Check-in Música: Luz e sombra
Faltou ao concerto do Centro Cultural de Belém? Os You Cant Win Charlie Brown dão-lhe não uma nem duas, mas três novas possibilidades de ouvir o novo álbum ao vivo, em Lisboa.

Depois do lançamento do segundo e muito elogiado segundo álbum, em janeiro, está na altura dos You Can´t Win Charlie Brown levarem Diffraction/Refraction de novo para os palcos, depois do concerto do Centro Cultural de Belém. Nos dias 20, 21 e 22 de março, a banda de Afonso Cabral, Salvador Menezes, Luís Costa, David Santos, João Gil e Tomás Sousa instala-se no Music Box para dar provas da maturidade que alcançaram depois do caminho trilhado em Chromatic, o álbum de estreia, lançado em maio de 2011. A banda admite que trocou as reuniões virtuais pelos ensaios ao vivo e se livrou de arranjos supérfluos, revela-se mais subtil e orgânica, como quem foi desbastando camadas até alcançar aquela sonoridade mais substancial e sempre luminosa que, afinal, lhes define a identidade.
Discurso direto
Maria de Medeiros
Cantora
Ao terceiro disco, Maria de Medeiros soltou-se de medos e amarras e assinou a maior parte dos temas. Fomos descobrir Pássaros Eternos.
Neste novo trabalho temos uma Maria a olhar o mundo…
Comparo este disco ao momento em que nos oferecem a nossa primeira câmara de fotos e nos dedicamos a fazer imagens um pouco em todas as direções, das coisas mais familiares àquelas que nos surpreendem pela primeira vez. O que une esses instantâneos é a própria subjetividade de quem os dispara. Vinda de uma família de músicos como o meu pai e a minha irmã Ana, tinha uma grande inibição em relação à ideia de escrever ou compor uma canção. Levou tempo até entender que para quem tem um convívio de intérprete com a música, criar uma melodia é um passo muito natural. Não se tratava de escrever uma sinfonia, apenas de deixar nascer ideias, lembranças, sentimentos, com forma de música.
Nele passeamos por diferentes paisagens sonoras e linguísticas.
Esses instantâneos acabaram por tecer algo que se parece comigo, como sempre que deixamos falar o inconsciente. Aparecem alguns dos meus gostos e influências musicais, mas também o amor por diferentes línguas e culturas. Existe, tanto na história da nossa literatura como na nossa cultura musical, uma longa tradição de expressão em outras línguas. Talvez sejam até os Portugueses que mais gostam de explorar outros idiomas. Eça de Queirós escrevia admiravelmente em francês, Fernando Pessoa em inglês. Muitos dos jovens músicos portugueses compõem diretamente em inglês. No meu caso, embora continue a achar que “a minha pátria é a minha língua”, ou pelo menos essa bagagem linguística, cultural e afetiva que nos constitui, sou sem dúvida uma mistura de muitas referências.
Refere-se às pessoas que se aventuram a fazer discos em épocas tormentosas como sonhadores e idealistas. É assim que se define?
Sim, sem dúvida, sou sonhadora e idealista. E com certeza esta época é bastante nefasta para os artistas. E, ainda assim, não há corte económico que possa bloquear a criação. Poderá limitá-la de maneira dramática, mas pensar é uma inalienável forma de resistência.
