A crise dos 40: os sintomas
Os homens não escapam à crise da meia-idade! Com dúvidas, sentem-se presos pela própria existência e ameaçam largar tudo.

É a história de um rapaz a quem tudo parece correr bem: 40 anos e picos, um bom emprego, um casamento que se mantém, uma mulher sexy, filhos amorosos, muitos amigos, um belo apartamento e férias activas... Um retrato-robô no qual talvez tenha reconhecido o homem da sua vida (nos bons dias). E uma espécie invejável, não? Contudo, se ouvirmos as companheiras descrevê-los, estes quarentões, bastante mimados pela vida, estão agora naturalmente tristes.
Os sintomas desta dúvida metafísica são inúmeros, e muitas vezes cómicos. Assim, há os que fazem 95 quilómetros de bicicleta todos os domingos: “Pelo menos aí, tenho um desafio a estabelecer!”, confessa. Subentende-se “já nem a minha família nem o meu trabalho me inspiram o mesmo desejo”.
Há este outro que se pôs a participar em corridas e maratonas... Uma forma – também ligeiramente suspeita, não? – de esquecer pelo esforço físico. Aliás, os médicos apelidam de “tarzans de domingo” estes quarentões que vêem chegar à segunda-feira com uma distensão muscular… Nos jantares alguns comprazem-se a contar edificantes histórias, como a do amigo que “mandou tudo à vida para montar um restaurante. Trabalha imenso, mas está feliz, rejuvenesceu uns 15 anos!” E os outros convivas do sexo masculino aplaudem...
A variante biblioteca de livros policiais ou cafetaria-bio é, aliás, também muito apreciada como fantasia de reconversão. Também muito comum, a famosa regressão rock and roll: remodelação da banda de garagem de quando tinham 17 anos, concertos para a festa da Música... Tudo muito comovedor mas um pouco irritante quando temos de assegurar todas as compras de fim-de-semana porque o senhor está a ensaiar...
44 anos, a idade da confusão
Mas, afinal, o que é que eles têm? Ainda é cedo para o velho cliché da “tentação da carne”. Será que se trata de uma manifestação repentina de adolescência retardada? De uma midlife crisis antecipada? Sem dúvida, um pouco das duas.
Como observa a psiquiatra Françoise Millet-Bartoli, autora de La crise du milieu de la vie, une deuxième chance [A crise da meia-idade, uma segunda oportunidade] (ed. Odile Jacob), “tal como o adolescente se interroga, de forma fatalista, sobre o seu objectivo na vida, o adulto de meia-idade também ele se interroga frequentemente sobre o sentido da existência”. Um clássico dos quarentões em países desenvolvidos, e nada de novo relativamente aos egos? Um estudo recente de dois economistas americanos* junto de 500 mil pessoas traz-nos mais um contributo: hoje é por volta dos 44 anos que os homens se sentem pior na sua pele. Manifestamente, o nosso querido não é o único a sentir-se apanhado pela rotina (a rat race do roedor de laboratório na sua roda). Esta expressão americana foi criada para ele! Resumindo. Um campo de possibilidades que parece reduzir-se vertiginosamente (nunca virá a fazer a sua volta ao mundo, nunca escreverá o seu romance).
A sensação de estar condenado a trabalhar cada vez mais para assinar cheques para o dentista e pagar o empréstimo daquela encantadora ruína comprada no Sudoeste! E o que é que ganha em troca? Adolescentes refilões, uma mulher que não é fácil – tem as suas próprias preocupações –, serões frequentemente passados a navegar na Net, cada um no seu canto... Já para não falar na self-esteem, a meia-haste como tudo o resto. “Porque é que ele se vê sobrecarregado a pagar durante 15 anos o seu nível de vida que apenas lhe traz a pouca satisfação de se parecer com os colegas de trabalho?”, escreve o ensaísta Marin de Viry na sua recente obra Le Matin des Abrutis» (ed. JC Lattès), que corta na casaca de toda uma geração.
