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Em que é importante o Natal para as famílias?

Cidália, 49 anos, Almada

16 de dezembro de 2015 às 10:41 Dra. Catarina Rivero
Cá em casa têm surgido algumas questões sobre a importância de celebrar o Natal. Os nossos filhos adolescentes e as suas teorias… claro que continuam a participar. A seu pedido, deixámos de trocar prendas, mas não abdicamos da reunião familiar na noite de 24 de dezembro e o almoço de 25. No entanto, nas conversas animadas cá de casa ficámos a pensar nas razões… porque é importante para quase todos os ocidentais, mesmo os não católicos, celebrar o Natal? 
Cara Cidália, muitas vezes os adolescentes têm esta capacidade de deixar todos a pensar e é ótimo quando há espaço para conversas animadas e reflexões partilhadas.
O Natal é um ritual celebrado pela grande maioria das famílias portuguesas e, tal como todos os rituais familiares, é um evento celebrado, neste caso com regularidade anual, organizado e participado por alguns ou todos os elementos da família, sendo que acrescentam significado à identidade familiar. Em algumas famílias, tal passa pela reunião de vários núcleos familiares, havendo partilha de histórias e tradições. De modo geral seguem-se diferentes regras que podem ir variando ao longo dos anos: a comida, a troca de prendas, a forma de vestir, etc. Poderá ser mais ou menos formal e com as regras mais ou menos rígidas – por exemplo, apesar da tradição da troca de prendas, cada vez mais famílias deixam de o fazer. As comidas também podem trazer novidades, porque alguém aprendeu uma receita numa viagem, ou porque uma nora ou um genro trazem outras possibilidades. Cada família irá adaptar o ritual, de acordo com as preferências e fases que está a viver: poderão evitar viagens se há uma pessoa doente ou um bebé recém-nascido, ou mesmo por exigências profissionais de um ou mais elementos da família. Se a pessoa que cuidava das refeições principais estiver doente (muitas vezes uma avó), esta tarefa tende a ser assumida por outros familiares, em negociação com os demais. No caso de novos casais, há uma renegociação sobre onde e como vivem os rituais (no Natal pode ser facilitado por ser um ritual com duas refeições). Quando há uma morte recente, por exemplo, as famílias tendem a fazer um ritual mais recatado. E as inúmeras adaptações irão acontecendo, com mais ou menos frequência.
Por ser participado e reunir a família, o Natal, como outros rituais, promovem a coesão, bem como um sentido de pertença e identidade familiar. Mesmo as pessoas que não se sentem muito ‘natalícias’, sentem como uma data importante para a família, e refletem sobre as suas relações familiares. Trata-se assim de uma via pela qual as famílias passam valores e crenças de geração em geração, sendo que no caso do Natal poderá centrar-se na celebração das relações familiares, a partilha e solidariedade e/ou, no caso de famílias católicas, haver uma celebração religiosa, nomeadamente a Missa do Galo. Em algumas regiões de Portugal, por exemplo, há ainda a tradição do Madeiro (com origem atribuída aos cultos pagãos), de modo geral queimado no adro da igreja, a partir da véspera de Natal e podendo ficar até ao Dia de Reis, à volta do qual a comunidade se junta, abrindo assim o ritual às relações entre famílias.
Se muitas famílias se reúnem no dia-a-dia, nas suas rotinas habituais, nos rituais há o lado que transcende pelo lado simbólico, acrescentando significado a cada família específica (as rotinas trazem o ritmo familiar e mesmo previsibilidade e segurança no quotidiano, mas sem esse lado simbólico). Os rituais trazem maior conhecimento da história familiar. São as conversas e partilhas entre as diferentes gerações que contribuem para um reforçar dessas ligações, de manter as memórias familiares, e um aprofundar sobre o significado de pertencer e ser aquela família.
Alguns adolescentes contestam a pertinência dos rituais na sua forma ou conteúdo, todavia, apesar de ser sempre útil conversar, questionar e mesmo negociar, é importante reforçar, como alguns investigadores das dinâmicas familiares sublinham, os rituais familiares são a cola da família. Viver os rituais é uma forma de manter a estrutura, ligação e sentido de pertença. Mesmo nas fases mais sensíveis pelas quais todas as famílias passam. Traz segurança e continuidade. E, à medida que os adolescentes se tornam adultos, são muitas vezes os primeiros a defenderem as tradições com maior significado familiar.
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