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A minha sogra é um anjo
No Brasil, o Dia da Sogra assinala-se a 28 de abril, data que ainda não encontrou par em Portugal, mas que nos fez refletir sobre o papel da sogra na dinâmica de casal.

De bruxa a fada-madrinha, há conselhos que ficam para a vida e estes, das sogras, foram a boia de salvação das histórias de amor que se seguem.
Numa pesquisa rápida pela Internet sobre o assunto "sogra", a esmagadora maioria das considerações aponta para o cliché do costume que, de forma mais ou menos declarada, acaba por cair na definição de "malvada" e de outros "elogios" do género, atribuindo-lhe não raras vezes a origem dos problemas que acontecem numa relação a dois. Não é assim, não tem de ser assim. Há sogras e sogras, do mesmo modo que há relações e relações e atribuir os males do mundo à mulher que deu vida à pessoa amada é cair numa generalização perigosa. Antes de desistir de ler este artigo e de estar já a murmurar impropérios contra a avó dos seus filhos, respire fundo e inspire-se com as histórias felizes que temos para lhe contar. São quatro casos reais em que a sogra se revelou boa conselheira. A sogra pode ser um bicho complicado, mas uma coisa ninguém lhe tira: a experiência. A psicóloga clínica Rita Almeida ajudou-nos a perceber de que forma é que esta partilha de palavras (sábias) favorecem o bom relacionamento e harmonia do casal.
O conselho
"Nunca se deitem zangados"
Porque resultou comigo
Mariana Albuquerque, 33 anos, vive como namorado, Emilio, há oito anos. Conheceram-se em Milão quando ambos estudavam História da Arte. Ela é portuguesa, ele italiano. Já estavam juntos há dois anos quando conheceram a família um do outro. "A mãe dele foi logo muito calorosa, entre abraços e beijinhos, e fez tudo para me fazer sentir em casa, à vontade." Quando se despediram perguntou a Mariana quais eram as intenções com o filho, ao que ela respondeu: "Ser feliz." Para isso, disse a sogra, havia uma regra básica a cumprir: "Nunca se deitarem zangados, deixando arrastar uma chatice que, às vezes, não é nada mas que com o tempo pode escalar para um problema sério." Mariana e Emilio esforçam-se por cumprir e a verdade é que hoje admitem ser capazes de comunicar abertamente, a qualquer hora, sobre tudo o que possa gerar discussão.
O que diz a psicóloga
"Os conflitos fazem parte das relações humanas e as relações amorosas não são exceção. Conflitos não são obrigatoriamente maus, são antes o motor que permite a mudança e dota de vida uma relação. Pode-se considerar que o mesmo é necessário ao seu crescimento, sempre que resultar em diálogo e discussão construtiva. Assuntos pendentes hoje tornam-se muito maiores amanhã ? é como se os estivéssemos a alimentar. Mesmo que o casal consiga abordar o problema no dia seguinte, já não o irá conseguir abordar de forma igual, uma vez que o mesmo já se tornou maior. Devem-se esforçar por fazer uma espécie de pausa nas suas divergências e encontrarem-se com a ligação afetiva que os une, encerrando o seu dia em harmonia, como companheiros/elementos da mesma equipa e não como rivais. Lembre-se, por mais difícil que o dia tenha sido, deite-se sempre ao lado do seu parceiro, não do seu inimigo!"
O conselho
"Não precisam de estar sempre colados aos filhos"
Porque resultou comigo
Andreia Santos foi mãe há dois anos e há dois anos que deixou de existir. Aos poucos foi largando o trabalho e de repente deu por si, aos 31 anos, completamente obcecada com a função de mãe. Esqueceu-se de ser companheira, amiga e mulher e isso refletiu-se na relação com o marido. Ele tentava fazer planos, ela desmarcava-se sempre com o argumento de que não se podia afastar do filho. A relação do casal tremeu, tornaram-se cada vez mais distantes e Andreia, já perdida com a situação, recorreu à sogra para se aconselhar e percebeu que o sentimento de culpa, afinal, é comum a todas as mães e que a libertação, apesar de difícil, é um passo obrigatório para a felicidade da família.
