A RE/MAX “não é só um projeto económico, é um ato de amor”
Nasceu e cresceu em Saragoça, Espanha, mas veio para Portugal na década de 1990 e nunca mais saiu. Beatriz Rubio sabia que queria chegar longe, mas nunca imaginou construir um império. O grupo Everybody Wins, que copreside com o marido, Manuel Alvarez, é constituído pela RE/MAX, MaxFinance, Melom Obras, Querido Mudei a Casa, entre outras marcas, e detém mais de 1000 franquias a nível internacional.
Beatriz Rubio chega elegante num fato branco, chama as duas filhas – Patrícia e Marta – para ficarem ao seu lado nas fotografias, cruza-se com o marido, Manuel Alvarez, nos corredores, sabe o nome de todos os colaboradores por quem passa. Conhecida pelo seu otimismo e pela capacidade de motivar equipas, a CEO da RE/MAX tem uma energia que – admite, entre risos – até a cansa a ela própria. Sempre ambicionou chegar longe, mas nunca imaginou conquistar tanto. Nem nos melhores sonhos.
Não tem qualquer dúvida de que a família é o seu “maior sucesso” e, numa conversa conjunta com Patrícia Alvarez, filha do casal e diretora de Inovação da RE/MAX, ambas comprovaram que a família e os negócios andaram sempre lado a lado. Amplamente premiada e distinguida pelo seu percurso profissional, Beatriz Rubio já chegou a ser considerada uma das 50 mulheres mais influentes de Portugal. Recentemente, foi agraciada pelo rei Felipe VI com a Ordem de Isabel, a Católica, algo que não acontecia a uma mulher desde 1492.
Com 60 anos feitos em setembro, fala em reformar-se para “desfrutar mais da vida”, mas confessa que não pretende “sair de repente das empresas”. No entanto, sabe que está a deixar um legado para os filhos Patrícia, Marta e Manuel: “Construir uma empresa geracional não é só um projeto económico, é um ato de amor. Não é só um negócio, estamos a transmitir uma visão ética, um sonho, que passa a ser compartilhado.”
Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX
Olhando para trás, imaginava que ia fazer um percurso tão bem-sucedido? Tinha essa ambição?
Comecei a minha carreira na L'Oréal Espanha, em 1990, depois de ter feito um master. Hoje em dia, toda a gente faz masters, mas, na altura, praticamente não existiam. No meu caso, o master era no IESE, que é o mais importante em Espanha e tem também um ranking muito bom na Europa. Só permitiam a entrada de oito mulheres para oitenta homens. Eram tempos mesmo muito masculinos, até ao nível dos estudos.
Foi mais difícil afirmar-se como mulher?
Sim, ainda mais sendo eu uma mulher que tinha muito bem definida essa ambição de chegar longe. A minha ambição de chegar longe não era como empresária. Talvez porque o meu pai e o meu avô também foram empresários e eu sabia que os empresários tinham muitos altos e baixos ao longo da vida. Mas aconteceu. Eu e o Manuel viemos para Portugal passar três anos através das empresas onde trabalhávamos – o Manuel com o Dia, agora Minipreço, e eu com a L’Oreal. E pediram-nos para ficarmos mais três anos. Após esses seis anos, pediram-nos que fôssemos para a China. Se fosse agora, tendo em conta a aventureira que sou, se calhar teria dito que sim. Em 1998, ano da Expo, quando ainda trabalhávamos para essas mesmas empresas, as notícias diziam que não havia camas para dormir em Portugal. E nós decidimos montar um parque de campismo em Alcochete no terreno mais feio que alguma vez vi! Depois arrendámos cabanas de madeira, como os bungalows, com dois quartos, casas de banho individuais e cozinha. Houve dias em que os bungalows estiveram cheios, outros nem tanto.
Começámos a avançar com esta ideia em fevereiro e a Expo abriu em maio. Em abril, estava a negociar bungalows em França. Eu negociava porque é o meu forte. O Manuel encarregava-se de tudo o que estava relacionado com a instalação. Isto em três ou quatro meses. Mas conseguimos!
Então pensámos: “Se fizemos isto com duas crianças pequenas…” Podia dar 500 outros motivos mas, foi este que nos fez avançar e montar o nosso negócio. Quisemos que fosse diferente, orientado para as pessoas, onde todos ganhássemos. E sabíamos que queríamos fazer algo grande. Mas não imaginava conquistar o que conquistámos.
