
De modo geral não gosto de mudanças, seja na vida pessoal ou profissional. Gosto de rotinas e de previsibilidade e sempre achei que isso não era um problema… quer dizer, por vezes é difícil lidar com algumas situações. No entanto, nos últimos tempos, tive duas conversas em que me apontaram este facto como algo muito negativo… numa conversa com uma amiga, em que falávamos de mudança de planos sobre a nossa passagem de ano, e outra vez num almoço informal com a minha chefe, sobre novos procedimentos recentes… Penso que preciso de mudar… até que ponto a flexibilidade me pode ser útil? Como cultivá-la?
Cara Teresa, antes de mais felicito-a pela sua reflexão sobre o seu nível de flexibilidade e capacidade de considerar ainda a perspetiva de outras pessoas que a rodeiam. Todos somos únicos e de alguma forma, mais ou menos deliberada, mais ou menos consciente, fazemos escolhas nas nossas vidas que nos levam a viver e relacionarmos com os outros e connosco dentro de determinados padrões. O importante será sempre encontrar um equilíbrio ótimo, em que cada pessoa encontra o seu bem-estar emocional e social.
A flexibilidade psicológica relaciona-se com uma série de processos dinâmicos. Integra a capacidade para mudar de perspetiva, reenquadrar situações ou balancear domínios concorrentes (como aspirações/desejos e necessidades) face a exigências da vida, considerando os seus valores essenciais (o que mais valoriza). As pessoas variam em termos de flexibilidade psicológica, até porque esta se relaciona com alguns traços de personalidade como abertura à experiência ou auto-controlo – quer isto dizer que podemos ter tendência para ir à descoberta de novidade ou para um maior fechamento (mantendo sempre habilidade para mudar). Todos necessitamos de estrutura e flexibilidade e essa necessidade varia ao longo da vida em que, face a diferentes desafios externos e internos, vamos buscando equilíbrios, considerando o nosso bem-estar individual e relacional.
Ao longo da vida, podemos então desenvolver medos ou crenças irracionais (na medida em que consideramos que esses medos não têm lógica mas não os conseguimos deixar de sentir) face à mudança ou contextos sociais específicos, mas também podemos ao longo da vida ir reforçando aquilo que mais valorizamos nas nossas vidas, ter presente os nossos valores de base, as nossas forças de caráter, bem como as nossas aspirações e procurar ativamente desconstruir eventuais tendências para rigidificar e procurar alternativas e possibilidades diversas de ação. Perante qualquer crise que nos desafia – mudança profissional, nascimento de filhos, mudança de casa, nova relação amorosa, morte de um ente querido, entre outros – a flexibilidade irá ajudar-nos no processo de integração e adaptação à nova realidade. A flexibilidade psicológica facilita e potencia o bem-estar individual e relacional: mais facilmente procuramos soluções para seguir com as nossas vidas de acordo com o que nos traz um maior propósito e também prazer, para além de termos mais facilidade de encontrar soluções, e de mantermos relações gratificantes, sejam elas pessoais, sociais ou profissionais. Também nas adversidades precisamos muitas vezes de encontrar alternativas e olhar numa nova perspetiva, não só para lidar de forma pragmática no que for necessário, como para integrar na nossa narrativa de vida, dando um sentido e coerência que nos ajude a encontrar significado e ter noção do crescimento que posteriormente se faz sentir a nível pessoal e/ou relacional, e potenciar o nosso nível de resiliência.
Como mudar estes padrões e aumentar a flexibilidade? O trabalho passa por aceitar as suas emoções e pensamentos, reconhecer e identificar os seus valores essenciais e desenvolver motivação para agir de acordo com os mesmos. Aumentar momentos de bem-estar será também um caminho, pois quanto maior positividade experimentamos, mais facilidade temos em flexibilizar nos diferentes domínios da vida. E o inverso também pode ser verdade: mais flexibilidade poderá trazer mais positividade e bem-estar. Em caso de dificuldade em gerir o nível de flexibilidade, poderá ser benéfico recorrer a um psicoterapeuta que a poderá ajudar a desconstruir os padrões que considera pouco a nada adaptativos e encontrar novas formas de sentir e agir.

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