Depois da febre das it bags, que atingiu o mundo da moda nos idos anos 90, hoje quer-se mais encontrar o complemento ideal do que fazer deste acessório o porta-estandarte do glamour.
19 de novembro de 2018 às 07:00 Marina Sampaio
Lembro-me como se fosse hoje. Eu estava com uma amiga, em Nova Iorque, em plena 5.ª Avenida, quando ela me atira, à queima-roupa: "Mas como é que tu sabes que aquela carteira é uma Balenciaga?!" Depois de estancar e de digerir tudo o que aquela pergunta continha nas linhas e nas entrelinhas, e quase a hiperventilar, eu expliquei-lhe como é que eu sabia e que, dado o nível de desejo e de obsessão que aquela despertara naquela estação do ano, não a reconhecer era quase um crime de lesa-cultura de moda! Pouco dada a modas e muito menos a it bags (o que só contava a seu favor), a minha amiga não entendia a excitação que rodeava as mesmas. Em minha defesa posso argumentar que estávamos em plenos anos das it bags e das cool it girls (Kate Moss, Sienna Miller, Alexa Chung, entre outras) e que estas se passeavam com os últimos lançamentos das grandes marcas pelo braço. As carteiras ganharam um status de objeto de luxo quando, nos anos 30, a Louis Vuitton lançou a Speedy, a primeira carteira de mão desta marca de luxo. A partir daí, personalidades das artes e do cinema e celebridades como Jackie Onassis ou Grace Kelly não só as usaram, como inspiraram as marcas (a Gucci e a Hermès) a batizarem as mesmas com os seus nomes. Uma Jackie ou uma Kelly diz muito mais sobre quem a tem. É uma espécie de senha para entrar num restrito clube privado. Não entra quem quer, entra quem pode. Estavam criadas as condições para a loucura completa.
Quem criou o conceito das it bags é um génio do marketing, pois, pelas mãos das celebridades que as exibiam, mal soava o último acorde de música dos desfiles de moda, um mero acessório que compõe o look transformava-se, no tempo de um espirro, num objeto de desejo pelo qual suspiravam mulheres de todo o mundo. Era o início da corrida às lojas. Nada se comparava à excitação e à recompensa que uma compra emocional traz associada. A "febre" começou a subir nos anos 90 e atingiu níveis de "loucura" com as marcas a lançarem, estação após estação e ano após ano, uma carteira ícone. Criação da estação ou clássico revisitado, as quais faziam questão de batizar – Fendi Baguette, Mulberry Rosanne, Jackie, só para nomear algumas – para tornar a sua busca ainda mais pessoal. Quando damos um nome a um desejo ou a um objeto, estamos a personalizar a escolha e a apoderamo-nos da sua essência, pois além do investimento financeiro, havia o investimento emocional. Não era preciso entrar em grandes explicações quando se confessava "Eu já tenho a minha Baguette", pois ninguém bem informado dos meandros da Moda iria pensar que estávamos acometidos de tamanha excitação só porque tínhamos ido comprar pão. Estes foram os anos em que a corrida às lojas ultrapassou todos os níveis do bom senso (e eu pecadora/consumidora confesso estar incluída). O Daily Mirror escreveu, em 1999: "Por toda a Inglaterra, centenas de mulheres, de todos os sectores sociais, farão qualquer sacrifício pela carteira da marca perfeita." Hoje, depois dos anos da crise e de uma radical mudança de mentalidades, pretende-se menos conseguir a carteira perfeita e mais a carteira ideal. E apesar das it bags, desde o ano passado, estarem a tentar reclamar o seu lugar no palco da moda (a Dior relançou esta estação a sua Saddle Bag que é um dos grandes sucessos de vendas desta temporada), o mercado está a receber de braços abertos aquelas que vêm de designers emergentes e de alternativas ecológicas e a aceitar um revivalismo sem carimbos bling-bling. E tudo a preços bem mais razoáveis.
