As férias estragam o sexo?
Não era suposto, mas o álcool e as crianças podem contribuir para o fracasso. Saiba como.

Os dinamarqueses podem ser ricos, civilizados e até ter sereias, mas praticam pouco sexo. E assim sendo, pouco se reproduzem, o que está a deixar as autoridades preocupadas com o envelhecimento da população. Segundo um artigo recente do Copenhagen Post, a taxa de natalidade no país de Hans Christian Andersen não registava níveis tão baixos desde 1986 – baixou 17%, fazendo da Dinamarca o país nórdico onde se fabricam menos bebés.
Paraísos sexuais para panteras
Já ouviu falar de cougars, claro. Talvez não saiba é que existe uma próspera indústria turística para estas mulheres de 40, 50, 60 anos que querem aliar destinos exóticos a sexo descomprometido. Os mais pragmáticos chamam-lhe turismo sexual feminino, os pudicos tratam-no por turismo de romance. Conheça os spots mais famosos, citados por Jeannette Belliveau no seu livro Sex on the Road. Bali Tornou-se o destino mais procurado após a estreia de um documentário do realizador Amit Virmani, onde este filma uma série de rapazes bronzeados, de tronco nu – os kuta-boys –, que deambulam pelas praias oferecendo a sua companhia a mulheres solitárias. É um destino popular entre as mulheres japonesas. Jamaica Os gigolos jamaicanos são conhecidos por sanky-panky e big bamboo. Jovens, de porte atlético e atitude viril, costumam usar a força para impressionar as mulheres, que retribuem com jantares e presentes caros. Jordânia O site de notícias Globalpost diz que Petra, cidade-monumento da Jordânia, eleita património da humanidade pela UNESCO, tornou-se um “viveiro de cougars” que vêm atrás de uma aventura no deserto e que acabam por sucumbir ao charme e aos músculos dos guias, regra geral homens de poucas falas e com um ar que elas definem como “misterioso”. Gâmbia Uma reportagem da BBC mostrou o quão comum é ver mulheres ocidentais de meia-idade desfilarem de mão dada como homens entre os 20 e os 30 anos nalguns pontos turísticos daquele país africano. Conhecidos pela roupa colorida e pelo físico ‘seco’, é comum estes rapazes deambularem pelas praias e imediações dos hotéis à procura de turistas mais velhas. Muitos olham para essas relações como uma espécie de part-time. Senegal Um artigo de 2010 do Globalpost referia que as mulheres iam atrás dos rastas tocadores de batuque por correr entre elas a ideia de que estes homens são bons amantes. Segundo a mesma publicação, os gigolos daquele país veem-se a si próprios como guias turísticos que oferecem alguns extras.
Como na dificuldade de alguns surgem as oportunidades de outros, uma agência de viagens astuta encomendou um anúncio de TV que em poucos dias se tornou viral no YouTube (3,5 milhões de visualizações). Com o slogan Faça-o pela Dinamarca. O filme explora um dado precioso para o negócio: os dinamarqueses têm mais (46% de) sexo durante as férias do que no resto do ano. Dizem os especialistas que tudo se deve à menor pressão e stress dos casais, mas também ao natural erotismo dos quartos de hotel.
O anúncio arranca com a loura Emma, que nasceu na Dinamarca mas foi feita num quarto de hotel em Paris, há 30 anos, numas pequenas férias dos pais. Segue-se um convite aberto a todos os dinamarqueses para que ajudem o seu país a sair da crise de natalidade e mais um número que serve de motivação: 10% dos bebés dinamarqueses foram concebidos em férias. Um simpático terapeuta sexual aparece para garantir que as viagens a dois ajudam a manter a relação quente – faz sentido, sobretudo sabendo que a Dinamarca não é um país tropical.
A melhor parte do spot é o piscar de olhos maroto àqueles que estão mais interessados na prática do que nos resultados. Uma voz off sugere que mesmo que o cidadão já tenha cumprido o seu 'dever', ou não esteja assim tão desesperado para pôr um herdeiro no mundo, pode aproveitar para exercitar. O conselho é mais ou menos este: “Não se trata só de ganhar. O maior prazer está em participar. Participar é competir. Faça-o pela Dinamarca.”
