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Cleia Almeida: Em tom de fé e esperança

Em Sangue do Meu Sangue, pré-nomeado para os Óscares de 2013, Cleia confirma o lugar cativo entre os melhores da nova geração de atrizes e atores em Portugal.

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06 de março de 2013 às 10:47 Máxima

Revelação absoluta, na opinião dos críticos, acabámos de a ver no filme Operação de Outono, enquanto preparava a próxima peça de teatro, em produção independente. No palco, no cinema, na televisão, já não têm conta as suas faces, entre drama e comédia evoluem papéis de todos os tons. Encenadores de teatro e realizadores de cinema, os consagrados, têm o seu nome apontado para novos e diferentes desafios. Mulher de fé, não desanima em tempos sombrios e espera dias melhores. Em 2013, grandes acontecimentos espera viver.

CINCO PROJETOS PARA 2013

1 - Que o João Canijo possa realizar o filme que está a preparar

2 - Retomar os Desastres do Amor, Marivaux na Cornucópia

3 - Ir ao Brasil ver os amigos e o que há lá de Portugal

4 - Ser feliz com o namorado

5 - Fazer uma família

1 - Que o João Canijo possa realizar o filme que está a preparar

2 - Retomar os Desastres do Amor, Marivaux na Cornucópia

3 - Ir ao Brasil ver os amigos e o que há lá de Portugal

4 - Ser feliz com o namorado

O seu nome é raro, incomum. Cleia porquê?

Quando eu nasci, a minha mãe estava a ler um livro de Lawrence Durrell, Clea, e gostou da personagem, uma menina inteligente, bem-educada, que no tempo da II Guerra Mundial é lutadora, sobrevive. Li recentemente, é um livro difícil.

Havia alguma tradição de teatro na família?

Os meus pais são médicos, a mãe pediatra e o pai cirurgião plástico, os meus avós eram médicos. Do lado da mãe, o meu avô foi diretor do Hospital da Covilhã, lia muito, é uma das raras pessoas que leu Guerra e Paz até ao fim. Do lado do pai, o meu avô era médico numa aldeia ao pé de Aveiro. Foi para o Brasil, viveu lá muitos anos, voltou, trouxe a minha avó, brasileira de Santos, uma cidade no litoral de São Paulo. E eu há quatro meses também tenho nacionalidade brasileira, porque tenho uma avó brasileira.

Tem irmãos?

Sou filha única, infelizmente. Quanto mais velha fico, mais percebo a falta de irmãos. Vivi três anos com os meus avós na Covilhã, muito pequenina, na época em que os pais faziam concursos para a especialidade. Mas os avós morreram e não ficaram ligações à Covilhã, mas sim a Coimbra, onde mora a família toda.

Sempre envolvida em ensaios, gravações, filmagens, consegue algum tempo para si? Para divertir-se, namorar?

Vivo ao lado da Lx Factory. Tento acompanhar e aproveitar o que está a acontecer. Fui ver um espetáculo, Missa dos Quilombos, no fim reparei na humildade dos atores. Eram 24, faziam um musical que não era nada de muito intenso como trabalho, no fim estavam agradecidos por estar aqui, por ser o Ano do Brasil em Portugal. Esforço-me por dormir muito, pelo menos oito horas. Tenho aulas de dança, vou bastante ao teatro e ao cinema. Agora há uma grande diversidade de filmes, desde os mais comerciais até aos filmes de autor, cada um tem o seu lugar. Também viajo o mais que posso. Há quatro anos tenho um namorado.

"Para podermos ser atores têm de se criar alternativas."

O que pensa sobre tanta gente estar a ir-se embora? Para o Brasil?

Os brasileiros vêm para cá por causa da língua mais fácil, os portugueses estão a ir para lá tentar uma vida melhor. Acho bem que as pessoas vão, para voltar. Eu ainda nunca trabalhei no Brasil, mas gostava de experimentar. Muitos amigos meus estão a sair, para ver o que está a acontecer em outros países. Queria muito dar aulas, em Angola estão a chamar diretores de atores. Fiz 30 anos, não tenho filhos, se não for agora, quando poderá ser? Tenho colegas que foram para Berlim, vou visitá-los. Compro um bilhete de avião por 40 euros e fico em casa deles. Há três anos fui a Nova Iorque, fiquei em casa de uma amiga que estudava realização, ela morava numa casa com artistas de todo o mundo. Conheceram-se pela Internet, quatro pessoas alugam a casa, dividem a renda, cada um expõe os seus trabalhos na sua sala. Tinham tempo e vontade e assim fizeram uma galeria. Isso é fantástico.

Mas há trabalho de ator em Portugal?

Experimentamos novas maneiras. Agora eu e mais dois colegas estamos a preparar uma peça. Um dos atores, o Miguel, tem um bebé, adaptámos o horário dos ensaios aos horários da família. Quando trabalhamos em televisão, o tempo fica reduzido. Mas não desistimos. Apesar de tudo, cada vez há mais espaço. Estamos a fazer mais televisão, mais ficção, mais filmes, mais locuções, mais dobragens. Compreendo que não convém a rotatividade, mas para podermos ser atores têm de se criar alternativas. Participei numa aula do realizador Jorge Kramez na Lusófona. E este ano vou continuar a desenvolver o projeto Da Índia para a Horta em escolas secundárias, para formação de público jovem.

 

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Como tem sido o seu percurso?

