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O amante que se segue

Quem vier atrás que feche a porta conhece a expressão? Experimente aplicá-la à vida amorosa. Pode ser que assim tenha piedade do tipo que está prestes a substituir o seu ex. 

25 de fevereiro de 2014 às 07:00 Máxima

Calma! Não estou a pedir-lhe que seja uma santa de ligas, apenas que não se transforme numa sádica implacável. A primeira pessoa a beneficiar dessa condescendência deve ser você própria. Lembre-se de que recomeçar é muito diferente de começar. O 're' não está lá por acaso. Começar é partir do zero. É saber pouco ou quase nada e, por isso, à exceção de algumas expectativas pueris, tudo o resto é espaço virgem, literalmente.

Recomeçar não – é voltar a começar, é carregar memórias, é ter um padrão e estabelecer comparações. É transportar um passado que quer impor-se aos outros tempos verbais, sobretudo ao futuro.

Se tiver consciência disto, já leva meio caminho andado quando sair com o príncipe que se segue, o amigo colorido ou o amante entre amores. Em suma: o homem que a vai retirar do celibato.

LIÇÃO NÚMERO 1: nunca se compare ao seu ex. Ele é uma pessoa diferente. É um homem. E todos sabemos que meninos e meninas não partilham livros de instruções.

Sim, é verdade: para muitos homens recomeçar é, antes de mais, conhecer um corpo novo, repeti-lo as vezes que forem necessárias e depois estabelecer, ou não, com a dona uma relação de compromisso. Sendo mais pragmáticos e capazes de acumular ações sem lhes atribuir logo um contexto emocional, eles têm mais facilidade em encontrar companhia. E depois?...

Há um tema da banda The Vaccines que ajuda a explicar tudo o que acabei de escrever. Chama-se Post Break-up Sex. Ouça-o e verá como percebe o que eles querem dizer com: “Everyone needs a helping hand/ Who said I would not understand?/ Someone up the social scale/ for when you're going off the rails, have (...) Post break-up sex/ that helps you forget your ex./ What did you expect from post break-up sex?

Pode ser que o sexo pós-rutura seja uma tábua de salvação à qual os homens se agarram de olhos fechados, como as crianças cerram os olhos quando querem ficar invisíveis. A má notícia é que eles terão de os abrir, mais cedo ou mais tarde. Então aí a ficha cai e a dor infiltra-se, fina a manhosa, acordando memórias que se julgavam diluídas. Não é pior assim?


LIÇÃO NÚMERO 2: nunca tente mascarar os seus sentimentos. Marta, 38 anos, tentou fazê-lo e arrependeu-se. A relação de oito anos com o marido tinha sido intensa, conflituosa mas apaixonada, e, acima de tudo o que ela sentia era um grande cansaço emocional. Porém, ao fim de sete meses sozinha, caiu na tentação de acreditar que a ferida estava sarada. “Queria sentir-me sexy, ter uns braços que me abraçassem e um homem que me fizesse sentir especial. Não era consciente, mas sei que o sentia e fiz um disparate.”

Numa saída noturna com amigas, deixou-se galantear por um desconhecido com quem acabou a noite num T3 sem história. “Foi tão estranho”, conta, ainda incomodada. “Acordei, olhei para ele e achei-o feio, desinteressante, chato.” Tentou ser simpática enquanto tomavam o pequeno-almoço, mas tudo o que queria era ver-se sozinha. “Quanto mais ele falava e tentava ser agradável, pior eu me sentia.” Na noite anterior, tinha bebido mais do que o habitual e não se lembrava exatamente de como tinha sido ‘aquilo’. Porém, algo lhe dizia que fora mau. “E então comecei a recordar-me das noites com o meu ex-marido, da forma como sempre vivemos o sexo, que era ótimo, desinibido, e aí, sim, entrei em depressão.” O fim de uma relação é sempre um processo doloroso. Quem já passou por isso sabe  que dificulta – e como – a perspetiva de um futuro emocional e sexual.

“O que quer que o seu casamento e divórcio tenham sido, vai ter de fazer o luto de uma série de noções”, diz a psicoterapeuta Florence Falk, autora do livro On My Own: The Art of Being a Woman Alone (O Meu Caminho: A Arte de ser uma Mulher Solteira). A especialista sublinha que, “durante muito tempo, vai existir um espaço vazio onde antes se guardavam sentimentos e memórias do outro, mesmo que esse património já não fosse uma coisa boa”.

LIÇÃO NÚMERO 3: ao envolver-se com alguém, a tendência natural é preencher esse vazio com a nova pessoa. Isso faz dela um suplente. Ou um tampão. E nenhuma das duas coisas é boa. Ainda assim – e esta é a lição número quatro – está fora de questão adotar o papel de vítima ou vestir o hábito de freira. No seu novo livro, Os Níveis da Vida, Julian Barnes escreve: “Todas as histórias de amor são potenciais histórias de dor. Se não no princípio, depois. Se não para um, para o outro. Às vezes para ambos. Então porque aspiramos continuamente a amar? Porque o amor é o ponto onde se encontram a verdade e a magia.”

Não foi magia mas prazer o que Catarina, 35 anos, divorciada, com dois filhos, descobriu com o seu post break-up partner. “Já o conhecia há uns três anos, ele é amigo de um grande amigo. Encontrámo-nos na casa de R. para jantar, e três dias depois ele mandou-me um sms maroto.” Foi o início de uma relação tórrida que passou pelo banco de trás – e da frente – do carro, por hotéis, motéis e finalmente pela casa dela. “Não consigo explicar o que ele fazia, mas posso garantir que me sentia a mulher mais sexy, mais desejada e mais bonita do mundo."

