Um filho único pode crescer feliz e com relações positivas?

Temos apenas um filho já que, por termos passado por um logo processo de infertilidade, apenas consegui engravidar aos 39 anos…

05 de agosto de 2015 às 11:37 Dra. Catarina Rivero

Temos apenas um filho já que, por termos passado por um logo processo de infertilidade, apenas consegui engravidar aos 39 anos… Sempre sonhei ter vários filhos e preocupa-me que, por falta de irmãos, fique mimado ou com maiores dificuldades relacionais no futuro. Todos me falam dos riscos do filho único… que podemos fazemos fazer para o ajudar a crescer feliz? Celeste, 43 anos, Braga.

Cara Celeste, desde já a felicito pelo cuidado com a educação do vosso filho, considerando as necessidades afetivas e relacionais.

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Ter um filho único tem sido cada vez mais uma opção ou possibilidade de muitos casais da atualidade. Tal prende-se com diversos fatores, como uma parentalidade mais tardia, famílias em que ambos os elementos do casal trabalham muitas horas, menor disponibilidade de suporte (ou relação) da família de origem, limitações económicas, bem como situações de infertilidade, entre outros.

Muitos pais mostram-se preocupados com o potencial de felicidade do seu filho, considerando que, por ser filho único, pode perder uma série de experiências fundamentais para um crescimento positivo. Quando falamos de bem-estar e felicidade, consideramos, de acordo com a investigação, diferentes dimensões, como o experienciar emoções positivas, capacidade de se envolver em atividades gratificantes, ter um propósito/ sentido para a vida, e relações positivas. O bem-estar irá depender assim do estilo explicativo da realidade (maior otimismo) que pode ser fortemente impulsionado pelos pais ou educadores, as relações que estabelece e a sua capacidade para ter objetivos individuais, mas também coletivos (poderão ser desenvolvidos entre irmãos, colegas de escola, clube, escuteiros, ou outra instituição da comunidade). Neste sentido, tanto filhos únicos como filhos de famílias mais numerosas, têm possibilidade de ter um elevado nível de bem-estar individual e relacional. Uma criança com capacidade de brincar e fantasiar, de se auto-motivar para os seus objetivos, de procurar soluções para as adversidades, de criar e manter relações positivas com amigos, familiares e comunidade, de apreciar o que de bom acontece, e celebrar os ótimos momentos em família, aumentará o seu potencial de bem-estar subjetivo presente e futuro. E aqui os pais podem ser facilitadores e inspiradores para que a criança abrace a vida positivamente, abrindo portas ao mundo com experiências significativas.

Naturalmente que o facto de crescer entre irmãos é um fator facilitador de socialização entre pares. A fratria acaba por ser um laboratório de excelência para o desenvolvimento de competências sociais, onde as crianças experimentam emoções e comportamentos relacionais, onde aprendem a cooperar e a crescer em conjunto mas, na sua ausência, as crianças não ficam condenadas à infelicidade ou inaptidão relacional. Não havendo irmãos, o desafio dos pais passa por aumentar o contacto com outras crianças (como primos, vizinhos, filhos de amigos, para além dos colegas da escola), de modo a estimular a socialização entre pares, evitando assim que filhos únicos cresçam num ambiente apenas de adultos.

Com um único filho, pode haver ainda a tendência para um sobre-investimento na educação deste, pelo que é importante expressar amor e dar mimos, mas também estabelecer regras e limites. Dar espaço para brincar sozinho e com outros, errar, cair, sujar-se e ser criança, sempre com apoio nas múltiplas aprendizagens diárias que todas as crianças, com ou sem irmãos, fazem a cada dia.

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