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Celebridades

Nos boudoirs do poder

As suas decisões mudam o mundo mas, no que toca ao seu visual, as mulheres mais influentes da atualidade partilham as inseguranças de todas as outras? À procura de respostas, a Máxima conversou com Celso Kamura, o responsável pelo makeover de Dilma Rousseff, com Bibhu Mohapatra, um dos designers favoritos de Michelle Obama, e com a hairstylist Isabelle Goetz, que há mais de 15 anos penteia Hillary Clinton.

Nos boudoirs do poder
Nos boudoirs do poder
02 de setembro de 2013 às 07:00 Máxima

Isabelle Goetz

“Nunca esquecerei o momento mágico em que conheci Hillary Clinton. Estávamos em 1997 e fui enviada à Casa Branca para pentear pela primeira vez a então primeira-dama. Esse foi o início de uma animada viagem.

O look de Hillary Clinton tornou-se um ícone. Depois de algumas sessões em que apenas penteei o seu cabelo, pediu-me que o cortasse. Senti-me honrada, mas muito nervosa com esta oportunidade. Apesar de saber que não queria o cabelo em camadas, fui cortando devagar até Hillary Clinton se aperceber que poderia beneficiar desse novo estilo adequado à forma do seu rosto. E ela adorou! Da mesma forma que um fato com calças é mais fácil para viajar, um penteado mais prático vence sempre em qualquer circunstância, especialmente para uma mulher tão ocupada. Mais tarde, devido à sua versatilidade, este corte seduziu muitas mulheres, pois funciona com todo o tipo de rosto e em pessoas de todos os estratos sociais.

As mulheres no poder gostam sempre de ser aconselhadas no que toca ao seu visual. No entanto, como cliente, Hillary Clinton é fácil, mas sabe muito bem o que quer. As mulheres procuram sempre algo novo e atual e o que conseguimos alcançar foi um visual clássico, mas compatível com uma agenda carregada e que se sobrepõe às tendências de cabelos sempre em transformação.

Ao longo destes 15 anos, Hillary Clinton desafiou-me a trabalhar tão arduamente como ela própria trabalha. Fortalecemos a nossa relação e nutri um respeito e uma paixão genuína pela sua incrível pessoa e pelo seu cabelo.”

Nixon versus Kennedy

Como um pouco de sol e uma noite bem dormida podem alterar o rumo de uma nação.

Foi o primeiro debate televisivo nos Estados Unidos e um verdadeiro ponto de viragem na história do marketing político. A 26 de novembro de 1960, John F. Kennedy, na altura um desconhecido senador do Estado de Massachusetts, preparava-se para enfrentar na televisão o poderoso vice-Presidente Richard Nixon.

No topo do seu hotel em Chicago, enquanto revia os possíveis tópicos de debate, o bem-parecido senador de origem irlandesa aproveitava o sol para se bronzear e, antes do duelo de 60 minutos em frente às câmaras, fez uma longa pausa para um sono repousante.

Como resultado, Kennedy apresentou-se seguro e no seu melhor, enquanto Nixon, com ar convalescido devido a uma recente cirurgia, estava branco e demasiado magro. Segundo a revista Time, numa noite foi alterado o rumo da América. “Quem ouviu o debate pela rádio pensava que Nixon tinha ganho. Mas esses eram uma minoria. Em 1960, 88% dos lares americanos tinham uma televisão. Os 74 milhões que viram o debate no pequeno ecrã acharam que Kennedy tinha sido o óbvio vencedor. Muitos dizem que Kennedy venceu as eleições nessa noite.”

Depois disso, a popularidade do senador foi tal que todos sabem o desfecho. Segundo vários relatos, na tentativa de ganhar peso rapidamente, Nixon ainda fez “a dieta dos milkshakes”, mas nem isso impediu que Kennedy se tornasse o novo Presidente dos Estados Unidos da América.

Celso Kamura

Com uma carreira de mais de 30 anos, é o principal cabeleireiro e maquilhador brasileiro. Além de ser especialista em makeovers de mulheres poderosas, assina muitos visuais dos grandes designers que apresentam as suas coleções durante a São Paulo Fashion Week. 

“O convite para mudar a imagem da Presidente veio através de João Santana, responsável pela campanha política de Dilma. Já tínhamos trabalhado juntos com Marta Suplicy, quando concorreu à Prefeitura de São Paulo. Fiquei apreensivo com o desafio e, claro, motivado também. Fiz várias pesquisas e cheguei a um estilo parecido com o de Carolina Herrera, um cabelo curto desfiado com o volume projetado para cima da cabeça para alongar a silhueta.

