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O meu marido está desempregado. Como posso ajudá-lo?

Raquel, 41 anos, Coimbra.

27 de maio de 2015 às 07:00 Dra. Catarina Rivero

Sou casada há 15 anos e temos um filho com 12 anos. Sempre tivemos uma vida confortável até que, há pouco mais de um ano, o meu marido ficou no desemprego. Felizmente eu ganho o suficiente para fazer face às despesas, e a indeminização que conseguiu, bem como o subsídio de desemprego trazem-nos alguma serenidade em termos financeiros. O que acontece é que já não sei o que hei-de fazer para o ajudar. Sinto-o a ficar cada vez mais fechado, a recusar participar em encontros com os nossos familiares e amigos, e cada vez mais apático. Mesmo comigo e com o filho. Era um homem cheio de vitalidade e atividades. Quero puxar por ele mas não sei por onde começar. 

Cara Raquel, desde já a felicito pela atenção e cuidado que demonstra com o bem-estar do marido, bem como com o de toda a família. Apesar de múltiplos fatores que podem eventualmente estar a concorrer para a fase que o marido está a passar, sabemos que o desemprego pode efetivamente ser um fator de grande desgaste em termos individuais e familiares, e um obstáculo desafiante ao bem-estar. Parece ser também essa a causa que mais se evidencia aos olhos da Raquel.

Convido-a antes de mais a refletir sobre a importância do trabalho para o nosso bem-estar. A sociedade ocidental em geral,  e a cultura portuguesa em particular, valorizam muito o que cada um faz para viver, isto é, para ganhar dinheiro de modo a ter a sua autonomia. Não raras vezes, quando conhecemos alguém novo, perguntamos o que faz, onde trabalha, etc. Esta forma de estar em sociedade é demonstrativa de como todos acabamos por misturar muito a nossa identidade e o valor que consideramos ter com o nosso trabalho.

O desemprego tem, frequentemente, um impacto negativo no bem-estar das pessoas. Tal é evidenciado na investigação, e podemos percebê-lo muito bem na maioria das pessoas que estão a passar por essa situação à nossa volta. As pessoas em situação de desemprego podem sentir que têm menos valor perante a sociedade ou a sentirem-se menos úteis, mesmo quando os que as rodeiam têm uma perspetiva diferente. Em alguns casais heterossexuais acontece por vezes, e não obstante as mudanças culturais que têm vindo a acontecer ao longo dos tempos, o homem considerar-se responsável principal pelo sustento da família, e ter algum desconforto acrescido numa fase em que é a mulher que tem um rendimento familiar principal. Já conversaram sobre esta questão?

Para além do significado maior que pode ser atribuído ao desemprego, em termos sociais e em termos pessoais (a forma como se relaciona consigo próprio), há ainda a importância de que as nossas atividades diárias e pequenos objetivos quotidianos têm no nosso bem-estar. Estar em repouso e com os seus próprios pensamentos pode ser ótimo quando é uma opção, mas pode ser mais desafiante quando não é uma escolha e até tornar-se tóxico (principalmente em algumas pessoas que em determinadas fases poderão tender a pensamentos ruminantes recorrentes, entrando numa espiral de negatividade ou mesmo de desesperança). Assim, ajudar uma pessoa que está a passar por uma fase difícil como pode ser a do desempego, passa por tentar compreender o que o outro sente e conversar sobre possibilidades. Note-se que, de modo geral, quando se está em baixo as pessoas sentem necessidade de ser ouvidas mas podem não gostar de receber soluções de fora (tal pode trazer um sentimento de desvalorização, ou até infantilização). As soluções terão de vir do próprio, mesmo que ajudadas por questões empáticas de outros ou histórias inspiradoras de sucesso que aumentem a esperança.

Considerando estes cuidados e respeito pela eventual fragilidade de quem está a passar por uma fase de desemprego, há algumas possibilidades que têm sido consideradas benéficas por algumas pessoas nesta situação: criar uma agenda e definir horários, traçar objetivos para o quotidiano, fazer exercício físico com regularidade (seja caminhar, correr, andar de bicicleta ou, havendo possibilidades, ginásio, piscina), fazer voluntariado, aproveitar esta fase para organizar o que estava por organizar (papeladas e burocracias, garagem ou arrecadação, etc), ver atividades que antes gostava de fazer e para as quais não tinha tempo (passear com o filho, visitar amigos ou familiares, ler, escrever, pintar, cuidar de plantas, cuidar de um velho automóvel, visitar museus, etc); e, claro, reservar um tempo por semana para pesquisar oportunidades de emprego, novo negócio, ou mesmo de formação/atualização. Relembro que estas atividades podem ser de grande ajuda para quem está sem ocupação profissional, se fizerem sentido para o próprio. Cada pessoa tem o seu tempo próprio e, em família, é preciso encontrar o equilíbrio dos diferentes tempos e sentires, reforçando a ligação, compromisso e missão de cada um ser cuidado e protegido, ao mesmo tempo que tem espaço para o seu próprio caminho.

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