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Como gerir o medo dos ataques terroristas no aeroporto?

Maria, 51 anos, Évora.

23 de março de 2016 às 12:36 Dra. Catarina Rivero
Tenho viagem marcada para amanhã, já que o meu filho está a trabalhar em Londres. Desde os ataques terroristas ontem em Bruxelas, nem consegui dormir bem. A minha filha e o meu marido, que vão comigo, estão serenos. Apetece-me cancelar a viagem e ficar em segurança, ir até à minha terra e descansar em paz. Mas eles acham que não devo deixar-me ficar por medo. Todavia, não sei o que fazer. Tive imensos pesadelos. Estou muito nervosa. 
Cara Maria, depois de um ataque terrorista, muitas pessoas ficam apreensivas, já que tomam consciência de que há muitas coisas que não controlam. Lidar com a consciência da imprevisibilidade a este nível pode ser desconcertante e, para algumas pessoas, pode provocar muita ansiedade. Todavia, ganhar perspetiva pode ser a chave para maior serenidade na gestão do quotidiano.
Antes de mais, poderá ser útil compreendermos que, face a eventos recentes, tendemos a sobrestimar a probabilidade da ocorrência. Na maioria do tempo, tendemos a desvalorizar os riscos a que estamos sujeitos: viajar de carro, por exemplo, pode ser arriscado (com números de mortes avassaladores), mas, na maioria das vezes não pensamos nesse risco quando vamos entrar no carro. Depois dos atentados do 11 de Setembro, por exemplo, as pessoas preferiam viajar de carro do que de avião (apesar de sabermos que os riscos das viagens de automóvel serem muito superiores). O mesmo acontece com atravessar a estrada ou mesmo fumar um cigarro. Muitas zonas do país (e do mundo), por exemplo, são de risco em termos de tremores de terra, contudo vivemos as nossas vidas sem considerar os mesmos. Mesmo ao nível da sexualidade, muitas pessoas continuam a ter relações desprotegidas sem considerar o risco existente de doenças sexualmente transmissíveis (que podem ser letais). Há frequentemente, como podemos constatar nos exemplos referidos, uma relação pouco rigorosa entre os nossos medos, comportamentos e a realidade em termos estatísticos. Desvalorizamos os riscos que não nos são apresentados (e fortemente amplificados) diariamente nos media, ou que não experienciámos (direta ou indiretamente) recentemente. São riscos com os quais não estamos familiarizados e, como tal, podem aumentar o medo.
O medo instaurado (que é também um dos objetivos destes ataques, trazer medo e limitar a liberdade vivida pelos europeus) pode levar a querer ficar num lugar que se considera ou sente como seguro (sendo de facto seguro ou não) o que, em última análise, levaria a que todos deixassem de viajar e alterassem a sua forma de vida, sabendo que, mesmo para ataques terroristas, nada nos garante que venham a ocorrer em aeroportos, nem que estes não sejam evitados por forças especiais que existem pelo mundo (e que têm travado muitos ataques de ocorrerem). Apesar de se considerar que existe uma probabilidade significativa de ocorrerem mais ataques na europa este ano, a probabilidade para cada cidadão, de ser vítima do mesmo, é ínfima. Mais uma vez, há um enviesamento da nossa perspetiva que amplifica a probabilidade de recorrência destes ataques coincidentes com a hora e local onde nos encontremos.
Apesar dos factos, a nossa mente pode ficar ‘enrolada’ em pensamentos ruminantes, aumentando assim a nossa ansiedade, e procurando comprovar as nossas crenças, mesmo que nada racionais em termos estatísticos.
Gerir a ansiedade nestes casos é fundamental. Manter-se rodeada daqueles que ama, organizar serenamente a viagem, procurar ter tempo de descanso e sono, fazer uma caminhada, um momento de relaxamento e/ou meditação podem ajudar. Evitar seguir as notícias dos detalhes dos ataques recentes, isto é, desligar a televisão ou outras fontes de notícias, pode ser também uma excelente ajuda. E, naturalmente, evitar alimentar os pensamentos negativos que nestes dias podem ocorrer. A lógica e as estatísticas da realidade podem ser os grandes aliados para desmontar pensamentos destrutivos. Por fim, usufruir do fim-de-semana de Páscoa com a família reunida. 
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