O primeiro encontro com Dilma foi tenso. Ela é uma mulher muito séria e focada, mas deixou-me fazer tudo o que sugeri. A transformação foi feita entre compromissos da candidata. Nesse dia de manhã, Dilma participou num evento para a imprensa. Depois do almoço, já transformada, voltou a responder à mesma imprensa. E foi um choque! Toda a gente comentou a mudança! Telefonei ao João Santana para saber se ele tinha gostado. Ele respondeu: ‘Ainda não sei, Kamura, ainda não sei se gostei.’ Eu sabia que era uma mudança que ia dar que falar.

No que toca ao cabelo, achei que, por ter acabado de combater um cancro, a Presidente não aceitasse cortar. Já passei por isso com muitas clientes que se apegam ao cabelo após a quimioterapia. O volume projetado para cima e a silhueta mais esguia tornaram-na mais agradável ao público. Dilma aceitou também clarear um pouco o cabelo.

No rosto, suavizei as sobrancelhas para o olhar de Dilma ficar mais sereno. Ela tinha as sobrancelhas naturalmente arqueadas, o que passava um olhar austero. Mostrei os produtos corretos para o seu tipo de pele e com maior durabilidade. Batom e lápis nos olhos, e pronto. A beleza ficou mais simples. Como fiquei com ela durante toda a campanha, tive tempo para ensiná-la a maquilhar-se e tratar do cabelo sozinha, quando precisasse. Antes, Dilma já se maquilhava, só que não o fazia da maneira mais indicada para o seu tipo de pele. Há alguns meses, vi-a na capa da Forbes e perguntei: ‘Presidenta, a senhora está tão bem na capa da revista, quem a maquilhou?’ Ela respondeu: ‘Eu mesma, não tinha tempo para chamar-te.’ Eu adorei porque é sinal que fiz o meu trabalho direito e Dilma assimilou muito bem. Dilma é uma cliente fácil porque não dá trabalho. Mas é difícil prepará-la porque não para de trabalhar. O telefone estraga tudo e, por vezes, basta uma chamada para ela já não querer pintar o cabelo. No entanto, está a adorar a melena mais clara. Outro dia, apliquei um produto para uniformizar a cor e Dilma disse: ‘Não vai apagar as minhas madeixas, né?’ Ela já tem vontades e já sabe o que lhe fica bem.

É uma honra poder conviver com uma pessoa como Dilma. É firme, forte e séria. Mas é doce também. No meu aniversário, ligou-me pessoalmente para desejar felicidades. Quantas pessoas no Brasil têm esse privilégio? No que depender de mim deixará a presidência ainda mais bonita do que quando chegou. Apesar de acharmos que os homens ficam melhores mais velhos, são as mulheres que sabem envelhecer melhor. As mulheres têm um arsenal de coisas para ajudá-las a melhorar.”

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Bibhu Mohapatra

É um dos designers indianos mais brilhantes da sua geração e um dos nomes quentes da semana de moda de Nova Iorque. Além disso, veste algumas das mulheres mais poderosas do cinema, como Glenn Close e Hilary Swank, e da esfera política, como Michelle Obama.

“Quase tive um ataque cardíaco quando fui contactado pelo pessoal de Michelle Obama. Na altura, o meu estúdio tinha apenas uma divisão e tivemos de limpar tudo para receber o assistente e a stylist da primeira-dama.

Depois de duas visitas, a equipa da Casa Branca fez finalmente uma encomenda, mas fiquei seis meses sem ter qualquer notícia, até que um dia, numa manhã em que tinha jurado a mim mesmo que não iria atender o telefone, um número não atribuído ligou insistente. ‘Senhor Bibhu Mohapatra, daqui fala do Air Force 1’, disse uma voz masculina. A minha reação foi ‘deve ser, deve’, pois pensei que era uma brincadeira de uns amigos. Mas não era: tratava-se de um telefonema da equipa da Casa Branca feito em pleno voo!

Vestir a primeira-dama é como vestir qualquer outra cliente privada. Recebemos uma lista muito precisa de medidas que temos de seguir e as alterações ou são feitas pela equipa de Michelle Obama, em Washington, ou os vestidos são marcados na Casa Branca para depois serem finalizados no meu estúdio.

Apesar do processo ser longo, nada me preparou para quando me ligaram uma manhã a informar que, nesse mesmo dia, Michelle Obama iria usar pela primeira vez um vestido meu no programa de Jay Leno. Sentei-me em frente à televisão, emocionado, e só consegui tirar fotografias ao ecrã quando me apercebi de que não estava a sonhar.

