Fábrica de Sonhos
Uma monografia celebrando os seus trinta anos de design, a abertura de um restaurante em Paris, um primeiro hotel em Londres na primavera Reencontramos o singular Tom Dixon à volta da sua nova coleção e das suas sempre excêntricas receitas para o sucesso.

Uma figura longilínea num fato cintado informal em tweed, olhar atento e eloquência verbal, Tom Dixon, de 54 anos, recebe-vos no seu quartel-general de Londres como um artista do NewYork underground na sua Factory. O local? Um antigo entreposto vitoriano nas docas de Portobello, onde os cavalos puxam as barcaças no canal de Grand Union. Por detrás das fachadas industriais em tijolo, um labirinto de peças e grandes vidraças viradas para a água. É aqui que junta o seu estúdio Design Research Studio, um showroom, um tea-room bakery shop, dirigido pela filha Florence, e um dos melhores restaurantes londrinos, The Dock Kitchen, inspirado nos sabores da Índia. Mister Dixon possui o sentido do epicurismo. Mas não só. Para esta figura da cena criativa contemporânea, o local alimenta diariamente as histórias que conta através dos seus objetos. “Este bairro londrino era onde se faziam as trocas comerciais com o resto do mundo. É um lugar que sempre teve uma ligação com a difusão das coisas e das ideias”, como o tempo em que Richard Branson nele instalou o estúdio de registo da Virgin Records, mesmo antes de Tom: “O mundo moderno é constituído pela rede que possuímos, não é verdade?”
Quem é mister Dixon
- 1959 Nasce em Sfax (Tunísia).
- Anos 70 Baixista do grupo Funkapolitan.
- Meados dos anos 80 Descobre uma paixão pela soldagem e cria as suas primeiras peças em metal reciclado que lhe foram compradas por Mario Testino e Patrick Cox.
- 1989 Conhece o italiano Giulio Cappellini que executa a sua S-Chair (posteriormente referenciada entre as coleções do Victoria & Albert Museum e do New York Museum of Art).
- 1998-2008 Diretor artístico da Habitat.2000 Recebe o título honorífico OBE (Ordem do Império Britânico).
- 2002 Cria o ateliê de confeção e junta os best of design em cobre, crómio e latão, os seus materiais de eleição.
- 2004 Criação do Design Research Studio, encarregue dos seus projetos de arquitetura.
- 2013 Inaugura a sua primeira coleção de moda para a Adidas.
- Primavera de 2014 Abertura de um hotel com 340 quartos, em South Bank, sobre o Tamisa, em Londres.
Histórias que se cruzam, uma excentricidade british que tão bem lhe assenta… Tom Dixon não é um designer como os outros. Autodidata e orgulhoso de o ser, descobre aos 25 anos, na garagem de um amigo, uma paixão pela soldagem e por trabalhar o metal. Ferro, aço, cobre, latão… Ele faz destes materiais um hit absoluto, conferindo-lhe através de uma abordagem táctil uma sofisticação artesanal. “Parto sempre da matéria. Adoro as coisas feitas à mão. A veracidade da nossa vida não é ser monocromática! O que a torna interessante é a diversidade. Temos necessidade de mais humanidade e não apenas de um efeito plástico”, explica. Qual é hoje o seu luxo, após trinta anos de culture design? “A partir do momento em que tenho o meu próprio ateliê de confeção, posso definir livremente o ponto de partida das minhas coleções.” Uma independência que já vem da sua vida como baixista do grupo Funkapolitan: “Tive essa oportunidade extraordinária de me estrear na música na altura em que o rock inglês, graças ao punk, se tornou uma contracultura. Nessa época podíamos rotular-nos de antiestablishment, uma expressão hoje quase anacrónica, já que tudo é permitido! Com o passar dos anos, tomei consciência de que aquilo que faz a diferença é, mais do que um percurso académico clássico, uma atitude, e nisso a minha experiência na música foi decisiva.” E o business Dixon? “Funciona como uma marca de moda, no sentido em que são as ideias criativas que são o motor, embora eu não compare o meu design a nada trendy. Eu não fabrico moda para a casa: aspiro a que o meu design exista para além das tendências.”
Independência de pensamento – “é a nossa vantagem sobre os franceses, é que nos estamos verdadeiramente nas tintas para o que os outros pensam” –, espírito curioso, gosto por viajar: “Acabei de vir da Mongólia onde fui defender os savoir-faire artesanais locais…” É, portanto, esse o segredo do sucesso Dixon? “Sempre fui apaixonado pelas ciências, pelos novos métodos de produção e pelas novas tecnologias.” No passado mês de abril, durante o Salone del Mobile, ele escolheu o Museu das Ciências e Tecnologia de Milão para apresentar as suas novidades sob a forma de happening. “Amanhã, os designers já não vão precisar de uma ferramenta tão importante e vão poder produzir, eles próprios, os seus objetos.” Um futuro do digital que, para Tom, será talvez a altura de ver emergir finalmente novas correntes underground.
