Dream Teams
No segredo das grandes casas parisienses, os costureiros traduzem com mestria a visão do criador. Sem eles, a magia das coleções não existiria. Abrimos a porta de cinco ateliers.

ALBER ELBAZ
O que mais o apaixona no seu trabalho?
O nascimento de uma peça de roupa, o momento em que o sonho se torna realidade. Gosto quando o desenho se transforma em 3D sobre o corpo. Quando isso funciona, é fantástico. Caso contrário, é uma grande tristeza.
Que qualidades aprecia nos costureiros?
Na Lanvin, temos uma abordagem democrática do atelier. Não existe hierarquia. Trabalho lado a lado com cada costureiro, o que me permite conhecê-los melhor, valorizar os talentos e a personalidade de cada um. Eles estão todos muito envolvidos na criação. São verdadeiramente artistas. Admiro o seu savoir-faire. A França é o único país onde existem ateliers que são como laboratórios de moda. Às vezes, tenho a sensação de estar a trabalhar com investigadores. Fazemos um esboço, enviamo-lo para a fábrica que o devolve sob a forma de peça de roupa.
O que sente no final de um desfile?
Uma ligeira depressão. Enquanto toda a gente sai para celebrar, eu regresso a casa, visto o pijama, isolo-me e sinto-me inseguro. Só penso nos meus erros, convenço-me de que ninguém vai gostar de mim, ninguém me vai comprar nada… Paralelamente, pensar que tudo é perfeito significa que é o fim. Por isso, no dia seguinte regresso logo ao atelier e retomo o trabalho…
BASTIDE, ISABEL, BOGUSIA, WILLEM, BÉATRICE e SOLANGE
Qual é a estrutura do atelier Lanvin?
Estamos todos ao mesmo nível, mas com as nossas próprias competências. Um fica responsável pelo draping (construção de peças de movimentos fluidos) e pelo tayloring (construção de peças estruturadas), outro encarrega-se dos vestidos de noite, outro ainda dos efeitos pregueados e ou das calças…
Uma situação imprevista da qual se lembrem sempre.
O dia em que, na hora de começar o desfile, cortámos à tesourada num ápice um maravilhoso vestido comprido para transformá-lo num vestido curto!
Que qualidades apreciam em Alber Elbaz?
O respeito que tem pelo seu atelier. Tem consciência do trabalho realizado. Estimamos a sua exigência, a sua generosidade. E admiramo-lo, pois é um verdadeiro artista.
JEAN PAUL GAULTIER
O que mais o apaixona no seu trabalho?
O momento da criação. Cada modelo é uma pequena aventura, uma viagem na montanha russa. Na Alta-Costura de janeiro, o meu fio condutor era a gipsy indiana. Tudo me inspira e o meu imaginário conduz-me, por vezes, em direções contrárias, mas o resultado deste processo criativo é absolutamente satisfatório.
Que qualidades aprecia na sua costureira-chefe?
O seu rigor, sentido de organização e conhecimentos. A sua calma, também, perante a minha inquietude fervilhante; ela encontra sempre soluções tranquilizadoras. Confiamos muito um no outro e partilhamos laços quase familiares. Estamos juntos num navio e é ela que o dirige, pois uma peça de roupa mal realizada, não obstante as melhores ideias do mundo, vale zero.
O que sente no final de um desfile?
Uma sensação tipo zombie, como se tivéssemos acabado de dar à luz. Uma espécie de depressão pós-parto, que não dura muito tempo, já que tudo recomeça em seguida!
JACQUELINE SMEYERS-PICOT
Quando é que começou a trabalhar com Jean Paul Gaultier?
Em outubro de 2012. Antes, durante 28 anos, fui a número dois no atelier de Alta-Costura de Yves Saint Laurent, depois durante quatro anos trabalhei no prêt-à-porter com Stefano Pilati. Em seguida, passei pela Chloé e Sonia Rykiel, antes de entrar na Casa Jean Paul Gaultier. Foi o seu estúdio que me elegeu como costureira-chefe do atelier. As principais qualidades exigidas para esta função resumem-se, na minha opinião, à escuta, paciência, saber não dizer ‘não’, gerir corretamente uma equipa, compreender também o que o criador deseja para transmiti-lo às costureiras.
Uma situação imprevista da qual se lembre sempre.
Num desfile no Grand Palais de prêt-à-porter Yves Saint Laurent, quando passa o vestido de noiva e eu me apercebo da etiqueta através da musselina plissada… Que horror!
Que qualidades aprecia em Jean Paul Gaultier?
É um poço de criatividade, tem uma ideia por segundo. Só de vez em quando é que podemos segui-lo… mas é extremamente agradável. E, por fim, faria tudo para lhe agradar, pois aqui somos como uma família.
RICCARDO TISCI
O que mais o apaixona no seu trabalho?
Viver da minha paixão. E também a liberdade que Givenchy me dá para trazer o meu próprio estilo, respeitando sempre o ADN da Casa.
Que qualidades aprecia no seu costureiro-chefe?
