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"É um evento de empreendedorismo sénior feminino"
O festival Judaica - Mostra de Cinema e Cultura arranca já no dia 28 de março, em Lisboa. Recordamos a conversa que tivemos com Elena Piatok, a fundadora do evento.

Nesta 5.ª edição, o festival Judaica – Mostra de Cinema e Cultura divide-se entre Lisboa (28 de março a 2 de abril), Cascais (6 a 9 de abril), Belmonte (5 de maio a 3 de junho) e Castelo de Vide (12 de maio a 10 de junho).
O festival conta com uma série de longas-metragens (o filme Negação, de Mick Jackson e com Rachel Weisz, abre esta edição em Lisboa), curtas-metragens, documentários, sessões especiais, concertos (em Cascais e Belmonte), eventos paralelos (como uma visita guiada à sinagoga de Lisboa e às judiarias de Belmonte e Castelo de Vide) e ainda a exposição fotográfica Caminhos da Judaica.
Os bilhetes podem obtidos em:
- Lisboa (no Cinema S. Jorge)
- Cascais (Cinema da Villa e Centro Cultural de Cascais)
- Belmonte (Museu Judaico e Auditório Municipal)
- Castelo de Vide (Paços do Concelho e Cine-Teatro Mouzinho da Silveira)
O festival segundo a sua fundadora
Elena Piatok é a fundadora do Judaica – Mostra de Cinema e Cultura. Em entrevista à Máxima, contou-nos não só a história do evento como também a da sua própria vida. Elena é filha de pais polacos que foram prisioneiros russos num campo de trabalho na Sibéria até 1944. Nos anos seguintes, passaram por vários locais, entre eles o México, onde Elena nasceu há 67 anos. Estudou nos Estados Unidos, viveu no Canadá onde entrou para o serviço diplomático e, depois de visitar Lisboa pela primeira vez em 1974, fez da cidade a sua casa desde 1989, tendo trabalhado na Embaixada do México.
A curiosidade e uma grande força de vontade levaram-na a começar o festival de cinema judaico em Lisboa e desde então o projeto tem crescido em público e palcos.
Porque é que decidiu começar o projeto Judaica?
Eu estava curiosa com outros festivais de cinema judaicos que havia no mundo inteiro e havia muitos filmes que nunca chegavam a Portugal. Achava que era uma ideia interessante e, como o cinema S. Jorge se dedica a festivais de cinema mais alternativos, achei que era uma boa proposta. Sem apoio nunca teria sido possível avançar com a ideia que era, há quatro anos, uma coisa muito mais inovadora do que é agora.
O que é que, na sua história de vida, influenciou esta iniciativa?
Sou filha de pais polacos que sobreviveram, não propriamente ao Holocausto porque eles foram prisioneiros dos russos, estiveram na Sibéria que também é uma história muito trágica , mas não era um campo de morte, era um campo de trabalho onde permaneceram até 1944. Depois andaram cinco anos à procura de um porto de abrigo, passaram por Nova Iorque, Cuba e, finalmente, pelo México, onde eu nasci. Sempre levei comigo essa herança, um pouco escondida talvez, mas à medida que vamos crescendo queremos conhecer mais do nosso passado e também foi uma espécie de tributo, de homenagem ao passado dos meus pais e, afinal, ao meu próprio também!
E o que a trouxe a Portugal?
Em 1974, decidi vir e ver o que era este país do Zeca Afonso, a cuja obra alguém me tinha apresentado. Acontece que no aeroporto John F. Kennedy havia um homem que desembarcou em Lisboa ao mesmo tempo que eu e com o qual travei uma conversa que continua há 40 anos. Fomos para o Canadá, entrei no serviço diplomático e fui transferida para a Embaixada do México aqui em Lisboa, em 1989. Na Embaixada, fiz muitas coisas, conheci muita gente e isso também me ajudou muito agora, passado tanto tempo, a reatar alguns contactos.
Porque é que este festival acontece em locais como Lisboa, Cascais, Belmonte e Castelo de Vide?
Sinto que tem havido uma maior curiosidade e interesse por tudo o que é a temática judaica. Evidentemente que Belmonte e Castelo de Vide, tradicionalmente, tiveram uma história judaica importantíssima que está a ser agora muito mais falada. Em Cascais há uma história muito mais recente da presença judaica. A época da II Guerra Mundial foi muito importante para Cascais, com tantos judeus que passaram por lá. Foi uma combinação interessante… E agora sou chamada e convidada a fazer o festival em outras localidades, o que é gratificante.
Como é feita a seleção dos conteúdos deste festival?
É evidente que a primeira escolha é a minha. Como é um festival muito pequeno e tenho um orçamento ainda mais pequeno, não me posso dar ao luxo de passar 30 ou 40 filmes em que alguns podem ser bons, outros nem por isso, para gostos específicos. Sobretudo, tenho de pensar qual será o filme mais interessante para o meu público e também vejo os filmes que podem ser mais interessantes em Belmonte, ou Castelo de Vide, ou Cascais. Tenho tido muita sorte em colaborar com jornalistas que me têm aconselhado e às vezes discutimos e eles não concordam com a minha escolha também estou aberta a saber porque eu quero que o público goste e não só eu. Só posso passar um máximo de 10 filmes e 10 documentários, não pode ser além disso. E há muito material que já chega de fora, as pessoas sabem do festival e submetem candidaturas, mas nem tudo é bom para este festival. Há filmes que vejo passar em outros festivais, por exemplo, que eu nunca iria passar aqui, mas eles têm 80 filmes, então cabe tudo.
Neste momento dedica-se só ao festival?
Não. Eu sou intérprete de conferências. Estive na Embaixada do México muitos anos e, como não quis seguir a carreira diplomática, para poder permanecer em Portugal tive de encontrar uma profissão e já tinha na altura 50 anos. Graças a Deus, esta é uma profissão que não tem idade e não tem limites. Eu trabalho bastante, as línguas são a minha salvação. E é o que me permite fazer a loucura do festival!
Tem uma equipa a trabalhar consigo?
Somos muito poucos. A minha filha Ana é parte essencial, depois alguns voluntários, mas somos uma equipa de quatro/cinco pessoas. É uma infra-estrutura mínima porque não tenho fundos e orçamento para pagar a mais pessoas.
Portugal é um bom local para se começar um projeto?
Eu acho que Portugal é um local excelente e, sobretudo, acho que é a pessoa que tem o interesse em levar o projeto para a frente que é decisiva. É a pessoa que tem de transmitir a importância do projeto, somos nós que somos responsáveis por injetar o embrião da vida do projeto, de forma a que Portugal ache que é viável. Acho que tudo é possível, mas depende muito da nossa forma, da nossa paixão e do nosso entusiasmo e não importa, como se nota, ser mulher, ser judia, ser sénior… Para mim, isso é muito importante. Isto é um evento de empreendedorismo sénior feminino e que se consegue perfeitamente: o que temos de ter sempre e nunca perder é a paixão.

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