O despertador toca e queremos ficar só mais uns dez minutos no bem-bom, naquele estado de despojamento e de esperança em que tudo é possível. Lembramo-nos do colo que tínhamos na infância, quando nos embalavam e asseguravam que tudo ia correr bem. O despertador toca e sabemos que está frio fora de casa. Lemos as notícias, ouvimos o boletim meteorológico, não nos apetece sair. Estamos tão bem ali no conforto, afundados nos cobertores quentes e fofos… mas somos adultos e é a nós que exigem tudo. Que sejamos bons pais, bons profissionais, bons amigos, sempre disponíveis e de boa cara. Mesmo quando o despertador toca e não nos apetece começar, temos de o fazer. Agir, tomar decisões, comandar os dias.
Controlamos as nossas vidas. Tentamos, pelo menos. Levantar, tomar banho, preparar o pequeno-almoço e a marmita do século XXI. Arranjamo-nos, disfarçamos a nossa beleza natural, cobrimo-nos com uma capa resistente e lá avançamos para mais um dia. Temos tendência a culpar uma chuva ou um frio desnecessários por nos sentirmos desanimados ou um calor excessivo pela falta de paciência. Dependemos do exterior para justificar o que sentimos? Não será altura para a nossa pequena e tímida voz interior gritar um "stop" irado e aprendermos a controlar a nossa mente e o nosso estado de espírito? Qual a necessidade de deixar que seja um factor aleatório, neste caso, o estado do tempo, a ditar e manipular os nossos humores? Chove? E depois? Sem chuva não há Primaveras coloridas. Por outro lado, para grandes males, grandes remédios e é importante conhecermos as ferramentas existentes ao nosso alcance para limitar o mau-humor.
Aqui ficam duas simples ideias para conseguirmos ficar um bocadinho mais felizes da vida
1) Arranjarmos vagar para nós mesmos! Se damos tanto aos outros, porque não nos mimamos mais? Pode ser sob a forma de um passeio tranquilo numa hora de almoço rotineira, um banho de imersão que depressa se pode transformar num banho de emoção, se sentirmos que cada momento connosco, em paz, nos dá a energia suficiente para estarmos melhor com os outros. Gosta de ler mas não tem tempo? Obrigue-se a fazê-lo ritualmente alguns minutos por dia. Um tempo só seu! A televisão é raptada pelas crianças que devoram os seus sensaborões programas infantis (e ainda pior, as séries juvenis!)? Determine um serão para os adultos! Ponha os filhos na cama mais cedo, convença-os, faça o pino, mas permita-se a uma sessão de um bom filme, uma série policial, uma história romântica. Se vive só e sofre de dependência profissional, comprometa-se a não levar (demasiado) trabalho para casa. Se o que trouxer do emprego para terminar em casa não forem relatórios ou outros produtos palpáveis mas sim preocupações, esqueça! Não vai resolver os problemas durante a noite ou no fim-de-semana e se não dormir o suficiente, ficará com um humor potencialmente mais destrutivo.
2) Estar com pessoas de que gosta! Dito assim parece absurdo… normalmente estamos com quem gostamos, mas para além da família, que amigos andam a ser relegados para segundos, terceiros planos? Aquela boa amiga do liceu, o casal amigo sem filhos que continua a ter uma vida aparentemente invejável e louca, o casal com filhos que só pensa em fraldas, biberons e bombas para tirar leite, mas que aparte disso são normais, os vizinhos do antigo prédio onde viveram, grandes noites de convívio, uma amizade até que a porta da rua não fica lado-a-lado… pessoas que nos cruzámos na vida e nos deram tanto prazer e que agora são esquecidas, são números de telefone sem utilização, são felizes aniversários pelo facebook uma vez por ano.
São estas as primeiras recomendações para que os sorrisos regressem ao seu habitat natural, os nossos rostos!
Muitas felicidades!
Ana Marques da Silva, psicóloga