fizeram várias amizades. E ao contrário do que muitas vezes acontece, reforçou a sua com Soraia: "Sim, três meses em viagem acaba por ser um teste à amizade. Nunca nos aborrecemos. Apesar de termos passado muito tempo juntas, estávamos muito independentes. Se um dia me apetecia fazer algo mais radical e a Soraia preferia ficar na praia, despedíamo-nos de manhã e só voltávamos a encontrar-nos ao final da tarde. Foi o que aconteceu na Tailândia, quando quis um dia fazer caiaque", refere. E apesar da distância e de um mundo novo, Maya nunca se sentiu sozinha: "Também nunca me senti insegura. Há uma generosidade muito grande das pessoas, nomeadamente dos locals. Na viagem, achavam graça à combinação dos nomes e chamavam-nos por Maya & Soraia!" Maya tenciona regressar à Ásia. Onde aprendeu a gostar de picante e onde descobriu as paisagens selvagens como as do Laos, um dos locais que mais gostou de conhecer. "A Ásia permite-nos passear facilmente entre ilhas e oferece a possibilidade de se ficar alojado num hotel em cima da praia, como aquele em que ficámos nas Gili Islands, Indonésia, por quatro euros/noite", recorda.
VERA KOLODZIG E DIOGO AMARAL, 30 E 33 ANOS
"O SEGREDO É A ESCOLHA DO ELENCO"
Há oito meses juntos. Uma primeira viagem de quatro meses ao outro lado do mundo. Uma mochila. Uma viagem de partida. Uma única estada de hotel marcada. Esta viagem dava um livro. E deu, depois de vários comentários acerca de um livro que ainda nem existia.
"Um dia, ligaram-me de uma revista a perguntar pelo nosso livro e a oferecerem-nos todo o apoio para a publicação. Cheguei a casa e disse à Vera: 'Vamos fazer um livro? " Assim nasceu o Nós por aí: Diário de uma viagem ao outro lado do mundo, que começa com um dos momentos mais empolgantes entre muitos outros vividos em mais de 100 dias pelo sudoeste asiático. Diogo e Vera contam que dão prioridade aos passeios menos turísticos e mais remotos, e foi assim que acabaram perdidos numa gruta especial(mente) isolada. "A única solução era saltar de seis metros de altura para junto dela (Vera), para a pedra minúscula onde ela me esperava. Ela não queria: ‘Não saltes, não saltes, gritava lá de baixo. Saltei." A aventura teve um final feliz. À semelhança de outros episódios mais arriscados da viagem, como o autocarro cheio de tailandesas que seguia na direção oposta à que desejavam ou o jogo de apostas em que participaram no Camboja e onde a única mulher do grupo (Vera Kolodzig) começou a ganhar mais do que os restantes elementos gostariam. "Até eu comecei a ficar maldisposto", sorri Diogo.
"Um moleskine (na mochila da Vera) para ir tirando notas sobre a viagem."
A praia da vossa vida...
"Hat Yao, na Tailândia. Podem tentar lá ir. Mas avisamos que vai ser difícil: o acesso é feito com água pela cintura, em maré baixa, e fica localizada entre rochas."
Uma experiência...
"Duas. Nadar com os tubarões-baleia e assistir ao pôr-do-sol num templo no Cambodja."
Um conselho para viajar a dois...
Momentos complicados de gerir aconteceram ainda em muitas viagens que fizeram juntos. Diogo e Vera recordam por exemplo aquele a que chamam "o sítio mais remoto", Madagáscar, e é com muito sentido de humor que recuperam a viagem de sete horas de autocarro que fizeram para percorrer apenas 120 quilómetros. Pormenor: em vez de nove pessoas, a viatura levava 21, além das galinhas e espingardas. Tudo voltou a acabar em bem.
Qual é afinal o segredo para viajar a dois: "O segredo é a escolha do elenco. Como acontece com tudo na vida. E as personagens têm de estar bem definidas. Cada um tem uma função na história. E eu respeito muito a personagem da Vera e ela respeita muito a minha personagem. E, no final, acaba tudo bem, como sempre." Diogo conta que a função de Vera é organizar. E a sua mochila bem arrumada por compartimentos é um bom exemplo. Diogo desorganiza, pisa o risco. E a sua mochila, confessa, é feita com muito menos método. Diferenças à parte, são ambos fãs da adrenalina. Não fosse assim, não teriam feito snorkeling em Ko Mak, na Tailândia, não se teriam aventurado a nadar até à escondida Secret Beach, na ilha Matinloc, nas Filipinas, e teriam perdido uma das experiências que consideram das mais especiais da viagem. "Foi numa revista de avião que descobri que se podia nadar com o tubarão-baleia em Donsol, a leste das Filipinas. Não consegui deixar de pensar nisso durante toda a viagem", partilha Diogo no livro. "Somos uns sortudos. Num só dia, num só mergulho, vimos sete-tubarões baleia. Foi brutal! (...) Fiquei toda a tarde em êxtase", recorda.
Vera e Diogo contam que os compromissos profissionais impediram o prolongamento desta viagem. Por alguma razão, optaram por comprar apenas bilhete de ida: "Queríamos partir com uma sensação gigante de liberdade." Os atores, que começaram a planear a viagem nas gravações da novela Espírito Indomável, defendem que viajar é o melhor investimento: "É a única forma de gastar dinheiro e ficar mais rico." Juntos já viajaram a Cabo Verde e atravessaram Moçambique. O dinheiro que Diogo ganhou com os primeiros trabalhos foi quase todo gasto em viagens. Brasil, Índia, Macau e Hong Kong são alguns dos carimbos do seu passaporte. Vera começou a viajar aos 18, e entre viagens a solo e com amigos, visitou a Tanzânia, fez voluntariado no Quénia e já viveu em Londres e em Nova Iorque. Juntos preparam agora uma nova viagem. Na altura, o pequeno Mateus terá nove meses e um dia ficará certamente feliz por saber que foi incluído na próxima aventura.
