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A verdade das relações

A igualdade entre os elementos de um casal tem os dias contados? Qual a importância do casamento hoje? Numa época em que se tende a recuperar valores e tradições do passado, fomos saber como param as uniões amorosas.

A verdade das relações
A verdade das relações
11 de fevereiro de 2013 às 07:45 Máxima

Nada ficou como antes depois das mulheres terem conquistado o mercado de trabalho, da invenção do casamento por amor e do universo feminino ter passado a reivindicar o desejo e o prazer sexual. A partir destes acontecimentos, a dinâmica das relações amorosas mudou e o tipo de relacionamento entre homem e mulher, no casamento, ficou mais equilibrado – extingue-se a fórmula que funcionou durante séculos, onde eles tinham o poder, mandavam, e elas obedeciam. Mas agora que o tempo é de nostalgia de outros tempos, que risco corremos de perder estas conquistas?

UMA QUESTÃO DE QUÍMICA

Os químicos do amor, segundo o psicólogo Nuno Amado:

. Dopamina: é um químico natural produzido pelo corpo humano que atua como neurotransmissor. É, aliás, o neurotransmissor por excelência da paixão. Ajuda-nos a perceber que nos sentimos atraídos por alguém, pois faz-nos sentir felizes e vivos na presença dela. Entre outras coisas, contribui ainda com a energia e a motivação para delinear, cumprir e preservar nas estratégias para a conquista dessa pessoa que escolhemos.

. Testosterona: produzida nos testículos dos homens e nos ovários das mulheres, tem um papel importante na promoção do desejo.

. Oxitocina: age igualmente como neurotransmissor. A sua libertação é reforçada em momentos significativos, nomeadamente quando os amantes trocam carícias depois do ato de amor. As sensações associadas à oxitocina são de calma, serenidade e confiança.in Diz-me a Verdade Sobre o Amor, de Nuno Amado (Academia do Livro)

A dinâmica de relacionamento está intimamente ligada às motivações do amor e estas continuam a ser múltiplas e complexas, apesar do casamento assentar no novo paradigma do respeito mútuo entre as duas pessoas. Pelo menos, esta é a opinião de uma maioria de especialistas que trabalha com os casais em crise, mas empenhados em salvar o casamento.

“O amor é muita coisa diferente para pessoas diferentes”, observa Rita Duarte, psicoterapeuta e mediadora familiar. E para algumas, por exemplo, “é mesmo a necessidade de depender de alguém, a necessidade que cuidem delas. E a necessidade de cuidarem do outro”. Se o grande desafio das relações é mantê-las quando o tipo de amor inicial, que é romântico e se alimenta de paixão e intimidade, se transforma em amor companheiro, que é feito de confiança e cumplicidade, quanto maior não será manter as que à partida já vão desprovidas de paixão? 

Seja como for, o que caracteriza as relações hoje não é apenas a igualdade entre os pares. Para a psicoterapeuta, a grande diferença entre as uniões atuais e as de há 30 ou 40 anos “tem a ver essencialmente com a capacidade com que uma pessoa se desliga da outra. Ou seja, a partir do momento em que uma pessoa percebe que a outra não é para ele, muito mais facilmente sai da relação”. Não existem os constrangimentos que existiam antigamente, pelo que o fim de uma relação passou por vezes a ser muito banal. “As pessoas não aceitam numa relação as suas divergências nem o facto de, em alguns momentos, a mesma pessoa que desencadeia nela os sentimentos mais intensos e positivos a levar também a sentir emoções muito contrárias ao amor, como a repulsa. Ficam muito aflitas com isto que sentem e começam a criar avaliações negativas do outro, quando o problema é apenas de comunicação entre os dois”, diz.

Antigamente também não havia negociação possível. Mas o fim das relações era menos precipitado, independentemente de ser desejável. Alguns terapeutas dizem que se passou mesmo de um extremo ao outro: de aguentar tudo, até que a morte nos separe, ao pôr fim à relação ao primeiro conflito. E explicam, como Augusto Cury, em Mulheres Inteligentes Relações Saudáveis (Pergaminho): “Não há casais perfeitos, a não ser que estejam separados ou a morar em continentes diferentes, portanto, se duas pessoas moram debaixo do mesmo teto é impossível não terem áreas de atrito.”