O que é que a Beatriz de hoje diria àquela Beatriz jovem que sonhava alto?
Diria que não há nada impossível, mas que temos de ser cautelosos e honestos nas nossas decisões. Não vale tudo. Depois diria que os problemas de hoje amanhã não têm importância nenhuma. “Não precisas de te preocupar tanto” – esta seria a minha frase.
Ganhou essa perceção com a maturidade?
Ganhei. E, às vezes, agora – porque continuo a ter problemas – digo: “Daqui a um ano já nem te lembras disto.” E é verdade.
Formou-se em PNL e coaching e um dos segredos do seu sucesso é a sua positividade e a forma como motiva as suas equipas. Como é que as motiva, o que é que lhes diz, tendo em conta que este mercado pode ser tão instável, tão desafiante e tão dependente das oscilações da própria economia?
Eu gosto bastante de contar histórias, então faço muitos paralelismos. Nunca conto uma coisa diretamente, é raro, exceto se estiver a falar de números ou de factos. Para a motivação, utilizo muito histórias que façam com que saias do teu contexto. E isto para quê? Porque temos a tendência para ficarmos à defensiva, quando nos falam do nosso problema diretamente. Então é preciso que as pessoas saiam da defensiva para ouvir. E, muitas vezes, transportando-as para outra história, veem realmente qual é o problema. O foco está em ir em frente.
Quais são os principais problemas, neste momento, que inflacionaram o mercado imobiliário?
Há muita procura e muito pouca oferta. Como faltam terrenos, os promotores decidem construir para a classe alta, porque vão ganhar muito mais dinheiro e porque o custo do terreno é muito alto. Depois, há terrenos que demoram 10 anos para ter licença. Esse terreno, se for comprado com crédito – que é o normal, porque estamos a falar de milhões de euros –, tem o custo de aquisição mais 10 anos de juros. Uma loucura! Se o terreno tiver a licença logo no primeiro ano, já se consegue reduzir 10 anos de juros. E, nesse caso, o promotor poderia construir para outra fatia da população.
Os governos, independentemente de serem de um ou de outro partido, teriam de estar acima dos interesses partidários para o país avançar. Tive conversas com pessoas de diferentes partidos que me disseram: “Eu concordo, mas o partido não me vai deixar.” Então, o que importa aqui realmente? O que importa é Portugal, são as pessoas. Os governos são escolhidos para gerir e vão ter de ceder. Se não cederem, o país não avança.
Contudo, este não é um problema só de Portugal. Acho que está pior em Espanha e França também está muito mal. Mas Espanha constrói para cima e Portugal não. Por exemplo, zonas como a Bela Vista e Braço de Prata, que são zonas mais afastadas do centro, deveriam ter prédios mais altos. Eu não digo destruir o património que existe na avenida da Liberdade ou nos Restauradores, nada disso. Mas nas zonas novas, em expansão, dever-se-ia construir mais em altura.
“Em certos aspetos, ainda é difícil ser mulher”
Apesar de ter construído a empresa em conjunto com o marido, quando se tornou CEO da RE/MAX ainda sentiu que foi olhada de lado por ser casada com o presidente, Manuel Alvarez. Deixou que os factos falassem por si e, hoje, sente que é respeitada tanto dentro como fora da empresa. De tal forma que – confessa, em jeito de brincadeira – agora é Manuel Alvarez que, por vezes, é apresentado como sendo “o marido de Beatriz Rubio”.
É casada há mais de 30 anos com Manuel Alvarez, presidente da RE/MAX. Como é que gerem esta relação de casal e de negócios?
O segredo é, em primeiro lugar, separar as áreas muito bem. E, como somos ambos sócios, é confiar, tal como confio nos meus diretores. Acho que é muito bom trabalhar em família, porque temos objetivos comuns. Mas chegar a este ponto custa. Em casa tentamos não falar de trabalho – à noite. Durante o dia até podes, mas durante a noite não, porque senão vamos para a cama e, pelo menos eu, tenho bastantes ideias, depois não durmo.
Alguma vez sentiu que foi tratada de forma diferente por ser casada com o Manuel Alvarez?
No início, sim. Por ser mulher e por ser casada. Diziam “Ai colocaste a tua mulher? Vamos lá ver se ela sabe.” E eu pensava: “Pronto, vou ter de demonstrar também aqui.”
E respondia?
Não. Calava-me e, com os factos, damos a conhecer o que somos.
