Design para casas reais
Este foi o mote para 19 designers desenvolverem para a Ikea uma coleção inspirada no passado, mas inovando nas formas, nos materiais e na sustentatibilidade.
Tenho quase a certeza que grande parte das pessoas, sejam clientes habituais ou esporádicos da Ikea, desconhece as coleções PS. É cá um feeling que eu tenho… Significa literalmente post scriptum para reforçar o carácter único, com lançamentos de três em três anos sensivelmente. E a verdade é que vale a pena conhecê-las e adquirir algumas peças, porque representam a afirmação do design inovador e acessível no ADN da marca sueca, com potencialidade para se tornarem ícones, já que muitos artigos acabam por sair de produção e outros mantêm-se com grande sucesso.
Na base de cada coleção Ikea PS está um desafio lançado a vários designers, alguns internos, outros convidados. Em 2012, para esta 7ª coleção, 19 designers foram buscar inspiração ao passado, ao mergulhar nos arquivos de produtos Ikea com mais de 60 anos, para desenhar para o presente e futuro. O resultado são 46 produtos inovadores, úteis, empilháveis, sustentáveis, surpreendentes… numa variedade de materiais e cores.
E agora espreite a galeria e leia também as entrevistas a alguns designers sobre o processo de criação das suas peças. Aqui não há espaço para discursos intelectuais sobre a paixão pelo design, há sobretudo o prazer e a preocupação em trabalhar para casas reais, vividas por pessoas com necessidades e desejos reais.
CANDEEIRO QUE DANÇA >
CANDEEIRO QUE DANÇA
WIEBKE BRAASCH desenhou o candeeiro de pé com tutu de bailarina.
O seu candeeiro é muito feminino. Aumentar as suas dimensões foi uma forma de sublinhar o poder das mulheres ou revela um desejo de se tornar bailarina quando for grande?
O tule está intimamente associado ao vestido de uma bailarina ou até a um vestido de noiva. Como estes são usados por mulheres, é natural que o candeeiro seja uma expressão muito feminina. Acho que a suavidade do material ajuda a criar uma atmosfera muito acolhedora e convidativa a uma divisão. A associação a uma bailarina ou noiva demonstra sobretudo imagens positivas e comprovei que muitas pessoas sorriem ao olhar para o candeeiro pela primeira vez. Mas a verdade é que não se trata apenas de uma peça bonita, mas também de uma “bailarina” inteligente pois é iluminada por LED’s que possibilitam uma elevada poupança de energia.
O que a cativou na peça original? O material, a forma, o espírito?
Descobri a peça original entre um monte de candeeiros de mesa antiquados no nosso arquivo de produtos. Atraiu-me pela sua combinação especial de estranheza e graciosidade. A proteção em tule sobressaía do resto dos produtos como uma ave do paraíso, mas recordava-me simultaneamente uma bailarina elegante. Não resisti ao desafio de traduzir este produto numa peça contemporânea.
Despir a cadeira original dos anos 50 parece ser uma receita simples… Revele-nos o grande segredo subjacente.
O desafio mais difícil é sempre simplificar as coisas. Sinceramente, despir a cadeira original dos anos 50 foi o resultado de um longo processo de design. A cadeira original Cavelli, desenhada pelo arquiteto sueco Bengt Ruda, é uma peça de mobiliário muito forte pela qual tinha, e ainda tenho, muito respeito. Usá-la como ponto de partida para um novo desenho significava estar absolutamente seguro de qual parte e caráter da peça eram mais importantes para mim preservar. E depois eliminar radicalmente tudo o resto. Optei pela forma exterior, pela linha de cintura sinuosa do encosto e tracei-a com uma vara de aço curva. Em vez de estofo, escolhi uma malha metálica como superfície de apoio. Por isso, o resultado é uma cadeira leve e transparente, que ainda assim está fortemente relacionada com a original, embora ganhe um caráter independente e forte por si só. Em contraste com a cadeira de Cavelli, a PS 2012 pode ser usada dentro e fora de casa, é empilhável (o que significa que é fácil de transportar e mais barata) e é fácil de reciclar, pois é feita apenas de um material: metal.
Como é que um tímido candeeiro de mesa se põe de pontas, em pé. Veja o filme!
MONTRA DE ARRUMAÇÃO
A dupla WIS Design, Lisa Widén e Anna Wallin Irinarchos, desenhou a vitrina e o móvel TV
Organização e arrumação são conceitos importantes nas casas atualmente. A necessidade de criar um móvel bonito e funcional para o futuro foi a vossa principal preocupação?
Sim, claro. Recuámos em mais de 60 anos na história da Ikea e descobrimos que durante anos desenharam-se diversos tipos de armários com frentes em vidro. Especialmente durante os anos 1980, esta era uma peça de mobiliário muito popular. No entanto, quisemos criar algo do género, com a mesma função mas com um aspeto mais fino e leve. Começámos desde logo a pensar em molduras em redor de fotografias e arte. Tal como uma obra de arte é realçada por uma moldura, queríamos realçar as coisas que vão colocar no nosso armário. Tudo tem o seu próprio lugar. Também inclinámos ligeiramente o armário para a parede. Quem quiser, pode comprar iluminação interior para reforçar a atenção sobre as coisas preferidas.
Que memórias têm dos móveis de TV? Tencionavam apagá-las, melhorá-las, recriá-las...
