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O sentido de humor é sempre positivo?

Carla, 33 anos, Vila Nova de Gaia.

16 de setembro de 2015 às 15:56 Dra. Catarina Rivero

Tenho a ideia de que sou uma pessoa divertida e bem-disposta, mas ultimamente sinto-me muito incompreendida. Em várias situações as pessoas dizem que sou sarcástica e que as ataco. Acho que não percebem o meu humor. Até porque uma boa gargalhada é uma forma, para mim, de gerir os múltiplos stresses do dia-a-dia. Não é suposto o sentido de humor ser positivo? Estou eu errada ou os outros é que andam sem sentido de humor nenhum? 

 

Viva Carla, parece-me excelente cultivar o sentido de humor e, mais ainda, refletir sobre a forma de estar nas relações com os demais. A partir da questão que coloca, não terei, naturalmente, uma resposta para um "certo" ou "errado", mas deixarei uma reflexão sobre o sentido de humor e seu impacto nas relações interpessoais.

O sentido de humor tem variados benefícios a nível individual e social. Se por um lado nos ajuda a ganhar perspetiva sobre as situações e a apreciar a vida – e, de acordo com vários estudos, com benefícios na saúde física e emocional -, por outro, pode ligar-nos aos outros quando conseguimos rir e brincar em conjunto, trazendo leveza e descontração a momentos partilhados.

Assim, há evidências no sentido de que cultivar o sentido de humor pode trazer-nos um maior bem-estar, permitindo-nos rir de nós próprios e mesmo com os obstáculos que nos podem surgir, ajudando a alguma flexibilidade de pensamento que poderá potenciar possibilidades de desfrutar do quotidiano, bem como de encontrar soluções para eventuais problemas. 

Do ponto de vista relacional, é também um fator positivo, seja nas relações conjugais, de amizade ou profissionais. Rir em conjunto é uma forma de fortalecer relações, quando os implicados no momento de humor partilham da mesma visão, e da perspetiva cómica da situação. Com humor, mais facilmente podem relevar momentos de tensão, ou criar novas perspetivas de futuro conjuntas, mais agilizadas, seja em casal, família ou equipa.

Todavia, temos de considerar as diferentes sensibilidades e quando e como pode ser oportuno o humor, já que aquilo que se pode apresentar como divertido para nós, pode ferir a suscetibilidade das pessoas com quem estamos a conversar. Se considerarmos alguém numa fase mais sensível, pode ficar magoado mais facilmente com uma brincadeira de um colega, amigo ou mesmo familiar, e cuidar das relações é também estar atento ao outro, na sua disponibilidade e humor, evitando que se sinta criticado (quando não é esse o objetivo). Tal acontece quando se fazem piadas porque alguém está triste por algo que para outros pode ser ridículo ou cómico, podendo nessas situações haver lugar a brincadeiras ou piadas com impacto negativo (seja dirigido a uma criança ou a um adulto, é importante respeitar o sentimento manifestado, a bem das relações e do bem-estar dos nossos interlocutores – recordo aqui a importância, por exemplo, dos pais respeitarem o choro das crianças e jovens, mesmo que considerem engraçado, e ajudá-las a lidar com a tristeza mais do que deixarem de validar a liberdade de sentir).

Por outro lado, há ainda que considerar as diferentes qualidades de humor. Vários autores têm considerado diferentes qualidades de humor, sendo que entre o humor positivo e o humor destrutivo (sarcasmo) há naturalmente diferenças no impacto (e, muitas vezes, na intenção). Lembrar que o humor positivo é aquele que considera uma visão cómica partilhada, e com leveza, e que o sarcasmo é muitas vezes – e se for utilizado recorrentemente – uma forma de agressividade. Por exemplo, um casal pode beneficiar de alguma "picardia" com piadas, mas é muitas vezes em situação de crise que manifestam o exagero no sarcasmo ("facadinhas"), nomeadamente em público. Quando em equipa, se um elemento for muito sarcástico, pode acabar por afastar outros colegas e impedir até relações de maior proximidade/intimidade.

O humor pode assim ser positivo, manifestar e potenciar a criatividade de quem o cria, mas é preciso ter em atenção as nossas intenções. Quando estamos a fazer uma sátira ou crítica social, naturalmente que as piadas são mais incisivas para ter o impacto social esperado. Nas relações pessoais irá ser tanto mais positivo quanto considera e inclui a sensibilidade de todos os implicados. Rir em conjunto é assim uma arte de todos os que fazem as relações acontecer.

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