Regras da carteira ideal
As Casas de moda estão a apostar em voltar a atenção para outras criações suas, tais como casacos, blusões ou sapatos de ténis, e menos para as carteiras. Claro que há sempre as carteiras clássicas que nunca passam de moda e que atravessam gerações se forem bem cuidadas e estimadas. Uma Birkin, da Hermès, é hoje um investimento mais rentável (está provado) que ouro. Tal como uma 2.55, da Chanel, vendida a preços exorbitantes em vários sites de produtos vintage. Quando uma tendência parece ser mais velha que a raça humana, então é porque deixou de ser tendência e passou a ser algo óbvio e obrigatório. Se as carteiras representam muito mais do que o simples papel para o qual foram concebidas, isso significa que as nossas escolhas podem estar a enviar as mensagens erradas acerca do nosso estilo a vestir e do nosso estilo de vida. Pior ainda, do nosso discernimento para distinguir o que é um bom investimento e uma descoberta extraordinária do (Deus nos salve!) rótulo "carteira outono/inverno de 2017/2018 que me custou uma fortuna e que já não me serve para nada". Assim sendo, e para que o erro não se volte a repetir, este ano eu hei de conseguir a carteira perfeita, aquela que me fará atravessar toda a estação fria e, com sorte, entrar na primavera do próximo ano sem sobressaltos. Primeiro, há que encontrá-la e isto representa uma primeira fase sujeita a algumas regras: a qualidade, a cor, o tamanho, a funcionalidade e a versatilidade… E, depois, ter de passar o escrutínio das amigas. E aqui fazemos um momento de silêncio pelo impacto devastador que uma má escolha possa fazer. E contra mim escrevo. Das carteiras pesadíssimas, com fechos e ferragens que nem um domador de leões escolheria, até às de cores e feitios improváveis, passando pelas compras por impulso, lá estão elas, atiradas agora para o fundo do armário onde se pode ler "Onde é que estava com a cabeça?!", tenho um pouco de tudo. Resultado? No dia a dia opto sempre pela mesma, a mais versátil, aquela que me leva do pequeno-almoço até ao jantar, numa funcionalidade a toda a prova que já dura há três anos. Já está mais do que amortizada. Neste momento, eu procuro outra carteira com as mesmas características. E adotei uma regra: o autocontrolo deve prevalecer sobre as tendências. Oscar Wilde escreveu: "Um nó de gravata bem dado é o primeiro passo sério na vida." O que nos leva até às carteiras que nunca passam de moda das grandes marcas como Chanel, Fendi, Hermès, YSL, etc., etc. Mas mesmo aqui há que não cair nos devaneios e na esquizofrenia criativa dos responsáveis das Casas de moda que todas as estações lançam modelos muito apelativos, mas, por vezes, pouco capazes de atravessarem uma estação, quanto mais durar a vida inteira.
Sendo assim, esqueça as carteiras com aplicações desnecessárias, sejam elas com tachas, com ferragens ou com pelo. A eterna marca do estilo é clássica, sem estridências. Há as que são verdadeiras "todo-o-terreno". Eu procuro uma carteira que seja estruturada, mas moderna (não queremos nada que pareça ter vindo direta da queda do muro de Berlim), elegante, mas ao mesmo tempo atrevida. É pedir muito? Parece que não. E haja em vista o volume de vendas de marcas como Mansur Gavriel, Cult Gaia, Staud, J.W.Anderson ou Wandler a preços não proibitivos e com as redes sociais inundadas de fotografias das mesmas. Isto reflete uma mudança de mentalidade no consumo, uma exigência pela qualidade e pelo luxo acessíveis. Mais um exemplo flagrante disto é a lista de espera que as carteiras da marca Chylak têm e que já foram descobertas por Sienna Miller e por Edie Campbell. O preço? Uma agradável surpresa, atendendo ao que custam as demais, a começar em 180 euros e a não ultrapassarem os 350. Outro nome a reter serão as DeMellier, muito práticas e sem comprometerem o estilo próprio de cada mulher. A cereja no topo do bolo? Todas as carteiras da marca Strathberry, empresa sediada em Edimburgo e que viu o estrelato chegar pela mão da superestilosa Meghan Markle. Se está bem para ela, estará bem para mim. Também as mochilas serão uma opção. Elas estão de volta e quem tem no armário algum exemplar da Louis Vuitton é trazê-lo para a luz do dia. Na lista de possibilidades estão, do mesmo modo, as carteiras em versão mini ou as de cinto, as chamadas belt bags. Estas duas últimas, eu vou deixá-las "cair"… Apesar de estarem por todo o lado, são pouco ou nada práticas e levam pouco mais do que um telemóvel. Uma tendência bastante vincada que regressa são as bucket bags. Se é a mudança na Moda que dá origem ao falatório, neste caso a mudança não reflete nada de verdadeiramente novo. Sucesso enorme nos idos anos 70, este clássico é agora revisitado por todas as marcas e, das lojas de grande consumo às grandes marcas, todas lançaram os seus modelos. As da Staud são um caso a considerar. Para finalizar – e apesar de ser do senso comum afirmar que a personalidade é o que realmente interessa –, não se esqueça que a aparência é a ferramenta de comunicação não-verbal mais poderosa. Assim, há que explorar as melhores maneiras de fazer uso dela, mesmo quando tudo se conjuga para a desgraça, para uma compra por impulso, para deitar a mão ao último "grito" da estação e para sucumbir a um delírio de estilo. Por isso, vamos juntar uma coisa ou outra, uma carteira ou uma mochila para que o look não acabe desequilibrado. Arrependeu-se? Não se culpe. Pense que moda é também divertimento! Para a próxima estação, nós cá estaremos, outra vez, cheias de boas intenções. Como uma amiga minha diz e apesar dos erros de estilo: "O que importa é estarmos sempre dignas." Boas compras!