A magia da piscina em livro

Lou Stoppard inspirou-se nas piscinas enquanto elemento da cultura popular para realizar um livro recheado de arte e frescura. Das imagens de autor às referências literárias, é uma edição para mergulhar sem sair de casa. Entrevistamos a autora que nos explica a obra na primeira pessoa.

Foto: Polly Brown
04 de junho de 2020 às 07:00 Carolina Carvalho

Jovem, criativa e apaixonada por nadar. Lou Stoppard pensou e concretizou o livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli. O livro está organizado por temas (como a autora explica mais à frente) e conta com imagens que inúmeros fotógrafos de diferentes épocas fizeram de piscinas, assim como pinturas, referências da literatura a momentos na piscina e textos que exploram a importância da piscina. Entre uma paleta infinita de tons de azul é fácil chegar à conclusão que a piscina é o cenário perfeito para os mais variados enredos. O verão está à porta, mas ainda não sabemos quando será possível dar mergulhos, por isso deixemo-nos refrescar pela magia das piscinas, com a ajuda de Lou Stoppard.

De onde vem a sua atração por piscinas? Estas têm um lugar especial nas suas memórias de infância?

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Eu sou uma espécie de nadadora obsessiva. Quando era adolescente, era nadadora de competição, por isso habituei-me a passar noites e fins de semana na piscina. Quando fui para a universidade parei completamente e não voltei à piscina durante anos. Comecei a reparar que tinha ganho algum medo de água. Senti-me ansiosa onde não tinha pé e assustava-me com sombras na água. Tenho uma imaginação muito fértil, por isso comecei a imaginar todo o tipo de coisas horríveis. Eu sabia que queria curar esse medo, por isso comecei a nadar com frequência. Lagos, rios, lagoas, piscinas, eu entrava. Agora nado sempre que posso.

Como surgiu a ideia deste livro?

Eu queria fazer este livro há anos, por isso tenho colecionado fotografias de piscinas durante muito tempo. De certa forma, é difícil encontrar um fotógrafo que não tenha feito uma imagem de uma piscina, a dada altura. E tantos fotógrafos fizeram ótimas fotografias de piscinas, imagens famosas, que todos conhecemos e das quais gostamos. Stephen Shore e Guy Bourdin são apenas dois ótimos exemplos disso mesmo. Eu sabia que queria uma mistura de fotógrafos (jovens, mais velhos, celebrados, desconhecidos) e também uma mistura de estilos e géneros, desde a moda até ao documentário. Parte disto tinha como objetivo mostrar a forma como a piscina se mantido um espaço sedutor para fotógrafos, ao longo dos anos, é negativo chamar-lhe um tropo, mas, de certa forma, é. Há várias imagens de piscinas na história da fotografia.

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Fiquei fascinada por incluir obras eu sempre adorei, como a série The Swimming Pool de Deanna Templeton. No que toca aos capítulos, eu diría que o capítulo Coming of Age é, provavelmente, o meu preferido, ele capta o tipo de sentimento selvagem que se tem quando se é jovem à volta da piscina, a correr e saltar, ou claro, o sakteboard numa piscina vazia. Este capítulo conta com imagens de uma seleção mesmo interessante de fotógrafos: Alex Webb, Michelle Sank, Esther Kroon, Harry Gruyaert, Alice Hawkins, Paul D’Amato e outros. E a capa do livro foi tirada de uma sessão de Sølve Sundsbø, que apareceu na revista Frank, em 1998. Foi uma das primeiras sessões de Sølve e sempre a adorei por isso fiquei muito entusiasmada por tê-la na capa, ainda hoje é extraordinário, mais de 20 anos depois.

Explique-nos como está este livro organizado.

Teria sido fácil organizar este livro cronologicamente ou por fotógrafo, mas eu quis fazer algo um pouco mais estranho, algo que realmente capte a satisfação de nadar, e falei das várias formas que a água nos faz sentir. Por isso, no fundo o livro está organizado em torno de moods que têm a ver com nadar, e os fotógrafos estão organizados dessa forma; Meditação, Glamour, Amadurecer, Férias, Sexo e por aí em diante. Cada capítulo começa com uma citação de uma grande cena de natação na literatura que reflita o mood das imagens. Tem uma boa bibliografia; uma lista de leitura para as pessoas explorarem. São retiradas de uma série de livros e histórias – O Grande Gatsby, Cassandra at the Wedding, The Line of Beauty e, claro, The Swimmer, de John Cheever; "O dia estava lindo e pareceu-lhe que umas longas braçadas poderiam aumentar e celebrar a sua beleza."

