Lisbonweek: (re)descobrir Lisboa
Arranca mais uma edição da Lisbonweek, um dos maiores eventos culturais e artísticos de descoberta da cidade lisboeta.

Acha que conhece Lisboa como a palma da sua mão? O LisbonWeek está de volta para provar que talvez não seja bem assim... Para alfacinhas e não só, aquele que é um dos maiores eventos culturais e turísticos de descoberta da cidade regressa cheio de segredos por desvendar. Nesta edição, as atenções centram-se no bairro de Alvalade.
Foi no café Vává, em tempos um dos mais requintados de Lisboa e palco de tertúlias entre gente conhecida com capacidade de intervenção pública, que foram apresentados os pontos altos do programa da terceira edição do LisbonWeek, a realizar de 10 a 19 de abril. Este ano, o local escolhido foi o bairro de Alvalade que, com o apoio da Associação Cultural Turística Urbana, da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta de Freguesia de Alvalade, será explorado através de 11 visitas culturais e 12 exposições. Os visitantes vão poder conhecer as perspetivas históricas, arquitetónicas e artísticas de edifícios emblemáticos como a Biblioteca Nacional de Portugal, o Jardim do Campo Grande, a Reitoria da Universidade de Lisboa, a Torre do Tombo, o Museu da Cidade, o Museu Bordalo Pinheiro, o Hospital Júlio de Matos ou o Complexo dos Coruchéus. Além disso, haverá passeios de autocarro, apoiados pela Citirama, que trarão um olhar diferente sobre o plano urbanístico de Alvalade, indo ao encontro dos seus principais pontos. Como anfitrião deste tipo de eventos e atividades, o LisbonWeek pretende contribuir para a "redescoberta e revitalização do bairro, aproximando os cidadãos de um património cultural extremamente rico, onde diferentes gerações e modos de vida se cruzam, reforçando a dinâmica da cidade e captando públicos internacionais que normalmente se focam nos habituais roteiros turísticos". Nesta edição, as exposições são gratuitas, mas as visitas culturais terão um valor simbólico de €7 e €10.
Biblioteca Nacional de Portugal
O imóvel de interesse público recebe a exposição Porfírio Pardal Monteiro – Arquitecto de Lisboa, com curadoria de Ana Tostões e João Pardal Monteiro. Uma oportunidade única para saber mais sobre a vida e a obra de um dos mais importantes arquitetos do nosso país. Gratuita durante a semana inaugural, ficará patente até 1 de junho.
Jardim do Campo Grande
O maior espaço verde da cidade de Lisboa será palco de uma visita a pé, delineada por José Sarmento de Matos. Além disso, o lago do jardim acolherá, mais uma vez com Fernando Alvim, a Grande Regata de Barquinhos a Remos, uma corrida divertida onde todos poderão assistir e participar. Entrada livre, dia 18 de abril, às 15h.
Reitoria da Universidade de Lisboa
Os Urban Sketchers são um coletivo de autores que desenham em diários gráficos as cidades onde vivem e os sítios por onde passam. Para o LisbonWeek captaram o ambiente, as cores e a vida do bairro de Alvalade. O resultado é a exposição Urban Sketchers, patente neste imponente edifício, de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Entrada livre.
Torre do Tombo
O Arquivo Nacional da Torre do Tombo associa-se ao LisbonWeek com a apresentação de um documento do seu acervo: O Plano Geral de uma Cidade Olímpica para Lisboa – Campo Grande, 1934 e respetiva Memória Descritiva, da autoria dos arquitetos Jorge Segurado e António Varela. De segunda a sexta-feira, das 9h30 às 19h15, e sábados, das 9h30 às 12h15. Entrada livre.
Museu da Cidade
É um ponto de paragem que não poderia faltar no programa de visitas culturais organizadas pelo LisbonWeek. No Museu da Cidade, agora conhecido como Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, poderá acompanhar o percurso cronológico da evolução de Lisboa, desde a ocupação do território até ao século XX. As visitas realizam-se nos dias 11, 12, 18 e 19 de abril.
