Vamos falar de sexo

  Roser Amills diz que as mulheres gostam de sexo oral. Ou seja, gostam de histórias, contadas ao ouvido. O seu livro, As 1001 Fantasias Mais Eróticas e Selvagens da História, compila as aventuras e jogos sexuais de várias personalidades. Para inspirar conversas, à mesa ou na cama.

Vamos falar de sexo
13 de setembro de 2013 às 06:00 Máxima

 

Como surgiu a ideia de escrever este livro?

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Para documentar o meu livro anterior, o poemário Morbo, investiguei o que algumas personalidades que admiro haviam dito sobre erotismo. A minha curiosidade inata encarregou-se do resto: Patti Smith declara masturbar-se para poder escrever, Scarlett Johansson adora os assentos de trás dos carros, Tarantino tem uma fixação por pés, Amy Winehouse gostava de levar palmadas no rabo e Mick Jagger de colocar chocolate entre as pernas da sua parceira. Assim descobri que havia um livro que gostava muito de escrever: sobre a inteligência das personagens que tinha investigado e as suas fantasias eróticas. Gosto de reconhecer o sexo como motor de criatividade, como alavanca que despoleta biografias e etapas históricas sobre o desejo e o erotismo.

 

Foi um processo divertido?

Documentar-me foi mesmo o mais divertido e estimulante porque passei um ano a ler biografias que me levavam a outras, ou a correspondências íntimas e crónicas em busca de fantasias, inspirações gloriosas e anedotas sexys. Passei um ano a conversar com amigos escritores e jornalistas e isso gerou tertúlias animadas em redor de todo o tipo de personagens… Alguns deles chegaram mesmo a partilhar as suas próprias fantasias.

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Quais foram os episódios mais estimulantes que encontrou?

Os paralelismos e coincidências que fui encontrando foram muito interessantes: ao investigar tantas personagens de uma só vez, localizei e compreendi triângulos e outras geometrias amorosas, como o de Paul Eluard, Gala e Dalí, ou o de Lou Andreas-Salomé com Nietzsche, Paul Rée, Freud e Rilke... Enfim, cada fantasia tem a sua história secreta e apaixonante que daria para escrever muitos romances: eu conto a essência mais hot e deixo ao leitor a possibilidade de imaginar o resto.

 

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Ficou algum material de fora?

Deixei de fora o que não estava suficientemente documentado. Comparei correspondência íntima confrontando versões para que fossem 100% fiéis à realidade. Quando não tinha uma fonte fidedigna, investigava mais ou desvalorizava. Fui um verdadeiro rato de biblioteca mas também me ri muito, excitei-me e compreendi a solidão de todos os artistas e pensadores que viviam à frente do seu tempo.

 

Houve algum tipo de censura (autocensura inclusive)?

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Censura externa, por sorte, não. Já eu não julgo nem censuro, só observo. Percebi que quem contava e partilhava as suas fantasias eróticas teve uma vida sexual mais rica e feliz, sem mentiras, enquanto que quem guardava tudo para si acabava por ser um desgraçado. Prefiro os primeiros. Porque será?! Se me autorrefreei, foi por um motivo específico: foi porque tinha demasiada informação. Na verdade, podia contar mais mil (é o que vou fazendo no meu blogue roseramills.com). Há muito material inédito e suculento graças às complexas redes que criaram o contexto de cada época: há fantasias eróticas e selvagens que mudaram a história de uma forma direta.

 

Há um capítulo inteiro dedicado à alimentação. Trata-se de um ingrediente indispensável nas fantasias sexuais?

Há fantasias para todos os gostos. A questão erótico-gastronómica teve muitos seguidores ao longo da história, quem sabe se por, depois do sexo, ser esse um dos grandes prazeres dos mortais e também porque a comida e o sexo casam muito bem. Se tivesse de escolher a personagem que melhor combinou erotismo e gastronomia escolhia Salvador Dalí: a cozinha fascinava-o, era como um orgasmo, e o seu sonho era poder reduzir Gala até ao tamanho de uma azeitona, para poder comê-la depois. “O canibalismo é uma das manifestações mais evidentes de ternura”, disse numa entrevista em 1971.

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O livro fala de paixões e traições, separações e histórias de amor. Acredita que, no que a estes temas diz respeito, a realidade ultrapassa a ficção?

Há uma longa lista de personalidades que ocultaram as suas preferências e sofreram muito com isso, o que nos pode dar que pensar. Mas a verdade é que se qualquer um de nós contasse as suas fantasias eróticas com sinceridade causaria arrepios. O que se passa é que estas personagens, por serem figuras públicas, não se puderam esconder nos seus quotidianos. É daí que vem a graça e a surpresa do livro. Por outro lado, esse exercício de tolerância demonstra que o que guardamos para nós é mais natural do que imaginamos.

 

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Qual a importância das fantasias numa relação?

A imaginação é o nosso maior tesouro. É capaz de acrescentar às relações a indispensável dose de emoção e erotismo. “Os adultos precisam de literatura obscena como as crianças precisam de contos de fadas, de forma a podermos libertar-nos da força das convenções”, dizia o sexólogo Havelock Ellis. Além disso, nós, mulheres, tornámo-nos “utilizadoras” do erotismo literário e começámos a produzir os livros que queremos ler. Compreendemos que isso pode ser um recurso para a nossa autoestima: quanto mais fantasias eróticas formos capazes de partilhar, mais cumplicidade teremos com o nosso parceiro. Nada é pouco saudável se for feito de comum acordo entre amantes, menos ainda se for do domínio da fantasia. Uma das minhas intenções foi precisamente que o livro fosse divertido e suscitasse conversas entre casais com inquietações culturais. É como digo na introdução: se o teu companheiro ou companheira é demasiado intelectual ou se está aborrecido, conta-lhe alguns destes episódios e verás como se ri.

 

A ideia é entreter ou inspirar?

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Encanta-me a possibilidade de dar ao sexo uma potência narrativa que, por exemplo, os filmes pornográficos não têm (por estarem mais focados no estímulo visual, mais eficaz entre o universo feminino). Encanta-nos o sexo oral – que nos sussurrem histórias ao ouvido – e agradecemos a intensidade de um bom relato para fantasiar e estimular os nossos neurónios, responsáveis pela excitação. Se tiver de eleger uma, escolho a atitude de Casanova: dizia que cultivar os prazeres dos sentidos era a principal tarefa da sua vida. Sem dúvida que deixar-se levar pelas fantasias pode proporcionar vivências únicas e positivas. Sou a favor de sermos generosos com as nossas fantasias, sem repressões absurdas. Divertirmo-nos, também no que respeita à imaginação, rejuvenesce. 

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2 de 6 / O seu sonho era poder reduzir Gala até ao tamanho de uma azeitona, para poder comê-la.
3 de 6 / Segundo a biografia Star: How Warren Beatty Seduced America, o ator teve relações sexuais com 12 775 mulheres.
4 de 6 / O baixista dos Sex Pistols foi o primeiro a fazer sexo com uma das suas groupies, em palco, durante um concerto da banda.
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5 de 6 / Mario Vargas Llosa conta, em El Paraíso en la otra esquina, que o pintor precisava de fazer sexo para poder pintar.
6 de 6 / No final de um concerto pediu a um segurança que lhe trouxesse o primeiro
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