E hoje ainda sente isso?
Agora já não. Tenho o respeito total e absoluto, não só das pessoas da RE/MAX como das pessoas de fora. Inclusive reúno-me com presidentes de bancos. Pelo contrário, às vezes dizem: “É o marido da Beatriz Rubio.” Ele tem nome, chama-se Manuel Alvarez. Ninguém quer ser superior a ninguém. O que é bonito é brilhar em conjunto.
E nunca rivalizaram?
Sim, claro. Por isso digo que, até chegar a este ponto, é difícil. Porque quando rivalizas, os dois perdem. E a empresa perde.
É CEO da RE/MAX há 16 anos, lidera 410 agências e 12 mil pessoas em Portugal. Além disso, já foi amplamente premiada e reconhecida…
A última foi pelo rei de Espanha! Foi muito bom. Foi a primeira vez que deram este prémio a uma mulher desde 1492. As coisas já mudaram muito, mas, em certos aspetos, ainda é difícil ser mulher. Não é porque temos filhos que deixamos de ser profissionais. Há pessoas que nunca vão ser profissionais sendo homens ou mulheres e outras que vão ser sempre quer tenham filhos ou não.
Qual é o legado que quer deixar?
É muito importante que os nossos filhos queiram continuar o nosso legado. Se não quisessem, não era obrigatório. Podíamos nomear diretores e, a determinada altura, os nossos filhos poderiam pensar em vender as empresas. Mas, quando vemos que temos continuidade, temos uma visão a longo prazo. Trazer pessoas jovens para a empresa também é muito importante. Por exemplo, a Patrícia [filha de Beatriz Rubio e Manuel Alvarez] é diretora de Inovação e está sempre a trazer ideias novas. Depois, porque o vínculo emocional que ela tem com a RE/MAX e com as empresas do grupo é diferente de ser um diretor. Ela sente.
Para mim, construir uma empresa geracional não é só um projeto económico, é um ato de amor: estou a semear para que, amanhã, os meus filhos colham. Não é só um negócio, estamos a transmitir uma visão ética, um sonho, que passa a ser compartilhado. Por isso é que a Marta [outra filha do casal] estava [presente nas fotografias], porque não quero que ela, apesar de ser médica, deixe de ter ligação com as empresas.
Quando vês que alguém da tua família vai assumir o teu lugar, com a mesma paixão, o mesmo otimismo, esse é o meu maior legado – que a empresa possa continuar com essa força e essa paixão.
Exige mais da Patrícia por ser sua filha do que de outros colaboradores?
Sem dúvida. Ela começou na MaxFinance para construir o seu caminho sozinha. Para não ser “a filha de”. Conseguiu conquistar o lugar dela e, quando conseguiu, veio para a RE/MAX. E está na RE/MAX só desde janeiro. Mas, entre nós, dizer que está na RE/MAX desde janeiro é mentira…
Está desde que nasceu…
(Risos) É isso mesmo. É a paixão que continua, mas com ideias novas e frescas.
Dentro da empresa, sente necessidade de separar os laços familiares? Apresenta-a como sua filha?
Nunca a apresento como minha filha. Por isso, ela utiliza Patrícia Alvarez. Eu nunca usei o apelido do meu marido. Nas reuniões, ela trata-me por Beatriz ou Bea, o diminutivo que usam aqui.
Disse, numa entrevista, que, quando fez 40 anos, teve a típica crise e foi estudar desenvolvimento pessoal. Em setembro, fez 60. Esta idade também está a fazê-la repensar a vida?
Está a fazer repensar para me reformar, mas eu não sou pessoa para me reformar. Tenho muita energia. E não gosto nada do número “6”. Os 50 passaram mais despercebidos. Quero desfrutar mais da vida, quero ter uma semana de férias por mês – o que, para mim, seria um luxo. Mas quero continuar a dar também o meu input. Não posso sair de repente das empresas, porque é como se perdesse uma parte de mim, um braço, uma perna.
Há pouco, quando estávamos a tirar as fotografias, reparei que foi buscar o laço rosa para colocar na lapela por ser o Outubro Rosa. Também passou por uma situação de saúde recentemente, mas foi benigna.
Sim. Foi em março, tive de ser operada a um quisto de 10 centímetros por quatro. Tinha bastantes dores. Então, tirei tudo. Foi muito complicado porque levei 200 pontos internos.
Isso mexeu consigo de alguma forma?