Existe um prémio para os casais mais bem-sucedidos na tarefa hercúlea da procriação. Os que mais rapidamente conseguirem engravidar e provar que a criança foi concebida nas ilhas gregas ou numa rambla de Barcelona, ganham um subsídio mensal durante três anos e uma viagem de férias com o futuro herdeiro – o que já cheira um pouco a presente envenenado.
Se a Dinamarca espelhar de alguma forma o turismo que desagua em Portugal, o Algarve devia candidatar-se a motel da Europa e arredores (muita criança deve ter sido feita no areal da praia da Rocha). Tendo em conta o clima, a comida e a hospitalidade, quem sabe não se desencantava um fundo comunitário para o sul de Portugal?
Sexo e férias são, foram sempre, termos-primos. As férias são uma espécie de hino à libertação, um elogio à falta de regras. Podem, contudo, resvalar num desnorte perigoso. Um artigo do Daily Mail relatava uma série de casos de inglesas que regressaram de férias grávidas ou portadoras de doenças sexualmente transmissíveis. As quantidades de álcool ingeridas, associadas ao espírito de transgressão, acabam por neutralizar uma série de normas de saúde e de segurança, como contou ao jornal uma especialista em marketing que foi de férias para as ilhas gregas e embarcou ela própria numa noite de sexo desprotegido por ter bebido demais, voltando para casa com clamídia (uma doença sexualmente transmissível que, em casos extremos, pode deixar a mulher infértil).
Já um artigo do jornal Independent revelava os perigos das férias que precedem os exames de entrada na faculdade e que se tornaram uma espécie de ritual de iniciação para milhares de jovens. É nessas férias que muitos viajam pela primeira vez sem os pais, que bebem sem controlo e que se estreiam no sexo. A reportagem dá conta de casos de raparigas que acordam zonzas e tatuadas (não se recordando de ter bebido tanto nem de ter feito uma visita a uma casa de tatuagens a meio da noite), outras que perceberam estar deitadas com dois rapazes na mesma cama, e até de rapazes que foram violados e tiveram vergonha de denunciar o caso.
Um grupo de jovens estudantes de uma proeminente escola de Dublin terá dito ao repórter do Independent que nestas férias vale tudo menos voltar grávida. “Vamos preparadas para tudo, mas sobretudo para sexo, drogas e rock & roll.” Uma outra estudante de 18 anos corroborou: “O objetivo é sobreviver às férias e não engravidar.”
Se aos 20 anos o drama é a gravidez indesejada, aos 30 pode ser fazer sexo sem acordar as crianças e aos 40 sobreviver às guerras dos filhos de diferentes casamentos. A combinação que tinha tudo para dar certo (férias e sexo) resulta, por vezes, num fracasso. Veja como, quando e porquê.
MAIS >
Os loucos 20 anos
Muitos jovens experimentam o sexo nas férias. É uma oportunidade de saírem da alçada dos pais e de dormirem fora de casa. Existe no ar uma certa ideia de liberdade. E de pecado. Faz parte.
Susana, hoje com 45 anos, então com 22, recorda-se bem de umas férias no Algarve com a irmã, o namorado dela e mais duas amigas e um amigo. Alugaram um apartamento em Albufeira e passaram as noites a dançar em bares e discotecas. Foi num desses bares que conheceu André, um brasileiro charmoso que nitidamente a 'cantava'. Susana achava-lhe graça mas não atribuía grande importância ao assunto. Até porque tinha terminado há pouco tempo uma relação duradoura e sentia-se magoada. Mas houve um dia em que bebeu demais. Quando deu conta, estavam no carro de André a caminho do seu apartamento. Beijaram-se, entraram em casa, ele levou-a para o quarto, despiram-se e... foram acordados por vozes altas no corredor do hotel. Susana só se lembra de ver André levantar-se, vestir as calças e sair. Soube depois, pela irmã, que estava a chegar ao apart-hotel nessa altura, que o rapaz vivia – ali! – com uma namorada e que era ela quem estava lá fora a gritar. No dia seguinte, assegura, todos na receção a olharam de lado e fizeram comentários. À noite, no bar do costume, a namorada traída estava lá e fez uma cena a Susana. Até ao fim das férias, o ambiente gelou. “Foi uma chatice. E nem sequer houve sexo”, ironiza. E remata: “Depois dessa cena, tornei-me mais cautelosa. Férias são para descontrair, não para arranjar problemas.”
