Desde que a nossa filha nasceu, a minha esposa e a minha mãe começaram a ter muitos conflitos, ao ponto da menina já ter perdido o contacto regular com a minha mãe. Sinto-me no meio das duas e converso muito com a minha mulher sobre a importância dos avós… como já perdi argumentos, venho pedir ajuda… é ou não importante encontrarmos um equilíbrio para a nossa filha ter contacto com a avó?
Caro Diogo, o tema dos avós é recorrente e as tensões com a chegada de um primeiro filho não raras vezes emergem. Encontrar um novo equilíbrio será o desafio de todos… são múltiplos os caminhos possíveis e deixarei alguns pontos a considerar na reflexão conjunta.
A chegada de um filho traz geralmente, a par de inúmeras alegrias, um turbilhão emocional e relacional. Um dos pontos é de facto o casal ter de encontrar espaço para a parentalidade e, para além das inúmeras ‘gestões’ (cuidados do bebé, casa, carreira, dinheiro, amigos, hobbies, conjugalidade…), haverá a gestão da relação com os pais/sogros, agora avós. As crianças têm o direito a esta relação com os avós, bem como o inverso. Na maioria dos casos, esta é também a vontade dos pais… mas as tensões por vezes falam mais alto.
A relação entre avós e netos pode efetivamente ser uma mais-valia afetiva, quando a harmonia familiar acontece e eventuais tensões são geridas de forma satisfatória. Se é verdade que os tempos mudam, continuamos a ter muitos avós que cuidam dos netos quando os pais vão trabalhar e muitas vezes os pequenos (e mais crescidotes) dormem algumas noites em casa dos avós, ou lá fazem os trabalhos de casa, despacham os banhos e, claro, muitas brincadeiras. Outros avós, têm vidas mais animadas e recusam o papel de cuidador a tempo inteiro… ou vivem longe… mas a qualidade da relação poderá ser sempre alimentada, independentemente da quantidade de tempo e disponibilidade (até pela idade e saúde dos avós).
Todavia é comum os avós assumirem o papel de educadores, e, de modo geral, com maior serenidade que os pais, com muitos mimos (importantíssimos!) e cuidado especial ao passar valores fundamentais. Não há aqui substituição, mas um papel complementar. Todos serão importantes no desenvolvimento da criança, e esta irá sempre saber distinguir os papéis.
São ainda os avós que passam muitas vezes o sentido de continuidade da família, contando as histórias das gerações passadas, dos lugares, das aventuras… reforçando assim, junto dos pequenos o sentido de ser família. As cumplicidades aparecem com frequência, e quando a relação é positiva, são encarados como um porto seguro. Muitos netos (crianças, adolescentes ou jovens adultos) referem que dos avós sempre tiveram compreensão e um carinho, uma experiência de amor incondicional, que os reconforta mesmo nas habituais desavenças com os pais. Nestes casos, cresce uma relação de partilha e entreajuda até à idade adulta dos netos, e ao envelhecer dos avós.
Verificamos uma tendência para, depois do nascimento dos netos, haver uma maior aproximação das gerações mais velhas, principalmente da linha materna. Um maior suporte acontece e as cumplicidades podem ter aqui o seu início. A relação com os avós paternos, porém, deverá ser igualmente cuidada, reforçando-se a rede social e afetiva da criança e enriquecendo as suas ligações e experiências relacionais. A qualidade desta relação entre avós e jovens pais irá depender, naturalmente, da forma como a dinâmica relacional foi acontecendo ao longo da vida. Quando as tensões surgem, é tempo de conversar, partilhar expectativas e sonhos, dificuldades objetivas ou subjetivas, e aí encontrar soluções de compromisso onde o bem-estar da criança seja a prioridade.
De notar ainda que cada vez mais jovens pais vivem com algum apoio dos avós dos filhos… para ir buscar à escola, para pagar as contas do colégio, ou da casa. Havendo uma boa diferenciação prévia, em termos de papéis desempenhados, os jovens pais terão facilidade de apoiar a relação avós-netos, pedir uma eventual ajuda e estabelecer os limites que considerarem adequados. Quando há maior tensão, os jovens pais podem sentir-se invadidos pelos avós (pais/sogros) e ter uma maior dificuldade em gerir esta aproximação. É importante que o casal converse entre si, mas também que os avós deem esse espaço, considerando a sua própria experiência de vida. É importante que os jovens pais se sintam validados na sua atuação educativa, pelo que os avós ganharão em tentar agir em concordância com os jovens. A forma como definem o esperado, pode promover bem-estar nas crianças, mas também nos adultos.
Quando as tensões entram numa espiral negativa, ou chegam a um afastamento ou corte relacional, poderá ser útil ter a ajuda de um profissional de Terapia Familiar, com quem poderão refletir e definir estratégias e soluções conjuntas.