
Estou casada há quatro anos e no início tínhamos algumas dificuldades financeiras, pelo que todo o dinheiro que ganhávamos tinha mesmo que ser muito bem gerido (mas corria bem!). Depois ambos fomos promovidos e começámos a ter mais dinheiro e, ao contrário do que esperava, as discussões começaram a surgir. Acho que devemos poupar para futuras eventualidades (até porque planeamos ter filhos e a saúde dos meus sogros também não está em alta), mas o meu marido acha que estou paranóica e que temos mesmo é de aproveitar a vida, com viagens, mudar de carro, etc. Qual a melhor forma de nos organizarmos? Lúcia, 32 anos, Braga.
Cara Lúcia, muito obrigada pela sua questão e partilha, já que é um tema que muitos casais têm de enfrentar. A forma de gerir o dinheiro pode ser uma fonte de discórdia e desafiar o equilíbrio conjugal, se não for ponderada rumo a soluções conjuntas.
Muitas vezes os casais, nos tempos de namoro, não conversam sobre o tema do dinheiro – possivelmente por ser um tema menos romântico ou condizente com a aura do estado da paixão. Todavia, se para muitos casais há um entendimento tácito, cedo ou tarde, pelos mais diversos fatores, podem surgir mudanças que implicam que o casal tome decisões. Entre esses fatores, podemos encontrar o nacimento dos filhos, desemprego de um dos elementos do casal ou pais/sogros, doença, mas também aumento de rendimento. Ao contrário do que possamos intuir, o aumento de rendimentos de um ou dos dois elementos do casal pode trazer discordâncias face à nova gestão a ser feita e muitos conflitos nas decisões a tomar, não obstante aumentar o leque de possibilidades e conforto financeiro da família. Outros temas apontados por muitos casais passam por ter ou não empregada, número de carros, escolas públicas ou privadas, pertinência ou não de seguros de saúde e naturalmente, planos de poupança a fazer.
Que soluções? Não existem soluções ideais para todos os casais. Há a considerar vários fatores, nomeadamente as características e preferências individuais. Os casais que melhor gerem a relação, no tocante às finanças mas não só, são aqueles que conversam abertamente e respeitam as diferenças. O risco maior passa por quando um dos elementos considera que tem a verdade na mão (mesmo que bem aconselhado por um especialista em gestão de finanças), e não permite que o outro tenha uma perspetiva diferente. Nas finanças ou em outros temas é sempre um desafio quando há divergências em pontos que têm de ser decididos conjuntamente. O bem-estar conjugal passa então pela flexibilidade e aceitação do outro, co-criando uma dinâmica em que ambos participem e se possam ajustar. Neste tópico específico, até pode passar por consultarem um ou mais especialistas em finanças pessoais, mas é na relação que as decisões serão tomadas. Há casais em que as contas são separadas e que ambos contribuem com o mesmo montante para as despesas mensais, outros em que há apenas uma conta conjunta, casais que optam por colocar uma parte significativa do seu rendimento mensal numa conta a prazo, outros que preferem outras opções.
A questão é considerar que, de facto, falar de dinheiro pode ter impacto emocional, até pelo que representa, enquanto símbolo de segurança e poder. Críticas à forma de gestão de finanças pode levar a muito mal-estar, e ambos os elementos do casal podem sentir-se postos em causa quanto à sua capacidade também de garantirem segurança da sua família, para além da liberdade de decidirem quanto ao estilo de vida que querem levar.
Face a divergências nesta temática é assim importante criar espaço de reflexão conjunta, de modo a partilhar expectativas, prioridades, bem como receios. Estudar diferentes possibilidades a partir das perspetivas comuns e divergentes, considerando as despesas fixas e o rendimento que vai além dessas obrigações, de modo a fazer um plano familiar, em que ambos os elementos do casal participam e discutem. A transparência é aqui fundamental para que o plano seja ajustado às reais necessidades e expectativas de cada um dos elementos do casal.
Se os conflitos se mantiverem nesta área, pode ser útil recorrer a um terapeuta familiar que vos poderá ajudar a gerir a relação nestas divergências, de modo a encontrarem soluções partilhadas e poderem usufruir de harmonia conjugal.