Depois disso, já fui convidado para jantar na Casa Branca com os outros criadores que Michelle Obama apoia. A primeira-dama é uma mulher respeitadora e muito acessível. No entanto, sabe exatamente o que lhe fica bem, quais os seus melhores atributos e não vale a pena estar a pedir-lhe para experimentar looks que ela não quer. As mulheres poderosas podem até ouvir uma segunda opinião, mas não há espaço para mudança.

Ao longo desta fantástica viagem aprendi que, hoje em dia, estar vestido de uma forma poderosa não é sinónimo de usar um conjunto de calças e fato mais masculino. Um vestido bem cortado, como os que privilegia a primeira-dama, que faça uma mulher sentir-se bonita, é uma fantástica ferramenta de poder. Não restam dúvidas de que o poder é um estado de espírito.”

Donzela e Ceo

A (boa) aparência ainda é o melhor cartão de visita? A feminilidade pode ser vista como uma fragilidade na sala de reuniões? Maria Duarte Bello, uma das maiores especialistas portuguesas em coaching, que acaba de lançar Empresários à Conquista do Mundo (A Esfera dos Livros, €20), dá as respostas.

Numa época em que um CEO de uma grande empresa pode gostar de surf ou de desportos radicais, a aparência continua a ser um fator tão crucial no sucesso profissional?

Independentemente do cargo ou da função, o indivíduo é o mesmo. Mas, para marcar a diferença, a aparência deve não só ser cuidada mas, sobretudo, adequada à imagem que pretende transmitir. Um CEO tem de saber estar em contextos muito diferentes: numa reunião, num evento de fim de semana com os colaboradores ou num jantar. Tendo presente que mesmo fora do âmbito da empresa está sempre a representá-la. A aparência física, ou seja, o visual, é o que se perceciona antes mesmo de ter proferido as primeiras palavras.

Durante os anos 80, as mulheres sentiram a necessidade de se masculinizar para serem levadas a sério no mundo profissional. No entanto, hoje em dia, observamos casos de sucesso na política a passarem por um processo de transformação em direção a uma imagem mais feminina e cuidada. Como comenta esta mudança de paradigma?

Não há dúvida de que as mulheres têm ao seu dispor muitas opções no que toca à imagem profissional. E já perceberam, há algum tempo, que não perdem terreno nem credibilidade por apresentarem uma imagem menos andrógina. Pelo contrário, tiram proveito da aparência, pois o que é belo é mais apelativo. Os casos da Presidente do Brasil ou da primeira-dama dos EUA são bons exemplos. Já Hillary Clinton e a chanceler Angela Merkel têm uma imagem de marca um pouco masculina. Se, por um lado, Hillary Clinton, enquanto primeira-dama, apresentava uma imagem bem feminina, quando passou a exercer funções de poder, como secretária de Estado, masculinizou-se. A chanceler escolheu uma aparência semelhante aos homens, apresentando-se quase sempre de casaco e calças, apenas colocando um colar, para se destacar. Não é mero acaso: é uma escolha pensada para transmitir fortaleza, vigor, valentia e proximidade.

No contexto profissional, a beleza e a boa aparência são uma arma ou podem ser um entrave ao sucesso? Ainda existem os preconceitos “se é muito bonita e cuidada é pouco inteligente e fútil” ou, ao contrário, “se tem uma aparência desmazelada não poderá ser boa líder…”?

Podemos considerar duas situações: no caso de a chefia ser uma mulher, poderá ser um entrave, pois a beleza e outros atributos serão motivo de inveja. Isso pode ser suficiente para travar a ascensão. Diria que esta chefia é pouco inteligente porque coloca à frente do profissionalismo um sentimento mesquinho e irracional. Por outro lado, uma imagem visual cuidada aliada ao saber ser e estar e ao bom desempenho serão sempre um caminho auspicioso para qualquer profissional.

Nos boudoirs do poder
1 de 6 / Nos boudoirs do poder
Primeira-dama 1993-1998
2 de 6 / Primeira-dama 1993-1998
Em campanha, 2008
3 de 6 / Em campanha, 2008
Secretária de Estado, 2013
4 de 6 / Secretária de Estado, 2013
As variações de look que tem criado para a ex-secretária de Estado norte-americana têm sido um dos tópicos quentes nos EUA, dando pano para mangas em debates e longos artigos de revista.
5 de 6 / As variações de look que tem criado para a ex-secretária de Estado norte-americana têm sido um dos tópicos quentes nos EUA, dando pano para mangas em debates e longos artigos de revista.
Um debate que ficou para a história
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