Que tendências retemos das semanas da moda? Uma stylist enumera-as
Agora que algumas das principais semanas da moda mundiais apresentaram as mais recentes novidades na moda, Liliana Correia, diretora da LC Fashion Consultancy, aborda as tendências para a próxima estação.

O ano mal começou e já assistimos a desfiles que reforçam o poder da moda como reflexo do presente e antecipação do futuro. De Paris a Nova Iorque, passando por Copenhaga ou Berlim, cada cidade trouxe narrativas distintas, mas todas com um ponto em comum: a necessidade de inovar, emocionar e transformar através de novas coleções que ditam as tendências para os próximos meses.
Alta-Costura em Paris: Tradição e Reinvenção

A Semana da Alta-Costura de Paris continua a ser o epicentro da sofisticação, com a técnica e o savoir-faire a falar mais alto. Da capital francesa dois desfiles clássicos continuam a merecer o nosso destaque: Dior e Chanel.
Na Dior, Maria Grazia Chiuri voltou a explorar a força feminina através de uma visão "cheia de alegria, sonhos e brincadeira". A designer procurou inspiração na história da maison, por isso, as silhuetas etéreas, os bordados delicados e os tons neutros confirmaram uma abordagem refinada, mas nada previsível.


Já a Chanel, sob a direção da equipa Chanel (entre a saída de Virginie Viard e a entrada de Matthieu Blazy), apresentou um desfile que evocou o espírito da alta sociedade parisiense, com alfaiataria impecável e propostas que combinavam tradição e modernidade. O uso de tweeds reinventados e a paleta de cores suave mostraram que o ADN da maison permanece intocável, mas sempre em evolução.

Não pude deixar de pensar em alguns dos looks utilizados pelas nossas portuguese girlies ao observar estas duas coleções. Em ambos os casos, comprovamos que o estilo clássico feminino reinventado nunca sai de moda, mas que existe espaço para arriscar. Os tecidos tweeds continuam a ser um must e cores pastel uma aposta segura.

Copenhaga: O Novo Centro de Influência da Moda
Se antes era vista como um evento alternativo, a Semana da Moda de Copenhaga consolidou-se como uma referência mundial. A capital dinamarquesa está a ditar tendências, a redefinir o conceito do que se deve vestir e a promover a sustentabilidade.


Por aqui, dois desfiles mostraram essa força: Birrot e Stine Goya. O primeiro apostou numa estética minimalista, onde cortes precisos e materiais inovadores falaram mais alto. A tendência oversized é outro dos destaques, ainda que feita com elegância. Os corpos não desaparecem sob as roupas, mas estas ganham alguma fluidez.
Já Stine Goya trouxe uma explosão de cor e fluidez, provando que o design escandinavo pode ser arrojado sem perder a sofisticação. Por aqui destacamos o equilíbrio perfeito na construção de looks clean com peças de relevo, através da utilização de um padrão numa peça que dá vida ao restante conjunto. Esta coleção revela-nos a importância de optar por boas peças-chave, pois estas podem transformar todo um look.
A verdade é que a moda nórdica deixou de ser apenas um nicho cool. Hoje, inspira marcas globais e muda a forma como pensamos o consumo e a estética no dia a dia.
Berlim: Criatividade, Sustentabilidade e Novos Talentos
Menos mainstream, mas incrivelmente relevante, a Semana da Moda de Berlim mostrou que há espaço para a experimentação e para um discurso mais consciente. A sustentabilidade não é um tema pontual, mas um compromisso de longo prazo.
Entre os nomes que brilharam, Horror Vacui destacou-se pelo maximalismo inteligente. Volumes, camadas e uma mistura vibrante de padrões criaram um universo que desafia a monotonia e celebra a individualidade. Mais uma vez, relembrei-me da estética portuguese girlie, que promove a mistura de peças que, à partida, poderiam não ser escolhas evidentes.
Esta tendência está claramente para ficar, ainda que não seja opção para todos os estilos pessoais. Berlim continua a ser um laboratório de inovação, onde novos talentos encontram espaço para crescer e desafiar o status quo da moda tradicional.
Nova Iorque: Sofisticação Contemporânea
Fechamos esta ronda de desfiles em Nova Iorque, onde marcas como Norma Kamali, Theory, Khaite e Simkhai, mostraram que a moda americana continua a ser um reflexo da mulher moderna, elegante e confiante.
Theory apostou numa coleção minimalista e sofisticada, comprovando que existem certas peças, como uma boa camisa branca, um par de calças de alfaiataria ou um polo cinza, que nunca saem de moda e devem estar em qualquer armário.
No outro extremo, Norma Kamali apresentou uma coleção inspirada na floresta com padrões que transmitiam a ideia de camuflado. Apresentou várias peças em pele sintética e terminou com o chapéu fedora em vários looks, prova de que os acessórios como os chapéus serão outro dos destaques das próximas estações.
Khaite, por sua vez, apresentou uma coleção que equilibra sensualidade e poder – pele sintética e padrões de pele animal, como o leopardo, continuam em voga -, enquanto Simkhai trouxe texturas e cortes estruturados que elevam o guarda-roupa contemporâneo – houve espaço para brilhos e texturas, que mais uma vez reforçam a importância da escolha de peças-chave icónicas para completar um bom look.

A Semana da Moda de Nova Iorque assegurou-nos que a sofisticação não precisa de ser rígida e que o verdadeiro luxo está na confiança que uma peça transmite.
Moda Como Declaração de Poder
O que todas estas passarelas têm em comum? Um desejo crescente de expressar identidade, quebrar padrões e ressignificar o luxo. A moda deixou de ser apenas um espetáculo visual para se tornar uma ferramenta de empoderamento.
Seja na alta-costura parisiense, na irreverência escandinava, na ousadia berlinense ou na sofisticação nova-iorquina, a mensagem é clara: vestir-se é uma forma de afirmação. E, no mundo atual, não há espaço para sermos menos do que extraordinárias em cada visual que construímos no dia-a-dia.
