Histórias de divórcio no feminino. “Porque é que fiquei tantos anos casada com uma pessoa assim?”
Duas décadas depois do casamento, a história de quem disse basta a uma relação profundamente machista. Hoje os dias são de uma enorme suavidade. E esperança nos que estão para vir.

Constança (nome fictício), 57 anos, esteve casada vinte e um anos. Saiu de casa em 2019, mas só há cerca de um ano e meio conseguiu ver assinados os papéis que ditam legalmente o fim do matrimónio. "Numa família tradicional casa-se para a vida. As mulheres têm um papel e os homens têm outro. Eu não percebi que estava a fazer o papel da mulher tradicional e o meu ex-marido proporcionava e achava piada a isso", observa. Por outro lado, Constança era uma mulher inteiramente "do século XXI". Todos os dias saía de casa para trabalhar – tendo uma posição de destaque numa profissão exigente, que a realiza e lhe dá total independência financeira até hoje – e acompanhava de perto o crescimento e a evolução dos dois filhos.
No campo profissional foi sempre mais longe do que o marido, que reagiu remetendo as suas promoções a assunto interdito no espaço privado e dos amigos. "Era algo que não se falava porque ele achava que não interessava", aponta. "Eu que sempre contestei o machismo fui escolher um marido altamente machista", reflete, dando conta de episódios e reações recorrentes: "Por exemplo, ele achava que a empregada doméstica me vinha ajudar, a mim e não a ele, pois o papel dele não era cozinhar, tratar da casa e cuidar dos filhos… porque isso, não se cansava de repetir, era o que eu devia estar a fazer e não estava." A competência de Constança como progenitora também era posta em causa, ainda mais quando alinhava numa partida de golfe ou sessão de cinema com as amigas ao fim de semana. Dizia-lhe que era "uma péssima mãe que deixava os filhos sozinhos", quando na verdade as crianças ficavam com ele.

A princípio foi simples
Constança sempre achou que não casaria, não tinha projetos nesse sentido. Colocando a formação académica e uma profissão futura no topo das prioridades, depois da licenciatura fez um MBA internacional e envolveu-se em vários projetos. É já no final da pós-graduação que conhece o ex-marido, e mais tarde, já a trabalhar, casou-se. Tinha 28 anos. "Não posso dizer que foi a paixão da minha vida. Demo-nos bem, ele também tinha formação superior, e tínhamos os mesmos interesses na altura", nota, acrescentando que os seus "relacionamentos foram sempre uma coisa mais de entendimento".
As coisas mudaram com o nascimento dos filhos, uma rapariga e um rapaz. "Até esse momento eu era muito independente, fazia a minha vida e ele fazia a dele. Quando os nossos filhos nasceram, as coisas mudaram: eu tinha trabalho acrescido e ele não participava. Depois, eu também tive mais sucesso profissional do que ele, a minha carreira teve um enorme desenvolvimento." Tudo os separava todos os dias e cada vez mais, mas continuaram a partilhar o mesmo espaço "numa convivência forçada".

Com a distância que o tempo lhe permite, pergunta-se "porque é que eu fiquei tantos anos casada com uma pessoa assim, quando não tinha necessidade disso?" Para logo responder: "Acho que foi o hábito… mas foi um facto, continuei lá!" Tendo sido educada no seio de uma família grande e tradicional onde muitos assuntos não eram falados, Constança tem consciência de que poderá ter "abordado o casamento de uma forma errada".
A maravilha do recomeço
Ele não a valorizava, era muito crítico. Mas também não aceitava a ideia de divórcio, alegando ter assinado um contrato para a vida e que a condição de divorciado "‘lhe ficava mal’". Sugeriu mesmo que continuassem casados ainda que vivendo separados, para salvar as aparências. Pelo meio houve "algumas contingências do ponto de vista financeiro" que prejudicaram Constança, e a alertaram para a necessidade de acelerar a separação de forma legal. Não sendo litigioso, o divórcio revelou-se "muito desgastante", porque ele protelava em assinar os papéis alegando "uma série de picuinhices". E mais tarde, na hora de fazer a divisão do recheio da casa, contou as cadeiras e verificou ao milímetro o que entrava na transportadora.

Ainda separada, Constança instalou-se numa casa que herdou e iniciou uma nova fase da vida com os filhos, sendo que mais tarde ficou estipulada a guarda conjunta do menor, coresponsabilidade legal que ela defendeu desde a primeira hora. Recorda esse momento de mudança, o recomeço de uma nova e tão desejada etapa: "Vim para aqui no meio das obras de remodelação que tive de fazer, foi uma confusão e foi desconfortável, mas mesmo assim senti um alívio enorme por não ter de voltar a conviver com aquela pressão dentro de casa, aquele mal-estar... Eu estava tão leve, que quase podia voar", resume.

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