O que diz a psicóloga
"Muitas vezes, a sociedade, bem como a própria família e amigos, favorecem a construção de um sentimento de culpa associado ao facto de gozarmos momentos sem que estes se associem aos filhos, como se fôssemos maus pais por isso. Querer fazer outras coisas, como dormir, namorar, passear sem limitações, jantar com os amigos é sinónimo de egoísmo e falta de amor pelos filhos? Não! É só ser-se uma pessoa saudável! Uma ideia contrária a esta é muito perigosa, quer para o casal quer para o bem-estar psicológico dos pais e dos filhos. Do ponto de vista das crianças, o facto de os pais fazerem ‘coisas’ sem elas é protetor do seu saudável desenvolvimento e não o contrário. Quando um pai ou uma mãe não têm espaço para ser mais do que isso mesmo, estão limitados na sua condição humana, podendo canalizar para a relação com os filhos ou com o cônjuge ? ainda que inconscientemente ? essas frustrações. Implementar a rotina de, com frequência, jantar fora, ir ao cinema ou ao teatro, passar fins de semana e parte das férias sem as crianças não deve ser culpabilizante, antes pelo contrário."
O conselho
"Nunca se desautorizem um ao outro"
Porque resultou comigo
Miguel cresceu numa família em que as regras eram ditadas exclusivamente pelo pai. "Sempre foi uma pessoa muito austera, pouco dada a negociações e isso sempre me fez sentir preso num esquema de valores já pré-definido, sem margem de manobra." Muitas vezes recorria à mãe para tentar amolecer ou reverter as decisões do pai e, sempre que o conseguia, isso resultava em chatices entre o casal. Desde que foi pai, há oito anos, Miguel apercebeu-se que tentava fazer o contrário do que tinha sido a sua experiência, facilitando a vida à filha sempre que do lado da mãe surgia um "não". A relação com a mulher complicou-se e, em relação à filha, percebeu que estava a criar "uma pequena ditadora". Foi a sogra que puxou a conversa, lembrando-o que, mesmo não concordando, devem sempre manter a palavra um do outro e, no limite, resolver as divergências depois, a dois.
O que diz a psicóloga
"A educação, as crenças, a história de vida e as reflexões individuais de cada um fazem com que os pais muitas vezes tenham opiniões diferentes no que diz respeito às expectativas e forma de agir junto dos filhos. É natural que assim seja. A imagem a passar aos mais pequenos deve ser a de que o casal funciona como uma unidade, ou seja, que aquilo que o pai diz será aquilo que a mãe defende e vice-versa. Quando assim não é, as crianças facilmente entendem que têm margem para negociar, boicotar, criar desacordo entre os pais, por forma a obter o que desejam. Não é preciso grandes esclarecimentos teóricos para perceber que este comportamento não favorece uma relação a dois positiva, onde a hierarquia não deve assumir lugar, mas antes a igualdade que pode caminhar ao lado da diferença de opiniões, claro. A regra de ouro será a de que, quando surgirem desacordos, haja uma discussão no seio do casal ? sem audiência."
O conselho
"Quando achares que está tudo perdido, abre uma garrafa de vinho e pensa nisso depois"
Porque resultou comigo
"As minhas relações sempre foram inconstantes… muito por causa da minha inflexibilidade." Tânia, 39 anos, admite que o facto de ter uma personalidade explosiva e de ser "muito pouco paciente" contribuiu largamente para o fim das suas relações. Há cinco anos que está com Eduardo, um homem que, diz, é o oposto dela "em termos emocionais. É muito mais calmo e ponderado e evita qualquer tipo de confronto quando percebe que o motivo não justifica uma chatice". A sogra assistiu a um desses momentos em que Tânia reclamava, irritada, com o mundo e, perante a pacatez do namorado, começou a ficar cada vez mais irritada com a sua falta de reação, até chegar ao ponto em que soltou um "vou-me embora, ficamos por aqui". Quando virou as costas, já pronta para abandonar a relação, a sogra, "mulher de poucas palavras", sussurrou-lhe ao ouvido aquele que viria a ser um dos conselhos mais valiosos para o futuro da relação ? que entretanto resultou num casamento e três filhos. "Percebi o que me queria dizer: que há alturas em que é preciso parar e refletir. O vinho é só uma das opções, mas um bom banho com sais relaxantes também faz o mesmo efeito."
O que diz a psicóloga
"Quando uma determinada situação nos deixa emocionalmente frustrados ou angustiados, temos dificuldade em olhar de forma racional para a situação. Quando assim é, tendemos a ser impulsivos, que mais não é do que agir sem pensar ? apenas seguimos a emoção que estamos a viver. O problema é que muitas vezes tal caminho não é coerente com a razão, que não foi contemplada nesta equação. Assim sendo, quando nos sentimos desesperados, se em vez de cedermos ao impulso, podermos parar/não agir, e permitir que esta emoção diminua de intensidade, estamos a ser mais inteligentes do ponto de vista relacional. Quem nunca se arrependeu de ter agido de ‘cabeça quente’ e ter dito ou feito coisas que não sentia?"
Por Nelma Viana
*Texto originalmente publicado na edição de abril de 2017 (nº 343)


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