Vim de Coimbra, fiz o curso na Escola Superior de Teatro e Cinema do Conservatório. Em 1998 fiz o casting para Respirar Debaixo de Água que se realizava em escolas secundárias de Coimbra, eu estava no 12.º ano. Era o António Ferreira a fazer a avaliação. Perguntou-me qual o papel que eu mais gostava de fazer na minha vida. Respondi: muda, surda ou paraplégica. Ele riu-se muito e depois telefonou-me a perguntar se eu queria fazer o filme. Respirar Debaixo de Água passa-se no ambiente da adolescência em Coimbra, é a história de um rapaz com uma vida difícil que está quase a afogar-se e é salvo por uma rapariga, Ana. Eu faço a amiga dela. O António Ferreira ganhou prémios por este filme. Depois fui a um casting na empresa de Patrícia Vasconcelos e entrei no filme Noite Escura.

Os seus pais reagiram quando saiu de Coimbra?

Eu estava eufórica, os meus pais não se atreveram a dizer que não me deixavam. Depois foi um processo natural, não tentaram demover-me. Dois anos mais tarde, o António Ferreira convidou-me para outro filme. Como eu estava no Conservatório e lá não se pode estudar e trabalhar ao mesmo tempo, saí para fazer Esquece Tudo o que te Disse e voltei. Acabei o Conservatório em 2007-2008 e entrei para o Teatro da Cornucópia. Não se tem consciência de tudo o que orienta o futuro. Nunca mais parei. Com o António Ferreira apareci agora em Posfácio nas Confeções Canhão, realizado para Guimarães Capital Europeia da Cultura. O tema dado era a indústria, o filme passa-se numa fábrica de confeções.

"a fé só traz coisas boas. a esperança tem de voltar."

Alguém marcou a sua formação?

O João Mota foi o meu grande professor no Conservatório. No primeiro dia de aulas ficámos três horas sentados nos calcanhares a conversar, ele a fazer perguntas, a conhecer-nos. No fim: “Estão a ver a dor? É o que custa ser ator.” A partir daí eu soube que é mais complicado do que pensávamos, há a disciplina, o rigor. Eu fico perdida quando pessoas menos ligadas à arte e à cultura continuam a achar que somos uns indisciplinados. Tive uma lombalgia num espetáculo, A Cacatua Verde, no Teatro Nacional D. Maria II. De repente, eu não conseguia mexer-me, chorei imenso, era grave. Chorava imenso, a pensar que tinha de dizer ao Luis Miguel Cintra que ia faltar. No hospital, o médico perguntou-me a profissão: “Atriz.” O médico começou a rir: “Isso é uma profissão?”

Gosta de ler, além dos textos que deve preparar?

Tenho uma pilha de livros de cabeceira. Canso-me facilmente se leio um romance como Servidão Humana, mas se for uma peça de teatro, como me aconteceu com Lope de Vega, leio tudo do princípio ao fim. Estive a fazer o Erasmus em Madrid, só li teatro e as leituras foram tão orientadas que só li teatro. Agora vou ler um livro que a Rita Blanco me deu, À Procura do Centeio, de J.D. Salinger. Também leio poesia. No antigo B’Leza, havia leituras orientadas pela Sofia Marques, da Cornucópia. Um dia Pablo Neruda, outro Al Berto, depois Cesário Verde. Porque acabou, não sei. Adoro livros, entrar nas livrarias e nas perfumarias, para mim são lugares mágicos.

Em Sangue do Meu Sangue, do João Canijo, foi muito elogiada. Foi um trabalho especial.

Fizemos o guião coletivamente. Eu só entrei seis meses depois do começo. Antes das filmagens, eu trabalhava todos os dias, escrevo, tenho tudo reescrito e revisto por mim. Duas vezes por semana trabalhava com os outros atores, depois houve improvisações no local.

Tem feito drama e comédia, o que é mais difícil?

Tenho menos experiência de comédia, às vezes mais difícil do que um papel dramático. Fiz papéis cómicos em Santos da Casa, uma série da RTP que em 2003 era teatro filmado ao vivo no país inteiro. Senti-me muito exposta quando participei na peça Os Improváveis, no Teatro Estúdio Mário Viegas. O ideal seria num ano fazer duas tragédias e duas comédias. Às vezes podemos estar a representar uma peça muito cómica e em dois minutos tudo se transformar. É muito bom quando acontece.

Acredita no dever de desempenhar um papel na realidade atual?

Cada vez mais tenho cuidado e responsabilidade pelo que digo e pelo que faço. É preciso as pessoas terem fé, sou católica, a fé só traz coisas boas. A esperança tem de voltar, as coisas têm de acontecer, fico triste por ver as pessoas de braços caídos. Não gosto do desapego da família que agora se proclama. Quero que os verdadeiros valores permaneçam, sem serem deturpados. Penso que é muito bom ter tido uma boa educação.

 

Fotografia: Pedro Ferreira

Realização: Helena Assédio Maltez

Assistente de realização: Joana Lestouquet

Maquilhagem: Sónia Pessoa

Cabelos: Helena Vaz Pereira para GriffeHairstyle

A Máxima agradece à Brand Gallery todas as facilidades concedidas.

Cleia Almeida: Em tom de fé e esperança
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Vestido de renda em algodão, poliamida e elastano, BCBGMAXAZRIA. Botins em pele e renda, Carolina Herrera. Cinto em jersey de seda stretch, Donna Karan, na Stivali. Gargantilha em metal e cristais swarovski, Giuseppe Zanotti Design, na Rosebud LBV.
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Camisola em malha de lã e caxemira, Uterqüe.
3 de 3 / Camisola em malha de lã e caxemira, Uterqüe.
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