Noutros tempos, casava-se por conveniência e para não se ficar sozinho. Hoje, regra geral, casa-se por amor, escolhe-se o parceiro. “E antes de se escolher, aproveita-se muito mais, tem-se experiências amorosas e sexuais”, acrescenta Rita Duarte. Outrora, a maioria das mulheres casava virgem, o que não é, de todo, e ao contrário do que se fazia crer, uma vantagem. Não é propriamente aconselhável alguém “casar sem ter noção do que é o seu envolvimento sexual, se se vai entender sexualmente com o outro”, observa, referindo que neste caso é tudo uma questão de química. O lado biológico, a forma como nos damos com o outro neste aspeto, é muito importante. 

Mas, segundo a psicoterapeuta, o mais importante numa relação de hoje é as pessoas sentirem que o outro está lá para elas, ao nível da compreensão emocional. Os homens já não representam “a segurança, nomeadamente material. Já não são a coluna vertebral de apoio”. Elas já não os querem com estes atributos, nem precisam. Emanciparam-se! Querem apenas sentir-se compreendidas pelos companheiros. De qualquer forma, a gestão desta economia no passado nunca passava pela mulher, era o homem que a fazia, que ditava as regras também neste campo. E delas não se esperava que dessem opinião, nem manifestassem qualquer necessidade.

Nas últimas décadas, as mulheres portuguesas ganharam independência económica e o direito de se expressar. E, com estas conquistas, o casamento nunca mais foi o que era. E alguns homens têm medo disso, assegura Rita Duarte. “Sentem-se mesmo ameaçados com o poder que elas têm.”

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O mundo mudou e a imagem e o papel da mulher mudaram muitíssimo. Em matéria de sexualidade, reclamar o direito ao desejo e ao prazer no feminino marca a grande viragem. E isso veio influenciar tudo o resto. “As pessoas estão hoje mais viradas para as suas necessidades, apesar da história que lhes contaram. Nomeadamente de obediência ao marido”, recorda a psicoterapeuta. “Basta umas palavrinhas para nos emocionarmos ou nos magoarmos. Um simples olhar é o suficiente para ficarmos encantados ou dececionados. Um beijo pode ter mais impacto do que um grande prémio”, escreve Augusto Cury.

De qualquer forma, o modelo da relação que as mulheres tiveram na família de origem continua a ter grande peso na dinâmica e orientação da sua própria relação, garante. Para o melhor e para o pior. Mulheres cujos “pais tiveram relações muito infelizes”, mas que continuaram juntos, têm tendência a adiar – por vezes eternamente – o fim do seu casamento. Há uma forte inclinação a copiar esse modelo herdado em casa.

Com a especificidade natural a cada caso em concreto, as relações entre homens e mulheres são hoje totalmente diferentes. É um facto. E, felizmente, não é muito provável que a igualdade entre o casal – no casamento ou nas relações de facto – tenha os dias contados. Revivalismo, provavelmente só no casamento. Já que nos últimos anos recuperou-se a tradição, o ritual, ganhando a cerimónia religiosa um novo fôlego. Apesar de, por outro lado, os divórcios também terem vindo a aumentar (só agora se começa a detetar uma pequena estagnação, a que não deve ser alheia a situação de crise económica que se atravessa). “Não sei se existe um revivalismo, acho que o casamento está mais ou menos presente tendo em conta os sonhos das pessoas”, observa Rita Duarte. Por outro lado, as razões que levam a aguentar um casamento que já se esgotou podem ser igualmente económicas, diz, “para além das pessoas acharem que a separação vai ser péssima para os filhos. A verdade é que o casal fica mais pobre. E, por isso, aguentam por vezes grandes conflitos, coisas muito duras e pesadas”, conclui.

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