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Moda / Tendências

“Le Paysan”: Jacquemus semeia memórias e colhe poesia em Versailles

Com um olhar terno sobre o quotidiano e os rituais da terra, a nova proposta da marca francesa revela-se como uma narrativa íntima e sensorial. Tecidos tradicionais ganham nova vida numa composição que oscila entre o real e o imaginado.

Jacquemus apresenta "Le Paysan" em Versailles, uma ode à infância e herança rural do designer francês.
Jacquemus apresenta "Le Paysan" em Versailles, uma ode à infância e herança rural do designer francês. Foto: @Jacquemus
01 de julho de 2025 às 11:10 Safiya Ayoob

Na mais recente apresentação da coleção Primavera-Verão 2026, Simon Porte Jacquemus regressou às origens. O designer francês, conhecido por entrelaçar memória, poesia e modernidade, escolheu o L’Orangerie do Palácio de Versailles como palco para “Le Paysan” (O Camponês) - uma ode sentimental à sua infância no sul de França e à herança rural da família.

Mais do que uma coleção, “Le Paysan” é um manifesto autobiográfico. Simon descreveu-a num post do Instagram como uma “viagem que começa no campo, suave e minimalista, com o linho como base”, evoluindo depois para “uma explosão de tons de bombom, riscas, bordados e estampados”, culminando num momento de pura alta-costura. E foi precisamente essa jornada - emocional e estética - que se desenrolou sob o teto majestoso da estufa real de Versailles, outrora usada para proteger os frutos e árvores do palácio, agora transformada num santuário de moda e memória.

Jacquemus apresenta coleção 'Le Paysan' em Versailles, com peças que evocam memórias rurais e poesia.
Jacquemus apresenta coleção "Le Paysan" em Versailles, com peças que evocam memórias rurais e poesia. Foto: @Jacquemus

“Le Paysan” nasce da simplicidade - não como ausência, mas como essência. As primeiras silhuetas evocavam o quotidiano rural com um toque sublime: saias volumosas, aventais de tule invertidos, casacos estruturados com corsets internos. Os tecidos, escolhidos com cuidado quase devocional, remetem para lençóis antigos de linho, rendilhados e bordados com padrões geométricos que lembram toalhas de família ou enxovais esquecidos. O popelina, o tule, a mousseline e a seda tafetá foram moldados num vocabulário visual de nostalgia elevada.

Desfile de Jacquemus em Versailles evoca memórias e poesia.
Desfile de Jacquemus em Versailles evoca memórias e poesia. Foto: Jacquemus

Entre os momentos de destaque, surgiram peças que desafiam as fronteiras entre arte e vestuário, como o vestido raro feito com 700 metros de cordão de tule e uma segunda pele em mousseline transparente, cravejada de diamantes em tafetá. Os acabamentos, minuciosamente artesanais, mostraram o domínio do savoir-faire francês, repleto de franjas em couro, bordados esculturais e detalhes que ecoam uma elegância folclórica.

O L’Orangerie, espaço normalmente reservado à preservação das árvores e frutos do palácio, assumiu aqui um novo papel simbólico: um ponto de encontro entre o passado aristocrático francês e a ruralidade íntima de Jacquemus. O cenário, com ares rústicos mas imponentes, criou um contraste comovente com a coleção — um gesto de reconciliação entre o luxo e a terra, o esplendor e a simplicidade.

Desfile de Jacquemus em Versailles apresenta nova coleção com modelos e peças únicas.
Desfile de Jacquemus em Versailles apresenta nova coleção com modelos e peças únicas. Foto: @Jacquemus

A abertura do desfile, com um rapaz a abrir uma porta de madeira envelhecida, foi quase cinematográfica - como se estivéssemos a folhear o diário visual de Simon. O final, com o próprio designer a descer lentamente as escadas sob uma ovação de pé, selou este momento como um dos mais emocionantes da sua carreira.

A obra de Jacquemus tem-se afirmado, ao longo dos anos, como uma rara simbiose entre acessibilidade e sofisticação. “Le Paysan” não é exceção. Apesar do foco autobiográfico, esta coleção fala para além de Simon - toca qualquer um que tenha crescido com os cheiros e texturas da terra, com os gestos simples de uma avó a bordar, com o calor lento dos verões rurais.

Jacquemus
Jacquemus Foto: @Jacquemus

Ao transformar a memória em forma, o íntimo em espetáculo e o campesinato em alta-costura, Jacquemus reafirma-se não só como designer, mas como contador de histórias. E nesta história, o luxo não é uma fuga ao passado - é o seu reencontro.

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