Cartas de amor 2.0, entrevista com Dolly Alderton
Foi um fenómeno de vendas no Reino Unido, depois distinguido com o National Book Award 2018 na categoria de Melhor Autobiografia. Na altura em que 'Tudo o que Sei Sobre o Amor' é publicado em Portugal, trocámos impressões com a autora, Dolly Alderton.

"Obrigada pelo seu e-mail. Devido à grande quantidade de tráfego nesta caixa de correio, só a consigo verificar intermitentemente e, infelizmente, não consigo responder a todas as mensagens e pedidos." A resposta automática no e-mail de Dolly Alderton deixava antecipar a roda-viva em que se tornaram os seus dias. Dúvidas houvesse, a editora (em Portugal) viria a confirmar isso mesmo, justificando assim a demora na chegada das respostas (anteriormente enviadas por e-mail), e a forma algo breve como Dolly acabou por responder. Às muitas solicitações, relacionadas com a divulgação do livro Tudo o que Sei Sobre o Amor, junta-se uma vida profissional igualmente absorvente.
Dolly Alderton tem 30 anos, é uma jornalista premiada e autora dos podcasts The High Low (feito em parceria com Pandora Sykes) e Love Stories. Já escreveu para publicações como o The Telegraph, Marie Claire, Esquire Weekly, GQ e para o The Sunday Times – jornal a que, depois de ter assinado uma coluna entre 2015 e 2017, regressou para escrever sobre amor e sexo, feminismo e literatura, moda e beleza, viagens ou celebridades. Na verdade, o céu é o limite para esta mulher que gosta de fazer uso da sua voz ativa.

Como apresentaria o seu livro?
É uma memória sobre o que é crescer e, simultaneamente, é uma carta de amor a uma amiga. Não fazia ideia de que seria uma história de amor sobre os meus amigos até ao momento em que eu comecei realmente a escrevê-lo. Quando terminei e olhei para todas estas histórias sobre os meus 20 anos, dei-me conta de que o tema mais recorrente e mais sólido era precisamente a presença dos meus amigos na minha vida. Só então percebi que o livro, na verdade, era uma grande história romântica, só que num sentido não tradicional do conceito.
Escreve num registo declaradamente pessoal. Onde é que traça o limite entre o que pode ser contado e o que deve permanecer privado?

Tem a ver com o que sinto em relação a determinada experiência. No jornalismo, habituei-me a escrever na primeira pessoa e faço-o há mais de uma década, por isso aprendi a confiar no meu instinto no que respeita a essas fronteiras.
Acabou de chegar aos 30, por isso a ideia de envelhecimento deve ser algo distante… Ainda assim, o que é que receia mais?
Acima de tudo, eu receio ter arrependimentos ou não conseguir fazer tudo aquilo que quero fazer. E como todas as pessoas receio a morte. Não receio o momento da morte, em si, mas preocupa-me que posso pensar em tudo aquilo que queria fazer na vida e perceber que é demasiado tarde.

E como é que se lembra de si própria enquanto adolescente?
Eu era bastante infeliz e andava desesperada por tornar-me adulta. Usava imenso lápis khol em redor dos olhos e andava sempre com um livro distinto que provavelmente ainda não teria lido, mas queria que toda a gente soubesse que tencionava ler.
Qual é a sua visão e definição de uma millennial?
Eu acho que somos muito diferentes, mas partilhamos algumas sensibilidades e ansiedades. Acredito que muitas destas mulheres se esforçam para serem conscienciosas acerca das coisas, em geral, e que se questionam acerca dos processos mais convencionais de tomada de decisão, bem como até que ponto podem estes processos mudar, de forma a serem o mais justos possível. Isso parece-me maravilhoso. Por outro lado, eu creio que tudo isso nos tornou pessoas extremamente sensíveis e propensas a pensar em demasia nas coisas, nomeadamente no que diz respeito a questões relacionadas connosco e à forma como somos vistas pelos outros. Isso é realmente uma pena, até porque pode comprometer o prazer de viver.
Faz algum sentido compará-la com Bridget Jones?
Eu adoro a Bridget Jones. De certa forma, ela encapsula a sensibilidade do seu tempo que hoje até pode parecer datada… Mas a mim parece-me que há sempre uma certa transcendência e intemporalidade na sua voz. As pessoas, em geral, e não apenas as mulheres, vão sempre querer ser uma versão melhorada de si próprias e muitos de nós temos uma ideia algo ilusória sobre a forma como nos podemos tornar essas pessoas ou sobre como isso irá tornar as nossas vidas mais fáceis. É mais ou menos isso que a Bridget Jones representa para mim: alguém com um bom coração e empenhado em criar uma melhor versão de si própria quando, na verdade, a sua vida já é ótima.
Tal como ela, a Dolly é jornalista. Qual é a melhor parte do seu trabalho?
É um trabalho divertido e uma posição privilegiada. Um jornalista tem a oportunidade de ser o canal entre uma experiência e uma audiência – a minha voz e a minha descrição do evento é merecedora de confiança.
Pessoal e transmissível:
As suas maiores indulgências
Vestidos. Tudo o que compro são… vestidos. E vinho!
Um guilty pleasure
Hambúrgueres e Filet-o-Fish, do McDonald’s…
Um lugar feliz
Com os meus amigos, à volta de uma mesa. Ou quando caminho num dos meus parques favoritos no norte de Londres ? Hampstead Heath, Primrose Hill ou Regent’s Park.
O que faz quando tem um bloqueio criativo
Vou dar um passeio.
A banda sonora para escrever
Preciso de silêncio total. Às vezes eu até posso ouvir música clássica suave, mas apenas quando estou totalmente certa do que vou escrever (o que não acontece com frequência).
Na sua mesa de cabeceira
No momento, o novo romance de Taffy Brodesker-Affner.