Os duros 30
Ter sexo com bebés ou crianças pequenas em casa é uma aventura maior do que as do Tarzan. Fazê-lo nas férias, num hotel ou num apartamento, muitas vezes com miúdos a dormirem em espaços comuns, como a sala, pode ser um desastre.
É verdade que o casal está longe dos compromissos profissionais, mas as exigências de uma criança tornam-se mais evidentes quando tem os pais ao seu dispor 24 horas por dia. Por outro lado, as expectativas do casal também são maiores: paira no ar uma certa ilusão de que as férias vão resgatar a magia e o romance dos primeiros tempos.
Rita, 39 anos, mãe de dois filhos gémeos, hoje com 10 anos, recorda-se particularmente bem das primeiras férias de verão com as crianças, então com seis meses, no Algarve. Levou a empregada mas esta “desapareceu” ao fim de quatro dias e aquilo que prometia ser um período de paz foi a perspetiva mais próxima que teve do inferno conjugal. Os miúdos passavam a vida a chorar, acordavam de noite com o calor, o marido – que tivera um ano especialmente duro porque aceitara um novo cargo numa empresa de consultadoria – estava sem paciência e ela, prestes a terminar a licença de maternidade, só tinha vontade de chorar.
“Acho que durante 15 dias fui à praia uma vez ou duas. Tive momentos de me ir completamente abaixo, alturas em que recebia chamadas da minha mãe ou da minha irmã e desatava a soluçar. Sexo? Acho que nem por uma vez pensei nisso. Só queria voltar para casa. Olhava para o João [marido] e via um estranho, tão farto daquilo como eu.”
Aos 40 é que vai ser
Os filhos estão crescidos e já podem ir à sua vida; a libido continua em alta apesar da sombra de um pneuzinho na barriga; muitas ilusões ficaram pelo caminho; escolhe-se um parceiro mais compatível. Ainda assim... há sempre um mas, não é?
Muitos casais de 40 anos passam as férias a discutir, em vez de fazer aquilo que os dinamarqueses mandam. Alguns porque os filhos passam a noite em discotecas, chegam a casa bêbados e dormem até às quatro da tarde – e em vez de os mandarem de comboio para casa, os pais guerreiam sobre quem vai ralhar, quem falhou na educação, etc., etc., etc. Outros porque carregam filhos de diferentes casamentos e eles aproveitam esse período para se conhecer melhor, que é como quem diz, para passar a vida numa batalha que acaba com a paciência, e por vezes a própria relação, dos pais.
Alexandra tinha sonhado muito com aquelas férias. Eram as primeiras que tirava com o namorado, as duas filhas (de 11 e oito anos) e os filhos dele (uma miúda com dez anos e um rapaz de 12). Diz que os primeiros cinco dias correram mais ou menos bem, a partir daí, foi sempre a piorar. “As minhas filhas queixavam-se de que a filha dele era autoritária e mentirosa; o meu filho bateu no filho dele no meio de uma discussão. Lembro-me de ele ficar furioso e vir perguntar-me o que é que eu tencionava fazer com o Zé [o filho] e de eu ter gritado: ‘Tenciono desaparecer e é já.’”
Voltou para casa e deixou de atender o telefone ao namorado. Três dias depois, menos zangada, mandou-lhe uma mensagem de paz. Semanas mais tarde, tiveram uma conversa franca sobre o assunto e resolveram não fazer férias todos juntos nos tempos mais próximos – “até os miúdos serem mais velhos, mais responsáveis”. Depois da conversa, tiveram uma noite de sexo inesquecível. Aliás, é costume terem ótimo sexo, sobretudo nas férias, mas só aquelas que passam sozinhos...
