O nosso website armazena cookies no seu equipamento que são utilizados para assegurar funcionalidades que lhe permitem uma melhor experiência de navegação e utilização. Ao prosseguir com a navegação está a consentir a sua utilização. Para saber mais sobre cookies ou para os desativar consulte a Politica de Cookies Medialivre
Atual

Tenho tido atitudes agressivas inesperadas. Que se passa comigo?

Celeste, 44 anos, Faro

22 de abril de 2015 às 07:00 Dra. Catarina Rivero

Desde sempre que tendo a descontrolar-me muito nas discussões ou mesmo em situações em que as coisas não me correm bem. Seja provocado por outros, ou porque me engano em alguma coisa. Sou muitas vezes injusta com os que me rodeiam, mas desta vez ultrapassei os limites. Gritei com o meu marido de forma super agressiva, como se estivesse possuída, por ele se ter atrasado para o jantar e se ter esquecido de umas compras que lhe tinha pedido. Para além de ter sido muito agressiva e violenta, atirei o telemóvel dele contra o vidro do armário da sala que ficou em estilhaços. Os meus filhos estavam em casa… Que se passa comigo?

Cara Celeste, de acordo com o que refere, parece sentir algum descontrolo face a frustrações ou sentimento de zanga, com manifestações que considera excessivamente agressivas. Quero desde já felicitá-la pela capacidade que tem em refletir sobre as suas atitudes e perspetivar a mudança das mesmas.

Há muitas situações que nos podem deixar zangados, e podemos sentir esta zanga como uma irritação ligeira até a uma enorme raiva. Estas emoções podem ter a ver com o contexto, dinâmicas relacionais ou mesmo connosco. Parece-me importante sublinhar que a agressividade faz parte do ser humano e, ao longo da evolução, tem tido uma função de proteção em relação àquilo que percebemos como sendo ameaças externas. Porém, muitas vezes podemos sentir que há um descontrolo, com explosões de agressividade em que o comportamento sai fora do que o próprio desejava, e aí, tal como a Celeste está a fazer, é tempo de parar, refletir, compreender e encontrar novas estratégias para gerir e lidar com essa agressividade.

Que alternativas? Muitas pessoas optam para suprimir a agressividade sentida, o que acaba por ter um efeito negativo, com impacto a nível emocional e mesmo físico, para além de impedir o bom desenvolvimento das relações sociais, na medida em que sem manifestar desagrado, haverá sempre tensões latentes em que o próprio não estará ali numa situação de autenticidade. Esta não demonstração explícita de agressividade pode levar mesmo a posturas de alguma hostilidade implícita e/ou cinismo que naturalmente irão dificultar uma harmonia relacional.

Neste sentido, e considerando que há pessoas que tendem a irritar-se mais do que outras devido a múltiplos fatores, mais do que negar as emoções é importante assumir e criar estratégias que permitam transmitir desagrado sem agredir o outro, de forma assertiva, tendo como ponto de partida as necessidades próprias (o que me faz estar zangada? Quais eram as minhas expectativas? Como as criei?) mas também a relação (Qual a melhor forma de partilhar este meu sentir sem ofender o outro? Como demonstrar este desagrado sem por em causa esta relação pessoal ou profissional?). Desta forma é possível sair de uma situação de ataque para uma situação de partilha da tristeza ou frustração, com foco nas soluções conjuntas.

Por outro lado, quando há uma tendência percebida para repetidos momentos de irritabilidade ou raiva, valerá a pena fazer um trabalho de gestão emocional e compreender as expectativas bem como a possibilidade de flexibilizar face às mesmas. Quando temos expectativas altas e/ou rígidas corremos o risco de nos zangarmos mais. Assim, aquilo que seria uma preferência ou um gosto passa a ser uma exigência sentida ou ditada.

Em que alturas está mais serena? O que a pode ajudar? Para além de todo um trabalho emocional que pode fazer com a ajuda de um psicólogo, há estratégias práticas que muitas pessoas referem como facilitadoras: aprender técnicas de relaxamento (e praticar), fazer exercício físico regular, dormir horas suficientes (entre sete e nove horas consoante as necessidades individuais), quebrar as rotinas de trabalho com uma ou outra atividade de lazer, ter momentos de partilha com amigos e/ou familiares, cultivar o sentido de humor positivo (não o sarcasmo), entre outras.

Ainda, quando não consegue evitar uma explosão poderá ser altura de uma atitude reparadora como pedir desculpa e explicar ao outro o que está a acontecer consigo. Responsabilizar-se pelas suas emoções e reações e eventualmente pedir ajuda aos mais próximos, no sentido de a alertarem para momentos em que a zanga aparece de forma desmedida, pode ser mais um caminho a considerar.

As Mais Lidas