Catarina nunca misturou as coisas. “Sabia que aquela relação era, antes de mais, uma atração física. Também posso dizer que foi a forma que encontrei de me libertar do meu ex. Tive sorte. Em matéria de sexo, o meu marido ficou apagado em meia dúzia de semanas.”

O facto de os seus sentimentos estarem arrumados – “não pensava neste amante como um companheiro, não fazia planos para o futuro” – tornou menos provável que caísse num erro crasso.

“Não arraste toda a bagagem do passado para a sua nova vida. Arranje uma forma de arrumar os sentimentos e as memórias do seu casamento, boas e más, e apareça, diante dos outros, para além dessa condição. Pode demorar algum tempo a consegui-lo, mas é a forma mais honesta de lidar com o assunto”, garante o psicólogo Robert Alberti, coautor do livro Rebuilding: When Your Relationship Ends (Reconstrua-se Quando a sua Relação Acaba). Traduzindo, e esta é a lição número cinco: não veja no seu ‘amante entre amores’ o futuro coproprietário do seu coração e do seu sofá.


LIÇÃO NÚMERO 4: tente manter o fantasma do ex no seu devido lugar – o passado.

Joana, 45 anos, separada após uma relação de 15, sente que já fez o luto. Depois do marido, teve dois namorados e alguns casos a que não atribui “grande importância”. Recorda-se da primeira vez que dormiu com outro homem na sua cama. Apesar de o desejar, sentiu algum desconforto: “Era um antigo colega de faculdade por quem sempre me senti atraída. Quando me divorciei, comecei a sair com antigas amigas do curso e acabei por me cruzar com ele no Facebook.”

Encontraram-se para beber café, jantaram, foram ao cinema, e um dia, à hora do almoço, viram-se aos beijos na Baixa de Lisboa. “Que loucura! Tínhamos acabado de almoçar e íamos apanhar um táxi para o meu trabalho, onde ele me deixaria, seguindo depois para o seu escritório. Estávamos no passeio, prestes a atravessar uma passadeira, e, de repente, olhámos um para o outro e agarrámo-nos aos beijos. Havia uma tensão enorme entre nós há anos, e parece que alguém mandou um fósforo pelo ar – pegámos fogo.”

Por estarem mais perto da casa dela, foi para lá que se dirigiram. “Entrámos e começámos a despir-nos. Eu sempre fui um pouco tímida com o meu corpo, com a minha nudez, mas parecia que estava louca. Puxei-o para o quarto, ele atirou-me para cima da cama e... daí a pouco estávamos a fazer o melhor sexo que já tive na vida.”

O pior foi a sensação que se seguiu. “Uma coisa muito estranha. Tive medo que o meu ex-marido tocasse à porta, que tentasse entrar. Parecia-me até ouvir barulhos estranhos na fechadura. No fundo, era como se ainda lhe devesse essa lealdade, apesar de estarmos separados há um ano.”

Essa sensação repetiu-se outras vezes, mas foi desaparecendo. O amante fogoso também arrefeceu. Hoje, Joana tem um caso com um homem mais velho há três meses e diz que, pela primeira vez, começa a pensar em algo mais sério.


Regra práticas para voltar a sorrir (e ter orgasmos)

Janis Spindel, considerada pelo Huffington Post uma das mais bem-sucedidas casamenteiras da atualidade (é responsável pelo site www.2lovetoday.com, onde promove encontros entre “adultos sofisticados”), dá algumas dicas às mulheres separadas para reencontrarem par. Ou ficarem quietas mais um bocadinho, até a poeira assentar...

1. Não vale a pena sequer beijar outro homem na boca se ainda dá por si a suspirar quando descobre fotografias do seu ex ou aquela camisa que ele deixou esquecida no armário. Isso só vai fazê-la estabelecer comparações e nesse campo o passado vai ganhar (até porque o tempo apaga as más memórias e reaviva as boas).

2. Se acha que já está preparada para se envolver com outro homem, invista em pequenas mudanças. Por exemplo: quando sair com ele, use uma roupa recente. E mesmo que não faça planos para uma noite de sexo tórrido, use uma lingerie novinha. A ideia é que até a sua pele vá livre de recordações.

3. Atenção ao nome do seu novo amante. Se puder, evite evocá-lo nos primeiros encontros mais íntimos, quando a emoção pode sobrepor-se à razão (e à memória). Velhos hábitos podem estragar uma noite e nenhum João gosta de ser tratado por Miguel.

4. Evite a sua casa e a sua cama. É melhor encontrarem-se num sítio neutro ou até mesmo na casa dele. Um hotel pode ser uma ótima ideia – não estará na altura de dar largas à sua imaginação e passar uma noite naquele sítio que sempre cobiçou?

5. Nada de hotéis ou restaurantes aonde ia com o seu ‘defunto’ amor. As probabilidades de isso acabar mal são infinitas: pode tropeçar no seu ex, o empregado pode confundir o atual com o antigo, pode ser assaltada por velhas memórias, etc., etc., etc.

6. Aproveite a rutura para sair da sua zona de conforto e experimentar coisas novas e pessoas diferentes. Se o seu ex se movia em terra, experimente o mar. Se era advogado, escolha um patife (no bom sentido). Quanto mais diferente for o contexto dessa relação, mais renovada se sentirá.

7. Só porque já não é virgem, isso não quer dizer que a primeira vez com alguém que conhece tal  mal  não seja embaraçosa – ou menos bem-sucedida. Compreenda que não vai ser tudo perfeito. E livre-se de fazer comparações. Já agora, se correr mesmo mal, não se responsabilize. Coma uma sobremesa, beba um whisky ou empanturre-se de chocolates. Amanhã é outro dia, como dizia a Scarlett.

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