Tédio, alienação, vacuidade... e já chega, não é preciso acrescentar mais nada.
“Tenho medo que o comboio descarrile”
À frustração existencial acresce uma verdadeira angústia de época. A crise e seus derivados que desiludem vieram trazer uma perturbação suplementar. “Há seis meses eu achava que a minha vida corria sobre carris demasiado direitos! Continuo a ter essa sensação mas neste momento estou com medo que o comboio descarrile”, explica um futuro ex-lutador. Descobrir aos 40 anos que se renunciou a muitas coisas – demasiadas coisas? – é bastante normal, e por vezes salutar.Admitir que nem sequer se conseguiu segurança material? Essa é a sensação mais amarga de engolir.
Se eles ainda têm boa aparência, é evidente que a mecânica destes quarentões está um pouco estragada pelo contexto… Então e o que é que se faz? Resiste-se. E, sobretudo, faz-se um uso intensivo do nosso lendário sentido de humor. Porque, como salienta pudicamente Françoise Millet-Bartoli, “o quadragenário em crise encontra por vezes no seu parceiro conjugal o antídoto para o seu mal-estar”. Uma forma elegante de dizer que se está na melhor posição se ele tiver vontade de descarregar! ¦
*Andrew Oswald e David Blanchflower, Social Science and Medicine.
Entrevista a Christine Castelain Meunier A midlife crisis dos homens é hoje mais aguda?
Absolutamente! Numa sociedade que valoriza a juventude e a sua criatividade, há uma nova vulnerabilidade dos quarentões. Os quarentões de hoje têm a obsessão de serem postos de lado como coisas velhas por causa do seu modo de vida rotineiro, da sua faceta “acomodada” profissional e sentimentalmente. A geração anterior sentia-se respeitada pela sua experiência. Esta só vê obstáculos (casamento, filhos, dívidas, etc.) que a maturidade lhe impôs.
A crise económica agravou este sentimento?
Lança uma luz absurda sobre as escolhas de vida dedicadas ao emprego e ao desempenho. Muitos homens tornam-se pessoas desiludidas. Tanto mais que o estatuto de macho que sustenta a família é menos valorizado: a mulher pode viver sem eles, de que serve então renunciar a tanta coisa? É por isso que vemos alguns passarem radicalmente à acção…
Para uma aventura sexual, por exemplo?
A tentação de recuperar o prestígio com uma “mulher-troféu” está sempre presente, claro. Mas é menos frequente, porque esses homens são também pais empenhados que não têm nenhuma vontade de fazer a família sofrer. A maior parte deles procura outras formas de redescobrir a vida – desportos radicais, actividades artísticas –, por vezes injustamente tidas como risíveis pelos que os rodeiam.
Christine Castelain Meunier é socióloga no CNRS e autora de Métamorphoses du masculin, edições PUF.
Quanto a si, ele está... um pouco, muito, terrivelmente atacado?
1. Ele procura amigos/amigas – de antigamente – na Net
2. Quer comprar um veleiro com amigos (ou escalar os Himalaias com esses mesmos amigos)
3. Diz cada vez mais frequentemente que os filhos foram estragados com mimos
4. Faz pão ao fim-de-semana, marcenaria ou jardinagem ou qualquer trabalho manual…
5. Relê filosofia (e troça do seu gosto desmedido pelo romance anglo-saxónico)
6. Está farto que durma em pijama e que apague a luz
7. Mete conversa com desconhecidos nos jantares e diz coisas do género “a minha mulher está viciada no computador!”...
8. ... mas compra brinquedos tecno e T-shirts com mensagens politicamente correctas…
9. Abre uma boa garrafa de vinho mesmo quando jantam só os dois na cozinha...
10. ... mas acha que está muito gordo.
Resultados: se identificou pelo menos cinco destes sintomas, ele está à beira de uma crise existencial. Mas pronto: pôr umas coisinhas em causa nunca fez mal a ninguém. Para além disso? Cabe-lhe a si ver... esperando que esta revolução dê um novo elã ao casal!