Museu Bordalo Pinheiro
Mais um espaço marcante a visitar. Aberto ao público em 1916, dedica-se ao estudo e à divulgação da obra de Rafael Bordalo Pinheiro, principalmente desenho e cerâmica. As visitas realizam-se nos dias 11, 12, 18 e 19 de abril.
Hospital Júlio de Matos
É num edifício de dois andares do hospital que irá realizar-se a peça de teatro imersivo E Morreram Felizes Para Sempre, da autoria de Nuno Moreira e direção de atores de Ana Padrão. Além de permitir ao público interagir com o espaço, o espetáculo conta a história amorosa de Pedro e Inês de Castro misturada com a invenção da lobotomia, por Egas Moniz.
Laboratório Nacional de Engenharia Civil
Este instituto público de ciência e tecnologia apresentará uma exposição que ilustra a engenharia portuguesa através de pequenos modelos de estruturas e instalações experimentais utilizados em estudos para a garantia da segurança de grandes obras. De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h. Entrada livre.
Mercado de Alvalade
No dia 12 de abril, entre as 11h e as 19h, este histórico mercado recebe a Feira da Buzina, que irá proporcionar aos seus visitantes uma forma diferente de comprar e vender antiguidades, roupas e acessórios – na bagageira de um carro. Será também aqui (dia 17, às 11h30) que se irá realizar uma parceria com o Peixe em Lisboa, evento que trará chefs bem conhecidos até ao bairro para um momento único de gastronomia.
Metropolitano de Alvalade
Construída ao longo de oito décadas, a obra de Maria Keil tornou-a uma das artistas portuguesas mais notáveis do século XX. A Estação de Metro de Alvalade recebe a exposição Encontrar Maria Keil, que mostra alguns dos seus mais importantes trabalhos de azulejaria. De segunda-feira a domingo, das 6h30 à 1h. É necessário possuir bilhete de acesso ao metro.
Centro Comercial de Alvalade
Não perca a exposição de fotografia Vanguarda, que recua até à década de 50 para mostrar as avenidas, os prédios, os cinemas, as zonas verdes e de lazer e os espaços de educação de Alvalade nos seus primeiros momentos. As imagens foram disponibilizadas pelo Arquivo Municipal de Lisboa. De segunda-feira a domingo, das 10h às 19h. Entrada livre.
Complexo dos Coruchéus
O passeio cultural acaba neste complexo inaugurado em 1971. Dele fazem parte 50 ateliês, a galeria de arte Quadrum, o Palácio, o Jardim e a Biblioteca dos Coruchéus, espaços que disponibilizam diversos serviços e atividades. As visitas realizam-se nos dias 11 e 13 de abril.
DISCURSO DIRETO
Presidente e fundadora da agência de comunicação XN Brand Dynamics e mentora do LisbonWeek, Xana Nunes desvenda-nos os segredos por detrás do projeto e o que podemos esperar desta nova edição.
Esta é a terceira edição do LisbonWeek, conceito que lançou em 2012. Como surgiu a vontade de fazer parte desta iniciativa?
Ao longo de muitos anos a conceber eventos para as marcas de luxo que a XN Brand Dynamics trabalha, um dos pontos fortes era o local do evento: o sítio tinha de ser surpreendente, exclusivo e pouco visto. Foi assim que comecei a descobrir Lisboa de uma forma mais profunda, a olhar cada edifício e a saber as suas histórias, cada vez com mais respeito. Porém, ao fim de uns anos, e tendo em conta que esses eventos eram normalmente para um grupo máximo de 500 pessoas, achei que tinha a obrigação de mostrar esses segredos de uma Lisboa mais desconhecida a todos. E foi assim. De 500 pessoas passei a conseguir oferecer essa descoberta a um número inimaginável de pessoas. Não são só os 55 mil participantes das anteriores edições que nos seguem – hoje em dia, através da comunicação digital, atingimos uma audiência à escala mundial.
O que é que se pretende com este projeto?
