Check-in Música: Efeito caleidoscópico
Ao quarto disco, os Arcade Fire reinventam-se e seguem numa direção inesperada. Os bravos de Montreal regressam com treze novos temas que parecem desdobrar-se em infinitas canções.

Há qualquer coisa de transcendental e redentor em músicas como Wake Up ou Rebellion (Lies). Uma energia rara e contagiosa que, em palco, se transforma numa espécie de sobrenatural e deixa o público arrebatado e, passado o choque, feliz. Terá sido esta especial qualidade que fez dos Arcade Fire uma das mais incontornáveis referências do rock contemporâneo. Depois desse extraordinário Funeral (2004), seguiram-se Neon Bible (2007) e The Suburbs (2010), tendo este último trabalho ajudado a transformar a banda de culto da música alternativa num nome eventualmente consensual e definitivamente mais comercial. Agora, a banda canadiana parece ter sentido necessidade de rever a sua rota: Reflektor dá conta disso mesmo. Não se trata, necessariamente, de uma inversão de marcha: afinal, estão lá traços distintivos da banda, como os coros poderosos, as infinitas camadas sonoras, os arranjos cuidados, as convulsões rítmicas. Mas há toda uma depuração, com influências do punk e da eletrónica mas também do reggae e do funk, experimentada em dois discos que exigem a melhor atenção. E a devoção de sempre.
DISCURSO DIRETO
ANA BACALHAU, Cantora
Quinze. Foi com esta idade que a voz dos Deolinda começou a cantar. Foram também estes os anos (entre os 15 e os 30) que desenharam os contornos alargados das suas referências e inspirações musicais. Quinze é, por tudo isto, o nome do espetáculo que a cantora apresenta, em nome próprio, nos dias 12 e 13 de dezembro na Casa da Música, no Porto, e nos dias 19, 20 e 21 no São Luiz, em Lisboa. Zeca Afonso, Elis Regina, Édith Piaf são apenas alguns dos muitos nomes a serem evocados e homenageados.
Começou a cantar aos 15 anos. Como é que recorda esse momento?
Lembro-me perfeitamente do momento em que percebi que tinha voz. Andava a aprender a tocar guitarra e tocava canções dos meus grupos preferidos. Nessa altura, o What’s Up?, das 4 Non Blondes, estava a ser um enorme sucesso e eu peguei na guitarra, comecei a tocar e percebi que a conseguia cantar minimamente bem. Depois, comecei a entusiasmar-me mais com o canto do que com a guitarra e comecei a explorar a minha voz.
Já havia na altura alguma pretensão de seguir esta carreira ou os seus sonhos ainda passavam por outros universos?
Quando era miúda, queria ser professora de Inglês e Português. Quando descobri a minha voz, percebi que queria ser cantora. No entanto, o meu gosto pela Literatura e pela Linguística levou a que continuasse os meus estudos nesta área, apesar de, cá dentro, manter a certeza de que, quando terminasse, iria concentrar-me na Música. E assim o fiz. Depois de terminada a Universidade, e apesar de ter começado a trabalhar noutras áreas, tive sempre a Música como prioridade absoluta e objetivo primeiro.
Dos Pearl Jam a Amália Rodrigues. O seu universo musical é muito amplo – foi fácil desenhar o alinhamento do espetáculo?
Quando me propus este desafio, comecei por fazer uma seleção das canções e músicos que eram importantes no meu percurso. Acabei com uma lista de cerca de nove horas de música... As canções que acabaram por ser escolhidas contam um pouco a minha história pessoal e musical. Apesar de não serem de minha autoria, dizem coisas que gostaria de dizer, falam de experiências e emoções pelas quais também passei.
O que é que nunca se imagina a cantar?
Mais do que géneros musicais ou músicos, penso que o mais importante é perceber o que nos fica bem na voz e o que não nos fica bem na voz. E, principalmente, perceber se conseguimos trazer algo de novo e de pessoal à canção que estamos a interpretar. A partir destas premissas, tudo é possível!
E houve alguma coisa que tivesse ficado de fora?
Sim, infelizmente! Deixei o Bob Dylan, o Jimi Hendrix, os The Who, a Hermínia Silva, a Billie Holiday... Enfim, imensos músicos tão importantes para mim. A seleção que irei apresentar representa-me bem, mas se fosse incluir todas as influências o resultado seria um concerto que duraria para aí uns três dias...
A magia da música é a mesma que a contagiou nos tempos da adolescência?
Penso que seja ainda maior. Antes, tinha apenas uma ideia de como seria estar em palco, frente a um público. Agora, sei o que se sente quando se consegue estar em comunhão com milhares de pessoas que nos ouvem. É algo que não se consegue explicar ou descrever. Estar em palco é viver o momento presente. Não há passado nem futuro. Apenas aquele momento em que estamos, existimos e nos damos ao outro sem reservas. Uma das coisas mais bonitas que a vida me permite fazer.