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O que é que torna uma piscina um local especial? A forma, a localização, a decoração, as pessoas que a frequentam…

Eu acho que é uma mistura de tudo isso. No livro escrevo "É um local onde a vida acontece, onde as pessoas vão para representar, para relaxar, para seduzir, para jogar – claro que os realizadores de imagens acabam lá… a piscina pode ser corajosa, um local de glória passada. Pode ser sóbria, silenciosa. Pode ser um símbolo reluzente de tudo o que sempre quiseste – tempo, estilo, riqueza – ou o local de algo terrível – abandono, acidentes, afogamento." Talvez esta seja uma forma de responder a esta questão – eu acho que é uma mistura de emoções que podem ocorrer à volta da piscina que a tornam tão especial.

Neste livro trata a piscina como um elemento cultural. Dê-nos alguns exemplos de Arte, literatura ou cinema nos quais a piscina tenha um papel relevante e que sejam uma referência para si.

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Eu estava muito interessada em ver como a piscina tinha influenciado muitos criativos – de escritores e poetas a artistas e produtores de imagens. Com a minha introdução no livro, incluímos algumas pinturas de piscinas, de artistas como Luc Tuymans e Caroline Walker. Eu estava interessada em captar a variedade de formas que a piscina tem de inspirar as pessoas. Algumas ocupam-se com a água, as bolhas, os splashes. É isso que querem captar. Outras gostam de como o corpo reage – o afundar, o flutuar, a fluidez, as contorções. Muitas estão lá pela luz e pelas formas angulares dos lados da piscina, das bordas, dos azulejos – uma tão agradável simetria. A atração da piscina é visual e emocional. Pode ser usada indefinidamente, como um conjunto de linhas e barreiras, ou sugestivamente, como um suporte para várias narrativas.

Acha que a cultura da piscina tem mudado com o passar do tempo e até geograficamente?

Acho que a cultura à volta da piscina varia muito, de lugar para lugar, idade para idade, pessoa para pessoa. Eu tento captar isto com uma certa ironia no livro ao fazer referência às regras muito estritas nas piscinas públicas francesas, toda a gente tem de usar touca, mesmo os carecas!

Tem trabalhado em diferentes áreas, em que projetos está a trabalhar agora?

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Bem, nos últimos seis meses tenho andado muito atarefada, porque lancei dois livros: Pools com a Rizzoli e Shirley NBaker com a Mack. Também fui curadora da exposição The Hoodie no Het Nieuwe Instituut em Roterdão, por isso estou a tentar fazer uma pausa e ter algum tempo para ler e investigar. Eu estava a contar nadar muito… mas o confinamento pôs fim à ideia!

Qual é a piscina mais memorável da sua vida?

A minha piscina preferida no mundo é a do hotel Colombe D’Or no Sul de França. Tem azulejos verdes perfeitos e uma escultura de Calder fantástica ao fundo. Se pudesse passava todos os verões.

Este livro foi lançado neste período único em que parte do mundo está confinado em casa e, como tantos outros locais, as piscinas estão fechadas. Quando as piscinas reabrirem acha que a cultura da piscina será a mesma? E onde será o seu primeiro mergulho?

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O meu primeiro mergulho será na Parliament Hill Lido, que é a minha piscina local em Londres, onde vivo. É absolutamente linda, é contornada em metal, por isso reflete a luz enquanto se nada. É como estar numa escultura de James Turrell. Eu espero que as pessoas continuem felizes com a ideia de estarem na piscina, nadar é realmente um grande escape. Para mim, é como meditar, mas melhor. Pode-se ser sociável na piscina, mas também se pode estar realmente sozinho, o que eu adoro.

 

1 de 8 Capa do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, de Lou Stoppard e da editora Rizzoli.
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2 de 8 Lou Stoppard, a autora do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli.
Foto: Polly Brown 3 de 8 Bagno di Romagna, Italy, 2014, de Polly Brown. Do interior do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli.
Foto: Romain Laprade 4 de 8 Richard England, Aquasun Lido, St. Julians, Malta, 1983, fotografado em 2018, por Romain Laprade. Do interior do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli.
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Foto: Emma Hartvig 5 de 8 Aqualillies, de The Swimmers, 2017, de Emma Hartvig. Do interior do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli.
Foto: Alice Hawkins 6 de 8 Lucky Bum at the Hard Rock Casino Pool, “Alice Does Vegas,” SHOWstudio, Las Vegas, 2004, por Alice Hawkins. Do interior do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli.
Foto: Sølve Sundsbø 7 de 8 Thank Tanks, Frank, junho 1998, cortesia de Sølve Sundsbø. Do interior do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli.
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Foto: Alice Hawkins 8 de 8 Dylan and Paris Bronson, “Hollywood Sons,” L’Uomo Vogue, Bel Air, 2016, por Alice Hawkins. Do interior do livro Pools – Lounging, Diving, Floating, Dreaming: Picturing Life at the Swimming Pool, da editora Rizzoli.
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