
A minha irmã e o meu cunhado passam a vida online, nas redes sociais. Há muito que lhes digo que é demais, mas eles não pensam assim… Agora ela fala-me que ele tem uma amiga no Facebook, antiga colega de liceu, com quem mantém conversas muito íntimas. Ele insiste que não tem nada de mal. Ela acha que é traição. A situação está tensa e já falam sem separação… As redes sociais podem estragar a vida a dois?
Cara Elisa, a questão das redes sociais e da conjugalidade é complexa e subjetiva, ou seja, pode ser sentida e vivida por diferentes casais de diferentes formas. Irei deixar algumas notas sobre o tema, que poderão contribuir para a reflexão.
A Internet entrou na vida das famílias e em particular dos casais. As rotinas passam cada vez mais por algumas horas ao computador, entre trabalho, e-mails, informação e, naturalmente, redes sociais. A dinâmica altera-se e não raras vezes há queixas dentro dos casais, que também constatamos nas consultas de Terapia Conjugal, com o tempo que o outro ocupa com a internet. Ainda assim, a internet em geral e as redes sociais em particular não têm de ser vistas como negativas. Permitem acesso à informação e o aproximar de pessoas que estão longe, ou o contacto regular com outras pessoas. Alimentam-se amizades, relações familiares e mesmo profissionais. Reencontros de amigos e antigos colegas, vivências partilhadas. Há mesmo um número crescente de casais que se conheceram online e que hoje mantêm uma relação offline muito positiva.
Independentemente de se terem conhecido online ou offline, muitos casais referem que parte do seu serão é passado online, cada um no seu computador ou tablet e muitos consideram que passam tempo excessivo online. Contudo, um eventual afastamento, crise conjugal ou ciúme pode acontecer em todas as relações, independentemente de ambos estarem ou não ligados à internet. Cabe ao casal deixar espaço e tempo para a vida a dois, cultivando objetivos e sonhos comuns, espaço de partilha de afetos e rotinas, e naturalmente de reflexão sobre eventuais problemas que podem sempre emergir.
Sobre a eventual infidelidade, esta acontece quando um ou ambos os elementos do casal põem em causa um compromisso definido a dois, implícita ou explicitamente. Para a maioria dos casais, tal passa pela exclusividade (sexual e/ou emocional). Para cada casal, e mesmo para cada pessoa, a infidelidade tem diferentes significados, pelo que é importante compreendermos com cada casal o que é, e o que não é, ser infiel. O facto de ter conversas online mais íntimas pode ser sentido como infidelidade para algumas pessoas, e outras só considerarem infidelidade se houver contacto físico. Tal pode (e deve?) ser conversado dentro do casal de forma a definir os limites do seu compromisso, lembrando que existem múltiplas formas de viver a conjugalidade, entre a exclusividade total e a relação aberta – o importante é definir uma forma que faça sentido para ambos e viver de acordo com o compromisso assumido. Todavia, é sempre importante sublinhar que a infidelidade não é provocada pela internet. Cabe a cada pessoa que está no casal definir os limites das relações estabelecidas online (e offline). O facto das redes sociais permitirem um contacto rápido com outras pessoas, pode acelerar um processo de fim da relação, ou início de uma nova relação. Perante uma fase de maior desgaste ou frustração individual ou na relação, pode haver tendência para procurar uma relação alternativa de suporte emocional, ou que traga novos estímulos e emoções, que é mais fácil online, por ser menos exigente quando comparada com uma relação a manter na rotina offline de todos os dias. Contudo, não é a causa, mas um meio utilizado. Rápido e acessível a todos. Online ou offline, muitos casais conseguem dar a volta, quando a infidelidade acontece.
As redes sociais são ainda muitas vezes consideradas como causa de divórcios ou separações. No entanto, há que recordar que as relações conjugais são criadas e mantidas no dia-a-dia, independentemente de os elementos do casal estarem ou não integrados nas redes sociais. Quando há uma separação, tal não é consequência do Facebook ou outra rede social, mesmo que o tempo passado nas redes sociais possa ser um sinal do pouco tempo que o casal está a dedicar à relação conjugal. As separações acontecem quando uma ou as duas pessoas, que até então mantiveram uma relação, deixam de acreditar ou sentir que vale a pena continuar um percurso a dois, mesmo e apesar de eventuais crises.
Talvez o desafio de cada casal passe então por dedicar tempo para viver a relação, alimentando com o melhor que tem para dar, e refletir sobre os pontos a melhorar. Redefinir regras e limites, partilhar sentimentos e emoções e reencontrar o equilíbrio em que o virtual e as redes socias ocupam o lugar que o casal escolhe. Naturalmente que, quando a crise se instala, pode ser benéfico recorrer à terapia de casal, onde poderão ter a ajuda de um terapeuta conjugal na gestão da dinâmica, e co-construção do (re)equilíbrio relacional.

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