Primeiro, agradecer sempre a Deus. Eu sou crente. É uma segunda oportunidade. Se este quisto fosse maligno, provavelmente agora estaria muito mal, a julgar pela dimensão que o quisto tinha.
O que gostava que dissessem sobre si?
Que consegui mudar a vida de muitas pessoas. Essa é a minha luta diária.
“Gostava de liderar todo o grupo”
Patrícia Alvarez é a filha do meio e a que está mais ligada ao universo das empresas da família. Tem a energia da mãe. Participou em anúncios, brincava com os irmãos, no carro, à procura dos cartazes e foi a todas as convenções. Quer manter a atenção ao detalhe da mãe e a visão de curto prazo do pai, mas também trazer mais jovens e tecnologia para a empresa. Mãe de um menino com um ano e meio e grávida do segundo, pretende passar o testemunho aos filhos e, daqui a 10 anos, gostava de “liderar todas as empresas” do grupo.
Marta Alvarez, Beatriz Rubio e Patrícia Alvarez
Numa entrevista, a sua mãe, Beatriz Rubio, disse que a Patrícia começou a andar entre as paletes do Recheio, onde trabalhava na altura. Tanto a Patrícia como a sua irmã Marta cresceram no contexto profissional dos vossos pais. Nunca houve uma grande separação entre o que é a família e o que é o trabalho?
Sim, é verdade, e é uma coisa que quero fazer também com os meus filhos. Tentar que eles venham a todos os eventos, porque o sentimento que nós temos pelas empresas do grupo e pela RE/MAX é também porque passámos tantos anos da nossa vida com estas pessoas. Isso é o que hoje faz com que eu não queira que a empresa seja vendida a uma pessoa que não ia ter o mesmo sentimento.
É uma pressão diferente ter um império, com 14 mil famílias a dependerem de vocês, a precisarem que isto corra bem?
É efetivamente uma pressão diferente. Quando comecei a trabalhar na MaxFinance, acordava às três da manhã e começava a escrever e-mails porque precisava de escrever todas as ideias que tinha pensado ao longo do dia. Agora já consigo gerir de outra forma. Sei que tenho capacidade e que vou fazer um bom trabalho.
Nunca sentiu a necessidade, tanto com os seus pais enquanto criança como agora mãe e grávida pela segunda vez, de fazer uma separação entre aquilo que é a família e aquilo que é o trabalho?
Sim, às vezes gostava, mas trabalhar numa empresa familiar também dá benefícios. Quando eu e o meu marido viemos para Portugal, um dos conselhos que nos deram foi: “Não preferem trabalhar em empresas diferentes?” E realmente essa era a forma mais fácil. O meu marido trabalha na Melom, na construção. Eu sempre cresci com isto, por isso, para mim, não faz confusão.
Também conseguem separar bem as áreas quando chegam a casa?
Em casa preferimos não falar de trabalho. O nosso filho é mais do que o suficiente (risos). Nós ainda não passámos as fases todas que os meus pais passaram. Ainda estamos a tentar encontrar cada um o seu espaço.
Qual é a primeira memória que tem da RE/MAX?
Andar à procura dos cartazes quando andávamos de carro. Também fizemos um anúncio. Ir às convenções ao colo da minha mãe. Fui a todas! E, de repente, toda a gente me cumprimenta. Quando eu comecei a trabalhar na RE/MAX, as pessoas diziam: “Paty, não te vejo há 20 anos” (risos).
E a sua mãe e o seu pai levavam a Patrícia e a Marta porque queriam ou por falta de alternativa?
Faziam questão de nos levar. O facto de os meus pais gastarem o fim de semana de família com trabalho é porque o trabalho também é muito importante. E todos os nossos clientes, os franchisados que, no final do dia, confiam tanto em nós, verem como exemplo levar a família para o trabalho também demonstra aquilo de que estamos sempre a falar: “Estamos comprometidos com vocês, somos transparentes, queremos que isto funcione tanto como vocês, e estamos aqui todos os dias a lutar pela RE/MAX, pelas empresas todas.”
O que é que a fez querer estudar Gestão e seguir as pisadas da família?
No 9.º ano, disse ao meu pai: “Se calhar vou ser jornalista.” E o meu pai disse: “Pensa outra vez.” (risos) Fizemos o IB [um Bacharelato Internacional que dá uma qualificação aceite em universidades de todo o mundo] e, no IB, já tínhamos Economia, Gestão, e assim que tive a minha primeira aula de Gestão, cheguei a casa com imensas dúvidas, a tentar perceber como aplicaria isto na RE/MAX. E comecei a adorar.
