Os livros da minha vida: A escolha de João Tordo
Desafiámos alguns escritores portugueses a partilhar as suas escolhas literárias de uma vida. Conheça as de João Tordo.

Aos 44 anos, João Tordo é autor de doze romances, entre eles O Livro dos Homens sem Luz (2004), Hotel Memória (2007), Anatomia dos Mártires (2011), O Ano Sabático (2013), Biografia Involuntária dos Amantes (2014), O Luto de Elias Gro (2015), O Paraíso Segundo Lars D. (2015), O Deslumbre de Cecilia Fluss (2017), Ensina-me a Voar Sobre os Telhados (2018) e A Mulher que Correu Atrás do Vento (2019). Formado em Filosofia, foi distinguido com o Prémio Literário José Saramago 2009 com As Três Vidas, tendo sido várias vezes finalista de importantes prémios literários. A sua obra está publicada em países como França, Itália, Alemanha, Hungria, Espanha, México, Argentina, Brasil, Uruguai, Colômbia, entre outros. É, ainda, co-autor de séries televisivas como O Segredo de Miguel Zuzarte (RTP), Filhos do Rock (RTP) e País Irmão (RTP).
O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago (Porto Editora)

Provavelmente o livro da minha vida. Não acontece muita coisa, mas Saramago usa a Europa inseminada pela corrente do Fascismo como pano de fundo para um dos grandes "truques" de magia da literatura: ressuscitar o heterónimo vivo de um poeta morto. Marcado pela melancolia, é um livro inesquecível.
Crime e Castigo, de Dostoiévski (Editorial Presença)
O primeiro romance que li foi também dos mais marcantes. A identificação com a personagem principal, Raskolnikov, o estudante pobre que se torna assassino, é o sinal do génio de Dostoiévski, que consegue fazer-nos apaixonar por uma personagem que tem tudo para ser um vilão. E, contudo, inspira compaixão e empatia, ao fazer o Mal julgando estar a fazer o Bem.

Moby Dick, de Herman Melville (Relógio d’Água)
O épico dos mares é uma aventura e uma enciclopédia, um livro de memórias e um texto religioso, todas estas coisas e nenhuma delas. Melville reinventou a forma do romance neste texto belíssimo, cujo insucesso, à época, o levou à falência, oferecendo-nos em Ismael um dos narradores mais duvidosos da história da literatura e em Acab o capitão mais louco.
A Trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster (Asa)

Neste seu primeiro livro, Auster reinventa os géneros e baralha-os. Policial, mistério, suspense, literatura, comédia, farsa, confissão? É todas estas coisas ao mesmo tempo. Dividido em três partes, tornou-se um clássico da literatura americana exactamente porque nunca o pretendeu ser. A história de Quinn é absurda, a dos homens com nomes de cores que se espiam entre si quase inverosímil e, na terceira parte, Auster intromete-se, com o seu narrador de primeira pessoa, surge na história, e espalha a confusão. O resultado é fascinante.
Os Detectives Selvagens, de Roberto Bolaño (Teorema)
Um romance violento, visceral e tristíssimo, Bolaño consegue neste grande-pequeno livro (muitas páginas, mas extremamente concentrado, é quase contraditório) fazer uma viagem pelo México dos anos 70, onde cresceu, e levar-nos por duas décadas de enganos e decepções enquanto acompanhamos García Madero, o protagonista, e Ulisses Lima e Arturo Belano nas suas deambulações no deserto, noutros países da América do Sul, na Europa, etc, em busca do sentido da vida. Carregado de nostalgia, é um livro fascinante.
