Mikaela Lupu: Diamante em bruto
Aos 24 anos, com várias novelas, séries e até cinema no currículo, promete deixar a sua marca na ficção nacional. Recordamos a entrevista com Mikaela Lupu, protagonista da produção ibérica Vidago Palace, que chega à HBO Portugal a partir de 31 de maio.

Tinha 15 anos quando fez o casting para a série Morangos com Açúcar. Foi passando nas fases e, para sua surpresa, conseguiu entrar. Um "banho de sorte", como lhe chama. Na escola, Mikaela Lupu já gostava muito de representação, mas nunca achou que pudesse fazer disso profissão, até porque o seu sonho era seguir ciências. Formou-se na Escola Profissional de Teatro de Cascais e esteve um ano na ACT (Escola de Atores em Alcântara), enquanto conciliava com as gravações de outros projetos. É na televisão que mais a temos visto, mas também já fez cinema (entrou em Leviano, de Justin Amorim). Agora, é uma das personagens principais em Vidago Palace, a série de época da RTP1 co-produzida com Espanha, que se estreia a 31 de maio na HBO Portugal.
Quais os pontos fortes desta série?
O primeiro elemento a destacar é a fotografia. O Vidago Palace é um hotel lindo, que conserva a decoração e os interiores dos anos 30. Também tem um elenco muito bom, um guarda-roupa incrível e um argumento ainda melhor. Estamos em 1936, ano em que se deram imensos acontecimentos históricos importantes: a Guerra Civil Espanhola, os Jogos Olímpicos de Berlim. A Europa estava um bocado agitada e isso percebe-se na série. O tema central é um amor impossível entre a Carlota, personagem que eu interpreto, e o Pedro, interpretado por um ator galego [David Seijo].
Como é que correram as filmagens?
Ao início estava com receio de trabalhar pela primeira vez com uma equipa espanhola, mas eles entregaram-se de uma forma muito bonita e ajudámo-nos mutuamente. Durante dois meses dormimos, tomámos o pequeno-almoço e gravámos no hotel, portanto não podia ter corrido melhor.
Como descreveria a sua personagem?
A Carlota é uma jovem sonhadora que gosta muito de poesia e de artes. Passa a maior parte das férias em Vidago Palace com a família e, neste verão de 1936, está de casamento prometido quando, sem estar à espera, encontra o verdadeiro amor. A mãe descobre e, a partir daí, começa toda uma intriga.
O que temos a ganhar com este modelo de coprodução?
Aprendemos imenso com a equipa espanhola e eles também connosco, acredito que sim. Mas, acima de tudo, projetos mais inovadores e que ganham sobretudo pela qualidade.
Nasceu na Moldávia. Como foi a sua vida lá?
Foi uma infância muito feliz, ligada à terra e à natureza, numa quinta com animais. Também tínhamos um apartamento na capital, em Chi?inau, mas passávamos a maior parte do tempo com a nossa avó na aldeia.
Os seus pais vieram trabalhar para Portugal quando tinha cinco anos. Como foi a adaptação?
Na escola, lembro-me de ter uma professora que dava a aula à turma toda e depois, ao meu lado, estava outra professora que me ensinava as coisas que os meus colegas já sabiam: as cores, os números. Mas não tenho memórias de ter tido dificuldades, de me sentir triste ou excluída por ter chegado há pouco tempo a um país novo, foi uma adaptação muito fácil.
O seu sonho não era ser atriz...
Era boa aluna praticamente a tudo, mas o que estudava mesmo por gosto era a matemática, a físico-química, a biologia. Queria ser nutricionista porque sempre liguei muito à alimentação e achei que seria juntar o útil ao agradável. Estava tudo encaminhado para isso até surgir os Morangos com Açúcar.
Decidiu então ser atriz. O que é o mais difícil, para si, nesta profissão?
Talvez a instabilidade do futuro. A última vez que fui à Moldávia foi em 2007 e cada vez tenho mais saudades de lá ir e de visitar a nossa casa. Desde essa altura que não se proporcionou e é muito difícil conciliar férias com as minhas irmãs e com os meus pais porque de uma semana para a outra pode surgir um trabalho.
Como é que tem lidado com a exposição?
A exposição varia muito consoante os projetos, pelo menos no meu caso. Durante os Morangos com Açúcar foi uma loucura, a minha personagem sofria de anorexia e muitas raparigas com o mesmo problema vinham ter comigo a pedir-me conselhos e apoio. Claro que na altura pesquisei e estudei sobre o tema, mas nunca ao ponto de aconselhar alguém, portanto aquilo mexia comigo. Tirando isso, sempre lidei muito bem, talvez por ter começado nova. Nunca me fez confusão, nunca deixei de fazer nada, nunca me senti mal ou chateada por alguém me pedir uma fotografia, porque isso é o retorno da profissão.
Trabalhar com grandes e reconhecidos atores pode ser intimidante?
Acho que aprendemos sempre com quem trabalhamos, seja para o bom ou para o mal. Eu observo e absorvo muito, nesta profissão é importante estarmos atentos ao que nos rodeia para aprendermos, é assim que crescemos e evoluímos. Por exemplo, o Diogo Infante, com quem já trabalhei imenso, a Manuela Maria, a Margarida Marinho, neste último projeto, a Anabela Teixeira – são como professores em part-time.
As gravações da série já terminaram. O que está a fazer agora?
Estou a meio de um ano sabático e tirei uns meses para viajar, é uma espécie de férias, mas com conteúdo. Já tinha ido para Inglaterra e Itália, vim agora da Irlanda e a seguir ia para a Índia quando o realizador me ligou a dizer que precisavam de mim aqui para a promoção da série. Também queria muito fazer formação fora, gostava de ir ao Brasil ainda este ano, porque acho que temos muito a aprender com culturas e mercados diferentes. E já estão novos projetos em cima da mesa...
Já fez novelas, séries, cinema. Falta-lhe fazer teatro?
Sim, falta-me fazer teatro profissional. Curiosamente, nunca surgiu a oportunidade, talvez por ter feito projeto atrás de projeto em televisão e cinema, mas é algo que quero fazer há muito. Tenho a certeza de que vai surgir a qualquer momento.
*Artigo originalmente publicado na edição da Máxima (nº 344).