Sente uma pressão acrescida por ser filha da CEO e do presidente?
Dos nossos clientes, dos franchisados, não. Depois, existem as confrontações normais do dia a dia com o staff. Mas a única coisa que quero é melhorar, é fazer crescer a empresa.
Pede mais conselhos aos seus pais ou desafia mais as ideias deles?
Nós somos três filhos muito sinceros. Em casa sempre falámos muito de trabalho. “Paty, vamos lançar uma ideia de marketing. Qual é a tua opinião?” Perguntavam-me isto com 16 anos. Temos um irmão mais novo, o Manuel, que é muito mais maduro, em comparação com outros rapazes da idade dele, porque sempre ouviu falar sobre as empresas.
O que é que a apaixona mais neste trabalho? Além de ser a empresa da família e existir um lado sentimental, o que é que a faz querer continuar?
É uma empresa de pessoas e para pessoas. Por exemplo, o Lidl quer mudar qualquer coisa, diz que vai mudar os procedimentos e toda a gente segue. Connosco, cada franchisado é uma empresa à parte. Então, temos de desafiar todas as nossas ideias, com todos os nossos franchisados e dar argumentos. Temos 400 agências, essas 400 agências são 350 empresas diferentes.
Daqui para a frente, o que é que gostaria de fazer igual ou idêntico àquilo que fazem os seus pais e o que é que gostaria de fazer diferente?
Sou muito mais parecida com a minha mãe em termos de energia. Mas tento limitar a minha energia e ser mais parecida com o meu pai: mais mental, mais crítica.
Menos emotiva?
Eu sou muito emotiva mesmo assim… mas sim, tento dosear. Quero continuar a ter o tie [ligação] da minha mãe. Não só em relação aos números, mas ao dia a dia. A minha mãe chega a uma reunião e diz: “Não repararam neste número? Em que é que este número afeta isto tudo?” Ou seja, a atenção ao detalhe. Mas também gostava de ter a visão do meu pai de longo prazo, sempre com ideias completamente diferentes. Eu nem sei como é que eles conseguem ter tantas ideias diferentes: um a curto prazo e o outro a longo prazo complementam-se muito bem. Por isso, gostava de continuar com a mentalidade crítica que os dois têm nos dois sentidos.
O que é que gostava de fazer de diferente?
Acho que colocar mais jovens é muito importante para dar dinamismo. Mas sem nos esquecermos das pessoas que estão cá connosco há 10, 15, 20 anos, porque têm uma grande experiência. Acho também que a tecnologia é deveras importante, mas, ao mesmo tempo, sem as pessoas não conseguimos chegar a nenhum lado. Nós conseguimos vender porque conhecemos as pessoas. O contacto humano não pode desaparecer.
Onde é que a Patrícia se vê daqui a 10 anos? Em que posição?
A resposta fácil é dizer diretora-geral, não é? (Risos) Mas eu gostava de ir mais além. Eu sempre quis ser empresária, ter a minha empresa própria. E o meu pai dizia: “Mas tens um grupo cheio de empresas. Não precisas de uma empresa própria.” E é verdade que, ao longo dos anos, essa ideia foi desaparecendo, porque eu fui acreditando que as empresas realmente são nossas. Minhas também. E que não vale a pena criar uma coisa nova.
Sentia necessidade de provar alguma coisa?
Sim, de demonstrar que era capaz de criar uma empresa do zero. Eles conseguiram e eu tenho a certeza de que também conseguiria. Mas é uma energia que pode ser usada para as empresas que temos no grupo. Daqui a 10 anos, gostava de conseguir liderar todas as empresas. Não uma, mas todo o grupo.
E o que é que sente quando olha para este império que os seus pais construíram?
Muito orgulho neles. Nós, os três, não conseguimos dar este tipo de entrevistas sem chorar. Porque temos imensa paixão por isto. Sabemos que tudo o que os nossos pais fizeram foi para nos darem uma vida melhor. Só podemos agradecer.
E mesmo assim, com pais muito focados no trabalho, nunca sentiram que a família fosse posta de parte?
Zero. Porque o fim de semana era só nosso. E mesmo que fosse um fim de semana de trabalho, era um fim de semana nosso. Porque éramos nós com o trabalho.