Blake Lively acusa Justin Baldoni: uma história de perseguição e de difamação
A atriz norte-americana revelou, através de um processo judicial, uma campanha coordenada para manchar a sua reputação pública e silenciar denúncias de má conduta durante as filmagens de "It Ends With Us".

A verdade é que todos nós fomos contagiados pela campanha de difamação feita para manchar a reputação de Blake Lively. Para compreender o que aconteceu, temos de começar pelo início. Durante a altura em que o filme It Ends With Us foi lançado — no mesmo período em que a tournée de imprensa começava a avançar — o nome da atriz foi arrastado pela lama. As críticas começaram nas redes sociais, onde fãs apontavam que a forma como Lively promovia o filme era desajustada face à sua temática sensível. Ficámos a saber depois, segundo um artigo do The New York Times, que o plano oficial de promoção da produção tinha instruído o elenco a focar-se nos aspetos positivos da história e a adotar um tema visual centrado em flores, simbolizando esperança e superação. No entanto, muitos consideraram esta abordagem demasiado superficial, tendo em conta que o enredo aborda temas tão pesados como a violência doméstica e os seus ciclos geracionais, culpando a atriz por essa perceção insensível. Ao mesmo tempo, sabe-se que Baldoni e a sua equipa fugiram do plano de marketing implementado pela Sony, assumindo o papel de um homem sensibilizado pela mensagem de violência doméstica.
Esta perceção negativa que o público manteve de Lively perdurou desde meados de agosto, mas, na sexta-feira passada, dia 20 de dezembro, ficou-se a conhecer outra perspetiva dos acontecimentos. De acordo com a queixa apresentada por Lively, não é apenas Justin Baldoni que está a ser processado, mas também várias outras pessoas e entidades, todas acusadas de contribuir para a criação de uma campanha de difamação e assédio. Os réus incluem: Wayfarer Studios; Justin Baldoni (ator e co-fundador da produtora); Jamey Heath (diretor executivo e produtor principal do filme); Steve Sarowitz (co-presidente da produtora); Melissa Nathan (especialista em relações públicas de crise); Jennifer Abel (responsável pelas relações públicas da Wayfarer Studios); RWA Communication; Jed Wallace (fundador da Street Relations, empresa de gestão de crises); Street Relations Inc e outras 100 pessoas anónimas (designadas como Does 1-100).

Segundo o documento legal, Blake Lively já havia levantado preocupações sobre um ambiente de trabalho hostil desde o início da produção. Em janeiro de 2024, antes de retomar as filmagens, convocou uma reunião para abordar diretamente a má conduta de Baldoni e Heath. Entre as acusações apresentadas, consta que Baldoni e Heath entraram repetidamente no camarim da atriz enquanto esta se encontrava parcialmente ou totalmente despida, o que causou grande desconforto. Além disso, Heath é acusado de mostrar vídeos explícitos da sua mulher, algo que Lively descreveu como profundamente perturbador.
Embora a reunião tenha resultado nalguma melhoria no comportamento da equipa durante as filmagens, a queixa revela que a produtora contratou Melissa Nathan para gerir a crise e silenciar potenciais fugas de informação. Mais recentemente, no documento legal, foram divulgadas mensagens internas que sugerem uma estratégia deliberada para proteger Justin Baldoni de controvérsias, ao mesmo tempo que Blake Lively era apontada como a principal responsável por decisões criativas e promocionais que não foram bem recebidas pelo público.
Essas mensagens, trocadas entre Jennifer Abel, Melissa Nathan e Justin Baldoni, são agora uma peça central do processo movido por Lively. De acordo com os documentos apresentados em tribunal, o objetivo desta campanha era manipular a narrativa pública, desviando a atenção negativa de Baldoni e colocando o foco em Lively, o que resultou em danos significativos à reputação da atriz.

O impacto desta campanha não se limitou apenas à esfera pública. No ambiente de trabalho, a atriz descreve ter enfrentado isolamento por parte de alguns membros da equipa, incentivados pela narrativa promovida pelos réus. Alegadamente, os mesmos canais que foram usados para minar a credibilidade de Lively nas redes sociais também foram utilizados para espalhar rumores entre o elenco e a equipa técnica, criando um ambiente ainda mais hostil. Num dos excertos revelados das mensagens trocadas entre Melissa Nathan e Jennifer Abel, é mencionado que "não podemos deixar que esta produção seja manchada por acusações feministas; é mais fácil sacrificá-la [Lively]".
Além disso, o documento sublinha que, ao longo da produção, Lively foi repetidamente acusada de ser "difícil" e "demasiado sensível", características frequentemente atribuídas a mulheres que desafiam comportamentos impróprios no local de trabalho. Estas táticas, segundo o processo, não só visaram silenciar Lively como também procuraram perpetuar uma imagem pública da atriz como uma pessoa intransigente, enquanto Baldoni era retratado como um líder benevolente e feminista.
No entanto, a divulgação de mensagens e emails internos, incluídos nos documentos judiciais, contradiz a imagem pública cuidadosamente trabalhada por Baldoni e pela Wayfarer Studios. Estas mensagens revelam um esforço calculado para controlar os danos à reputação de Baldoni, ao mesmo tempo que desviavam as atenções para Lively. Os advogados da atriz sublinham que estas ações foram uma tentativa deliberada de proteger figuras de poder na indústria à custa de mulheres que ousam denunciar comportamentos inaceitáveis.

Com uma polémica tão pública como esta é, poucas são as pessoas que se chegam à frente e tomam um lado, demonstrando o seu apoio, mas as "irmãs" de Holywood de Lively demonstraram que as coisas podem ser tão fáceis. America Ferrera, Amber Tamblyn e Alexis Bledel, que contracenaram ao lado de Blake em Quatro Amigas e um Par de Calças, deixaram uma mensagem de apoio no Instagram.


A revelação destes documentos trouxe à tona questões mais amplas sobre as dinâmicas de poder em Hollywood, o papel das relações públicas na manipulação de narrativas públicas e os obstáculos enfrentados por mulheres que denunciam má conduta. Este caso lança luz sobre a experiência de Lively, como também expõe práticas sistémicas que continuam a proteger os poderosos em detrimento das vítimas.