Exatamente isso: desvendar uma Lisboa mais desconhecida, contar a sua história, que é riquíssima, mostrar o seu património, a obra dos seus arquitetos e cruzá-la com os nossos artistas contemporâneos. O nosso objetivo é promover o património arquitetónico e cultural da cidade para públicos nacionais e internacionais.
Alvalade é o local escolhido para receber esta edição do LisbonWeek. Porquê este bairro?
O nosso objetivo sempre foi descentralizar, contar histórias menos conhecidas. Começámos em 2012 pelos aclamados Chiado e Bairro Alto, com cerca de 150 eventos, aos quais aderiram lojistas, criadores e chefes, que abriram as portas dos seus espaços de forma íntima ao longo de uma semana. Em 2013, atravessámos Lisboa com uma temática – "I will be your mirror" – e convidámos o público a confrontar-se com o património, cidade fora, e a sentir-se parte dele, através de instalações de diversos artistas plásticos. Em 2015, desafiámos um só bairro: Alvalade. Queríamos contar histórias mais recentes de Lisboa. Falar de meados do século XX até aos dias de hoje. Fomos fazendo descobertas magníficas que vamos passar a todos os que queiram descobrir o bairro mais vanguardista da cidade.
Quais as principais mudanças que se farão sentir no bairro?
O olhar. O conhecimento. A união entre as pessoas que o fazem viver. Acredito que as pessoas passem a olhar Alvalade de uma forma diferente ao conhecerem os seus pilares. Costumo dizer que o LisbonWeek termina naquela semana, pois é o fim de um processo de comunicação. Comunicámos Alvalade durante cerca de um ano, na imprensa, nas plataformas web, nas ruas… Nomes como Pardal Monteiro, Maria Keil ou Daciano da Costa serão mais (re)conhecidos. Acho que todos passaremos a ter um olhar mais atento e acredito que muitas das pessoas que colaboram connosco, de todas as instituições, museus, fundações e outros organismos, se tenham passado a conhecer, podendo assim dar continuidade a esta nossa provocação.
Lisboa tem sido, cada vez mais, uma cidade que fervilha de propostas culturais. Porque é que achou que havia espaço para o LisbonWeek e em que é que este se distingue das outras propostas?
O LisbonWeek é único. Não há nenhum evento ou serviço cultural que faça o levantamento histórico que fazemos e que o ofereça quase gratuitamente a todos. Fazemos cruzamentos entre o património e as várias artes, dando voz e espaço a artistas portugueses de diversas frentes.
Qual é, para si, a importância deste tipo de programas culturais junto das pessoas?
O conhecimento. O descobrir das nossas raízes, da nossa História. O facto de o fazer de uma forma que não se torna aborrecida, mas sim estimulante. O público que visita o LisbonWeek tem baixado de faixa etária a cada ano, o que mostra que os jovens estão abertos a saber mais desde que lhes seja apresentado de uma forma mais fresca, mais dinâmica.
Se pudesse escolher um evento/atividade do programa deste ano como seu preferido, qual seria?
Há programas para uma semana inteira. Todos os locais têm visitas desenhadas com imenso rigor e muitas estórias para contar que ainda não foram ouvidas. Sem querer menosprezar nenhum "evento dentro do evento", começava por ir à Biblioteca Nacional para ver a exposição sobre a vida e a obra de Porfírio Pardal Monteiro, de seguida apanhava o autocarro LisbonWeek para fazer uma visita pela história do Bairro de Alvalade, com curadoria da professora Ana Tostões, e acabava no metro de Alvalade a ver a exposição sobre a obra de azulejaria da Maria Keil. À noite, não perderia o teatro imersivo E Morreram Felizes Para Sempre, que conta uma história de amor misturada com a invenção da lobotomia, por Egas Moniz. É uma experiência forte, diferente, que vai estar em cena no Hospital Júlio de Matos. São novas maneiras de contar histórias em que nos sentimos parte da ação e não meros espectadores – tal como a essência do LisbonWeek. Por Mafalda Sequeira Braga na Máxima de Abril 2015.
