Hora do (bio) chá!
O chá e os seus mistérios viajam pelo tempo em diferentes tradições, concentrando uma forte ligação à natureza. Depois de explorar os costumes ocidentais e orientais, Zélia Sakai criou o seu próprio método que apresenta no livro Biochá.

Cada pessoa tem o seu ritual e as suas preferências quando chega a altura de escolher como, quando, onde e o que beber. Afinal, o ritual do chá tem milénios. "O registo tem 7 mil anos. No primeiro livro escolar da China já se fala do ritual do chá." Quem o diz é Zélia Sakai, a autora que acaba de lançar o livro Biochá (Bertrand Editora). Conta-nos que há dois anos (quando tinha 73) começou a preparar o seu próprio método de fazer chá que "obedece a uma trilogia de processos: solução, infusão e decocção. É preparado de acordo com as características da parte da planta a utilizar, para preservar as suas substâncias essenciais, patentes na cor, no aroma e no sabor".
Este é o resultado dos arquivos que foi criando na Casa da Paz, um espaço que montou, na serra de Monchique, há mais de 30 anos para cultivar e explorar as suas plantas e que também é fruto de uma longa experiência de vida que começa com as memórias da infância passada no Baixo Alentejo. Mais tarde, o trabalho na área da saúde levou-a para a Suíça e foi numa conferência a que assistiu em Paris, com um mestre budista japonês, que começou a crescer o fascínio pelo Japão, para onde foi viver em 1973. Por lá descobriu a vida de mosteiro... e a meditação. Conta-nos que "na forma de vida Zen o chá é o primeiro elemento do dia". O respetivo ritual consiste em "colher as plantas de manhã antes do nascer do sol, com a folha verde, para preparar o primeiro chá do dia". Ao casar com um japonês aprendeu também o seu ritual do chá, porque fazia "parte do dia a dia da família".
O primeiro chá que Zélia Sakai preparou foi servido numa pequena taça propositadamente sem asa para ser colocada na palma da mão porque "se a temperatura estiver agradável para a mão, vai estar agradável na boca". Entre rituais, tradições e uma clara paixão pelas plantas, conclui: "Estou a beber um chá que tem a mesma cor da folha que utilizei, o mesmo aroma, o mesmo sabor e a planta está viva. Então eu estou a beber um chá com vida."
