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O discurso de Meryl Streep sobre Donald Trump nos Globos

Emotivo, politicamente forte, construtivo: o discurso de uma das atrizes mais poderosas de Hollywood, numa das cerimónias mais aclamadas da TV e do cinema.

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09 de janeiro de 2017 às 11:11 Máxima
Foi um dos momentos da noite. Ao receber o Globo de Honra Cecil B. DeMille, Meryl Streep aproveitou o tempo do discurso para fazer alusão a um dos temas da atualidade e a uma das notícias que marcou a história no último trimestre do ano passado. Falou das suas raízes, da dualidade liberdade e opressão política, e do rumo de Hollywood. 
"Nasci e cresci nas escolas públicas de Nova Jersey. A Viola Davis nasceu numa cabana da Carolina do Sul, e cresceu em Central Falls, Long Island. Sarah Paulson foi criada pela sua mãe solteira em Brooklyn. Sarah Jessica Parker era uma de sete ou oito irmãos em Ohio. Amy Adams nasceu em Itália. Natalie Portman nasceu em Jerusalém. Onde estão os vossos certificados de nascimento? E a fantástica Ruth Negga nasceu na Etiópia, e cresceu na Irlanda, creio. E está aqui, nomeada por interpretar uma miúda de Virgínia. Ryan Gosling, como quase todas as pessoas agradáveis, é canadiano.  E Dev Patel nasceu no Quénia, cresceu em Londres, e está aqui por interpretar um índio criado na Tasmânia. 
Hollywood está a crescer também graças a muitos estrangeiros. Se os expulsamos, não teremos mais nada para ver, só futebol e artes marciais (deram-me três segundos para dizer isto). O único trabalho de um ator é entrar nas vidas das pessoas que são diferentes de nós, e nos permitir sentir o que sentem. E houve muitas, muitas atuações poderosas este ano, que fizeram exactamente isso, impressionantes trabalhos feitos com paixão.

Houve uma atuação que me surpreendeu muito. Que prendeu os seus anzóis ao meu coração. Não porque tenha sido boa. Não houve nada de bom nela. Mas foi eficaz e cumpriu a sua função. A sua audiência riu e mostrou os dentes. Foi nesse momento, quando essa pessoa que pediu para se sentar no assento mais respeitado do nosso país e imitou alguém incapacitado, alguém que superou o privilégio do poder e capacidade de lutar. Partiu-me o coração ouvi-lo. Porém não consigo tirá-lo da minha cabeça porque não estava num filme. Era (é) a vida real.

(...) A falta de respeito convida a falta de respeito. A violência incita à violência. E quando os poderosos usam a sua posição para intimidar os outros, todos perdemos. Isto leva-me a falar para a imprensa. Precisamos de meios de comunicação com princípios para punir com um cartão vermelho todas as coisas indignantes que se façam. É por isso que os nossos fundadores consagram a imprensa e a sua liberdade na nossa Constituição. E assim, peço à famosa imprensa de Hollywood e a todas as pessoas da nossa comunidade que se unam a mim para apoiar o Comité e apoiar os jornalistas. Porque vamos precisar deles no futuro. E eles precisarão de nós para salvaguardar a verdade.  

Uma coisa mais. Uma vez, quando estava de pé num set das gravações a choramingar por algo, chegou a hora de gravar e Tommy Lee Jones disse-me: não é um privilégio Meryl, ser só um ator. E eu penso que sim, o é. E precisamos de nos recordar deste privilégio e da responsabilidade do ato da empatia. Todos deviamos estar muito orgulhosos do trabalho de Hollywood, aqui, esta noite. 

Como me disse uma vez uma amiga, a querida princesa Leia: pega no teu coração partido e faz arte. Obrigada". 

Veja, abaixo, o vídeo do momento. Espreite também a galeria de passadeira vermelha, aqui.

Por Rita Silva Avelar

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