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Devo afastar-me de pessoas tóxicas?
A Dra. Catarina Rivero, psicóloga clínica, responde a uma das dúvidas mais frequentes da vida em sociedade.

Sinto que vivo rodeada de algumas pessoas tóxicas, mas ao mesmo tempo são importantes para mim. Algumas pessoas dizem que devo cortar e afastar-me… mas não posso afastar-me da minha própria família e colegas de trabalho. O que fazer?
Cara Carolina, é importante efetivamente compreendermos as relações que estão a fazer-nos sentir bem e aquelas com as quais estamos a ter mais dificuldade, ou nas quais nos sentimos mais desgastados. Pese embora haja uma tendência generalizada na sociedade atual para nos centrarmos na potenciação do nosso prazer ou desenvolvimento individual e cortar com o que nos desagrada, a questão é que mais do que "pessoas tóxicas", muitas vezes estamos sim a entrar em dinâmicas relacionais negativas (frequentemente padrões que replicamos com diferentes pessoas). Nesse sentido, mais do que soluções ou convite a cortar com todas as relações que estão numa fase de maior desgaste, deixo algumas reflexões sobre gestão das diferenças e relações.
Muitas vezes considera-se que pessoas tóxicas são aquelas que mentem, manipulam, ou que criticam tudo e todos. Podem estar numa fase menos boa e/ou ter esse padrão de comportamento desde "sempre". O que fazer? Naturalmente a nossa atitude irá variar consoante a qualidade de relação que temos até então e com a nossa própria sensibilidade do momento (que irá influenciar a forma como avaliamos a "toxicidade" dos outros ou das relações).
Nas relações profissionais, por exemplo, podemos ter falta de empatia, duvidar a integridade do outro ou ter uma embirração sentida como visceral por um colega. Tratando-se de relações profissionais, pode ser útil gerir as relações, sem personalizar eventuais atitudes negativas do outro (que tendem a acontecer com diferentes pessoas), mas mantendo a distância necessária ao desempenho profissional. Essa distância permite avaliar melhor as atitudes do outro, bem como compreender como nos posicionamos relacionalmente de forma a prevenir situações que sentimos posteriormente como abuso, e considerar em que medida estamos a contribuir para esse tipo de relação. Note-se que as dinâmicas relacionais são alimentadas geralmente por ambas as partes, e estabelecer limites de forma construtiva, mas assertiva, pode mudar a dinâmica relacional.
Nas relações familiares e de amigos há geralmente sentimentos paradoxais, quando se trata desta perspetiva do outro ser sentido como tóxico. Gostamos da pessoa, mas essa pessoa parece retirar-nos energia. Naturalmente que, na maioria dos casos, a opção não passa por cortar com o ou os familiares e amigos que desgastam, mas, mais uma vez, procurar mudar de posição nessa dinâmica que, sem se darem conta, todos alimentam. Alimentar discussões ou conversas sobre temas que geram tensão, quando essas discussões tendem a ser repetidamente desgastantes e nada produtivas, pode ser evitado. Oferecer-se para assegurar sempre determinadas funções na família, seguir a vida de acordo com o que um ou outro familiar pensa, deixar-se criticar ou humilhar, etc pode ser evitado. Se sabe que a sua amiga não consegue guardar um segredo, a relação pode ser mantida e celebrada, sem partilha de informações "secretas". Pode assim haver mudanças na relação, sem necessidade de haver um corte relacional, mas com um ajustamento na forma de se relacionar. Pode ainda ser útil, em algumas situações, falar com a pessoa em causa, sobre a forma como a relação se está a desenvolver, partilhando o seu sentir e ouvindo o outro lado, de forma a encontrarem em conjunto novas formas de manter ou recriar essa relação.
Se há relações que podemos dispensar das nossas vidas com benefícios claros no nosso bem-estar, pode ser útil parar para refletir quando estes padrões de interação se tornam regra ou padrão, em que um desacordo ou frustração na relação leva a um corte. Quando sentimos que estamos a cortar com muitas pessoas, podemos compreender que há algo que podemos fazer nas nossas relações, na forma como nos posicionamos, gerindo diferenças, divergências e sensibilidades, e estabelecendo os nossos limites, de modo a manter o melhor de cada relação (e todas as pessoas e relações serão de alguma forma imperfeitas), sem necessidade de cortar com todas as pessoas. Se o afastamento pode ser, em alguns casos, a melhor solução para ambas as partes, em muitas situações a tolerância pela diferença e imperfeições alheias (e próprias) permitem-nos manter laços ao longo da vida.
Catarina Rivero
http://catarinarivero.com/

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