Tenho vergonha do meu corpo e já não aguento dietas… o que fazer?

Magda, 22 anos, Lisboa.

19 de agosto de 2015 às 07:00 Dra. Catarina Rivero

Desde sempre que tenho tendência para engordar, algo que herdei da minha família materna. Com a entrada na adolescência escondia-me em roupas largas e evitava praia com amigos. Mais tarde comecei nas dietas, sem sucesso a longo prazo. Ainda fui para o ginásio, mas detestei. Quando chega o Verão desespero… este ano recusei o convite de amigos para ir fazer férias no Algarve porque tenho vergonha do meu corpo e estou sozinha em Lisboa. O que posso fazer? 

Cara Magda, desde já a felicito por refletir na relação que tem vindo a estabelecer com o seu corpo. O mais importante é reconhecermos que algo não está bem, para então encontrarmos um equilíbrio ótimo de bem-estar.

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A imagem corporal é um tema frequente, sobretudo quando chega o Verão. Tal passa por questões culturais que incutem um ideal de beleza associado a magreza, tal como podemos assistir nos media, mas também nas conversas informais de familiares e amigos. Muitas mulheres (mas cada vez mais homens também) sentem-se mal com a sua forma corporal. A título de curiosidade, estudos americanos encontraram entre milhares de mulheres, que cerca de 90% estava insatisfeita com o seu corpo, e quase 70% queriam perder peso…  Na maioria dos casos, tal não tem a ver com a saúde, mas com a imagem perante si e os outros.

Querer melhorar a forma física pode ser positivo, nomeadamente ao nível da saúde (e é importante monitorizarmos a nossa situação de saúde e encontrarmos um equilíbrio alimentar saudável). Querer melhorar a aparência também pode ser bom, desde que tal não se torne o centro da vida e pensamentos diários e que, tal como está a acontecer com a Magda, não impeça de fazer a sua vida de forma gratificante, chegando em alguns casos a uma perspetiva distorcida da própria imagem e comportamentos pouco saudáveis ou até mesmo lesivos. Quando tal acontece, é importante parar e refletir sobre a forma como se relaciona consigo própria como um todo – não só com o corpo, mas também com a vida em geral. O que gosta em si? Que atividades gosta de fazer? Quando se sente bem? Em que momentos se sente especial? Muitas vezes existe um perfecionismo exagerado, que pode levar a expectativas de padrões de perfeição pouco realistas e que podem levar a frustrações sucessivas, comprometendo seriamente o bem-estar emocional e até físico. Tal pode levar mesmo ao isolamento, de forma a evitar o confronto perante outros naquilo que são as nossas "imperfeições" (de acordo com o ideal criado).

Neste sentido, muitas vezes acontece uma tendência para estabelecer objetivos que são sentidos como mágicos – como se alcançá-los viesse a dar resposta a qualquer mal-estar emocional. O que geralmente acontece é que, mesmo quando se atinge esse objetivo (seja uma dieta, uma casa nova, um aumento do ordenado, um namorado ou um filho), depois de algum tempo de satisfação, volta-se ao padrão de ruminação sobre o que não está bem (e haverá sempre uma ou outra imperfeição no corpo, comportamento, ou vida em geral, considerando os padrões elevadíssimos que a sociedade atual estabelece). Trata-se de um processo de adaptação hedónica, em que corremos (como os ratinhos na roda de uma gaiola) para alcançar algo, mas acabamos por, mais cedo ou mais tarde, voltar ao mesmo lugar em termos de bem-estar. Aceitar a vida atual (ou a imagem corporal atual), mesmo considerando que não é a que gostaria, pode dar espaço a introduzir melhorias, mas não colocando aí todo o foco da sua vida (somos muito mais que a avaliação social do nosso corpo nos pode trazer), permitindo manter uma relação positiva consigo e os demais, criando diversos objetivos e interesses.

Que soluções? Não podendo aqui encontrar soluções específicas para a situação da Magda, ficam possibilidades gerais que para algumas pessoas têm sido úteis:

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1. Diversificar interesses no dia-a-dia (hobbies, trabalho/escola/faculdade, estar com familiares e amigos, etc.)

2. Listar, escrevendo, o que gosta e aprecia em si e na sua vida

3. Focar-se mais nos aspetos saudáveis, e menos na imagem (seja pela alimentação, horários de sono, atividade física, objetivos diversos, relações sociais, etc)

4. Identificar uma atividade física de que goste (caminhadas, yoga, bicicleta, corrida, dança ou outra) e introduzir na agenda

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5. Criar objetivos para os seus dias, que sejam fora das dietas ou forma física

6. Estar com pessoas de quem gosta, evitando a conversa das dietas, cultivando temas e atividades conjuntas gratificantes.

7. Cultivar o sentido de humor positivo (rir de nós e com os outros pode ser de grande ajuda)

8. Celebrar os seus dias com atividades saudáveis do ponto de vista físico, emocional e social.

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Todavia, se mantiver a sensação de estar a alimentar uma relação negativa com o corpo e com impacto negativo em mais áreas da sua vida, pode ser ótimo recorrer a um psicoterapeuta que a irá ajudar a ultrapassar esta fase. 

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