O Monsieur Richard é um mestre. Eu, que não era costureiro, aprendi tudo com ele. É também alguém muito calmo, sereno, que nunca diz que não, mesmo quando estico os limites do possível.
O que sente no final de um desfile?
Felicidade e libertação. Posso finalmente passar tempo com a minha família – sobretudo com a minha mãe, sinto-me profundamente feliz por vê-la orgulhosa de mim.
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MONSIEUR RICHARD
Quando é que entrou na Casa Givenchy?
Há quinze anos. Comecei com um certificado de aptidão profissional de costura. Aprendiz na Casa Dior, assistente de Tan Giudicelli, a seguir costureiro-chefe de atelier na Casa Jean Louis Scherrer, Casa Yves Saint Laurent… e finalmente Casa Givenchy.
Uma situação imprevista da qual se lembre sempre.
A manga em falta num vestido bordado Yves Saint Laurent assim que começou o desfile. Imersos em suores frios, construímos o modelo o melhor que conseguimos com um tecido, sem a autorização de Monsieur Saint Laurent.
Que qualidades aprecia em Riccardo Tisci?
A sua gentileza e o facto de ser importante ultrapassar-se constantemente.
RAF SIMONS
O que mais o apaixona no seu trabalho?
Sou absolutamente fascinado pelo lugar que a Alta-Costura ocupa no século XXI. A Casa Dior possui uma história muito forte, ancorada na elegância, na feminilidade, uma ideia muito clara da modernidade. Não é uma casa estagnada.
Que qualidades aprecia na sua costureira-chefe?
A sua experiência única e a sua faceta extremamente calorosa – como de resto de todos os que trabalham no atelier de Alta-Costura. A equipa é incrível, organizada, com uma excelente compreensão do estilo. Descobri pessoas com qualidades humanas extraordinárias, que libertam uma boa energia. É como uma grande família.
O que sente no final de um desfile?
Sinto-me muito feliz! E aliviado. É sempre uma experiência simultaneamente intensa e estimulante.
FLORENCE CHENET
Quando é que entrou na Casa Dior?
Sou costureira-chefe do atelier de draping há dez anos. Comecei na Casa Givenchy como ajudante de primeira. Em seguida, fui para a Casa Yves Saint Laurent onde fiquei durante cinco anos, depois Jean Paul Gaultier. Para ser nomeada costureira-chefe, é preciso naturalmente conhecer bem o trabalho, mas sobretudo mostrar-se apaixonada e disponível. É toda uma progressão. Comecei com um certificado de aptidão profissional e um diploma profissional de draping, depois passei para o segundo atelier e finalmente para o primeiro.
Uma situação imprevista da qual se lembre sempre.
Um dia, quando todas as peças estavam preparadas para sair, surgiu uma ideia repentina no estúdio. Foi preciso refazer tudo, recortar todos os vestidos em todos os sentidos, redesenhar os moldes e recomeçar os bordados. Uma autêntica loucura.
Que qualidades aprecia em Raf Simons?
A sua gentileza, o seu respeito e a sua escuta. Ele propõe mas também pede conselhos. Trabalhamos verdadeiramente em equipa.
KARL LAGERFELD
O que mais o apaixona no seu trabalho?
O meu trabalho.
Que qualidades aprecia na sua costureira-chefe?
Como em todas as costureiras-chefe de atelier na Casa Chanel, o seu talento, as suas tesouras, os seus conhecimentos e também a sua gentileza. Uma grande costureira-chefe é de “primeira necessidade”. Por outro lado, para ser honesto, são precisas muitas e temos a sorte, na Casa Chanel, de ter as melhores. Não se faz Alta-Costura sem se ter esta “ferramenta”, se me é permitido dizer.
O que sente no final de um desfile?
Se correr bem, dizemos que o sucesso da coleção seguinte não está necessariamente garantido. Se correr mal, dizemos que é preciso esforçarmo-nos… Não tenho outros estados de alma.
MADAME CÉCILE
Quando é que entrou na Casa Chanel?
Há precisamente dez anos. Iniciei a minha carreira como aprendiz. Subi os degraus da hierarquia da Alta-Costura para me afirmar como operária, depois passei a número dois. A evolução da carreira é posteriormente determinada segundo o desejo pessoal de cada um e das oportunidades que surgem. Tive a felicidade de poder assumir a direção de um atelier como costureira-chefe.
Uma situação imprevista da qual se lembre sempre.
Aconteceu no momento de uma prova final para uma cliente que vestia pela primeira vez o seu vestido de Alta-Costura encomendado… o que não é comum, visto que geralmente há várias provas. Entre o primeiro encontro para tirar as medidas e a prova final, a cliente manifestou sete vezes o desejo de mudar a forma do vestido; apenas o corpete selecionado no início permaneceu inalterado. A entrega do modelo final fez-se então sem a prova anterior. O resultado revelou ser perfeito!
Que qualidades aprecia em Karl Lagerfeld?
O seu rigor, o seu profissionalismo levado ao limite, o seu grande conhecimento da verdadeira Alta-Costura e a sua incessante criatividade renovada. Sou-lhe completamente dedicada.