Provavelmente temos memórias semelhantes às da maioria das pessoas. Quando desenhámos o móvel TV, na verdade fomos inspirados por um toucador dos anos 50 que encontrámos num catálogo antigo da Ikea. Havia algo na peça que nos atraiu. É tão bonito esconder as nossas coisas atrás de uma cortina de tecido. Quisemos transmitir esse lado feminino captado na peça original num móvel contemporâneo, também de arrumação. Mas neste caso, pretendíamos combinar um móvel TV hi tech com esse look feminino, preferencialmente sem usar o tecido. O resultado é uma peça inspirada numa cortina têxtil com um visual muito gráfico. A forma da cortina ou reposteiro também tem uma função: as aberturas/falhas no padrão das portas da frente permitem que o sinal do comando à distância cheguem ao DVD, às consolas, caixa da TV, etc. para ser possível controlar os equipamentos.
O desenho já é apelativo e como se não bastasse as portas são amarelas. A discrição não fazia parte dos vossos planos, certo?
Não, obviamente! Achamos que as pessoas deviam usar mais cor nas suas casas. É possível ter uma base branca mas depois para personalizar devem acrescentar-se padrões, formas e cores diferentes!
ENCOSTAR A LUZ À PAREDE >
ENCOSTAR A LUZ À PAREDE
JOHANNA JELINEK desenhou o candeeiro de parede.
O seu candeeiro resulta de uma inspiração do passado ou é antes um produto de uma necessidade do presente?
A minha inspiração e ponto de partida foi o candeeiro original de 1959, chamado Viggo. Achei a peça muito charmosa e fiquei surpreendido por não existirem muitos candeeiros deste género no nosso passado. Mesmo na gama atual essa função não existe na Ikea. Enquanto estava a desenhar, o LED enquanto fonte de luz é que me mostrou o caminho para usar a forma certa para este tipo de função, graças às suas pequenas dimensões. Foi possível criar uma forma que permitia dobrar, recolhendo a direito completamente até à parede, quando não estivesse a uso. Por outro lado, o material e peso do quebra-luz foram reduzidos e por esse motivo o braço podia ser mais longo e chegar mais longe. Portanto, eu simplesmente combinei a inspiração do passado com a tecnologia moderna numa necessidade que, diria eu, sempre existiu.
O candeeiro dura 20 anos resulta num bom slogan comercial. Acredita que hoje em dia o design vende melhor se houver a promessa de uma qualidade duradoura associada à sustentabilidade?
Acredito na qualidade duradoura! Isto está, obviamente, ligado à sustentabilidade, mas também deveria de haver uma mudança de mentalidades entre as pessoas do mundo ocidental em geral, ou seja que não fosse preferível comprar porcarias e ter de as trocar de dois em dois anos. Neste caso, falamos acerca de uma fonte de luz comparada com a lâmpada tradicional. O LED tem um tempo de vida que é quase tão longo como a vida em si se for usado várias horas por dia e consome menos de 80% energia do que uma lâmpada tradicional. Isto parece-me ser uma mensagem positiva e importante para os nossos clientes e algo que devem adaptar.
Em que casa de verdade gostaria de ver este candeeiro?
Em todas onde haja necessidade deste tipo de função, desde que o estilo se adeqúe ao resto do ambiente e claro em casas onde as pessoas que as habitem apreciem o engenho desta peça.
O LED é a melhor aposta em nome de um futuro melhor. Veja o filme!
http://www.youtube.com/watch?v=ifkO9x9OgFs&feature=youtu.be
MESAS QUE DÃO FLOR >
MESAS QUE DÃO FLOR
HENRIK PREUTZ desenhou a mesa de apoio e o candeeiro suspenso.
Mesas inspiradas por um vaso de flores parece ser um bom começo. Qual foi exatamente a sua ideia?
A minha ideia foi desenhar uma mesa pequena que pudesse caber em diferentes lugares da casa. E se desejar uma mesa maior, pode combinar duas, três ou quatro destas. O meu pensamento inicial era uma mesa para flores. Mas depressa percebi que os “vasos de flores” podem ser usados como tigelas para aperitivos, brinquedos ou o que quisermos! O bambu é um material interessante, é muito forte, o que me possibilitou trabalhar em medidas finas para obter um desenho arejado e leve. A prateleira de metal foi a última coisa a encaixar, para completar o produto com uma combinação de materiais interessante: bambu, plástico e metal.
A versatilidade é sem dúvida uma característica vencedora do seu design. Foi estratégico em termos de adaptação a todo o tipo de casas e pessoas?
Sim, se um design oferece boa versatilidade sem se tornar muito complicado para o cliente compreender o produto e inspirar-se a ser criativo em sua casa, então aí terá um produto bem conseguido.
Desafia as pessoas a usar as suas mesas de uma forma criativa?
Sim, espero que as pessoas se atrevam a usar a minha mesa de muitas maneiras diferentes e criativas! Esta é a minha intenção. A imaginação não tem limites para as múltiplas formas de usar a minha mesa!
Onde está a sua pitada de loucura neste desenho?
As ligeiras despromoções e a combinação de materiais. Como é que se reinventam materiais? Veja o filme! http://www.youtube.com/watch?v=WazGNkpxBYg&feature=youtu.be
Como é que se reinventam materiais? Veja o filme!
A designer Lisa Norinder inspirou-se numa cadeira desenhada pelo pai em 1986 para a Ikea. Veja o filme!
http://www.youtube.com/watch?v=vpQGW84lKmM
O designer Marcus Arvonen desenhou uma taça que foi produzida em dois materiais diferentes. Qual é que escolhe para si? Veja o filme!
http://www.youtube.com/watch?v=J9ZVoFeXhg0&feature=youtu.be
