Cronista globetrotter do Financial Times, fundador das revistas de culto Wallpaper e Monocle, arauto das tendências, este homem da imprensa faz da excelência de qualidade a sua linha editorial.
Tyler Brûlé: O mestre do lifestyle
22 de outubro de 2012 às 08:38 Máxima
Tudo começa por uma página em branco. “Nos dias bons, consigo escrever o meu texto num quarto de hora mas, às vezes, acontece-me bloquear e quase choro”, confessa, afundando o seu falso desespero num ar jovial. Contudo, todas as quintas-feiras, de há dez anos para cá, a terra continua a girar. À hora a que o Big Ben faz soar o meio-dia, pouco importa a disposição, Tyler Brûlé, de 43 anos, guru do estilo, envia para o Financial Times (FT) a sua crónica de viagem, que se tornou um culto. No dia seguinte, de Londres a Tóquio, os seus leitores encontrarão Fast Lane nas páginas cor de salmão do prestigiado diário. “Não sei se os redatores do FT têm medo de mim, mas não mexem em nada nos meus textos”, diz ele, divertido, do alto do pedestal onde o levou o seu irrepreensível destino de editor de sucesso – fundador da Wallpaper, verdadeira bíblia do design, posteriormente vendida, e da revista mensal Monocle, que acaba de celebrar cinco anos de existência.
AS PREVISÕES DE TYLER PARA 2022
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“Idosos: De momento eclipsámos as suas necessidades. Imobiliário, lojas, cuidados, assistiremos à emergência de novos conceitos destinados a uma população em pleno crescimento.”
. “Europa: Sou otimista e acredito muito no futuro de Berlim e da sua liderança, nomeadamente no domínio cultural.”
. “Facebook, Twitter, Novas Tecnologias...: Cresceram tão rapidamente que mal pensámos nas consequências. No futuro, seremos menos ativos e mais definidos pelas nossas escolhas de absentismo.”
. “Papel: Se abandonarmos o jornal em papel para ler as notícias num tablet, a nossa identidade desaparece. O tablet é uma ferramenta, mas não veicula nenhuma ideia, tornamo-nos invisíveis. O papel como apoio à comunicação possui esse valor acrescentado. Acredito muito no seu futuro.”
. “Savoir-faire: Não se pode viver na esfera virtual, serão sempre precisas pessoas que saibam fazer. Os países têm de continuar a produzir, a defender o seu savoir-faire.”
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. “Europa: Sou otimista e acredito muito no futuro de Berlim e da sua liderança, nomeadamente no domínio cultural.”
. “Facebook, Twitter, Novas Tecnologias...: Cresceram tão rapidamente que mal pensámos nas consequências. No futuro, seremos menos ativos e mais definidos pelas nossas escolhas de absentismo.”
. “Papel: Se abandonarmos o jornal em papel para ler as notícias num tablet, a nossa identidade desaparece. O tablet é uma ferramenta, mas não veicula nenhuma ideia, tornamo-nos invisíveis. O papel como apoio à comunicação possui esse valor acrescentado. Acredito muito no seu futuro.”
Terminada a crónica, contagem decrescente a zero, o infatigável descobridor pode enfim partir em busca de outras tendências e lugares improváveis que irão alimentar os seus próximos artigos. Insensível aos tormentos do jet lag, comenta displicentemente: “Não tenho problemas de sono, os aviões fizeram-se para dormir... depois de duas taças de champanhe.” As suas mais recentes descobertas? As malas alemãs Rimowa; Blandford’s, uma deliciosa coffee shop italiana perto do seu escritório de Londres; e Tsutaya, a incontornável livraria de Daikanyama, em Tóquio.
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Nesta manhã de primavera, no bar do hotel do Park Hyatt, em Paris, este homem de imprensa não parece apressado. Cabelo grisalho e barba de três dias, traje casual – jeans e casaco azul-marinho. Chega com alguns minutos de atraso. Franqueza britânica: “Sou o Tyler Brûlé.” Na véspera participou com a mãe e o companheiro na festa da concept store Colette, nas Tulherias. Discreto, ele não gosta de se exibir junto dos famosos que, aliás, quase não frequenta.… Mas não deixa escapar nenhuma oportunidade de se interrogar sobre os costumes desse microcosmos. Logo na manhã seguinte, Tyler comentou esta festa ao microfone de Monocle 24, a sua Web radio criada em outubro, o seu novo brinquedo “rentável desde a primeira emissão”.
O seu navio-almirante, a Monocle, luxuosa revista de estilo sobre design, cultura e negócios, continua a sua extraordinária ascensão num setor átono. Todos os meses, 69 mil exemplares, quatro escritórios de correspondentes, seis lojas e um café. Estará para breve um hotel Monocle? “Nós não somos uma marca de lifestyle, somos primeiro que tudo um meio de comunicação social”, defende-se. Os seus gostos de leitura refletem esse pendor: adora ler os artigos de Anthony Lane do New Yorker e também o romance Scoop, uma sátira ao jornalismo da autoria de Evelyn Waugh.
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Umas quantas palavras em francês, envoltas num irresistível sotaque, completam o décor. Em primeiro lugar, o seu apelido, Brûlé, que tem a sua origem em Saint-Malo; em seguida, a sua bebida favorita pedida à empregada na língua de Molière: “Un cappuccino, s’il vous plaît.” Longe de Winnipeg, no Canadá, onde nasceu, eis-nos nas margens civilizadas do Tamisa, onde ele organiza a sua vida desde 1994, ano negro do seu acidente em Kabul. Jovem repórter, Tyler acompanhava uma equipa dos Médicos Sem Fronteiras quando a viatura em que seguia caiu numa emboscada. “Os tiros, os ferimentos que sofreu, o longo tempo que teve de permanecer no hospital iriam marcar uma viragem na sua vida”, conta Jean Boué, que lhe dedicou um documentário. “Tyler Brûlé era, na época, freelancer, e o cinismo do seu patrão, que lhe enviou flores com algumas palavras (‘Boa recuperação, obrigado por ainda estares vivo’), fê-lo olhar para as coisas de uma outra maneira. A partir daí, decidiu fazer tudo sozinho.” Um dos seus colaboradores confessa: “Tyler criou à escala de Monocle uma pequena utopia. Nos seus escritórios existem duches, uma mesa de almoço, um chef que cozinha sushis para toda gente, e é mesmo a única empresa de Inglaterra onde podemos encontrar lavabos japoneses.” O que não quer dizer que não haja algumas elevações do tom de voz do capitão: “A última vez”, revela, “foi com alguns jovens recrutados aquando do lançamento da rádio. Não têm nenhuma cultura geral, são viciados na Wikipédia, esta geração desespera-me.” Só tinham duas opções: adaptar-se ou ir-se embora. Mal entraram já estavam de saída...
A SUA VOLTA AO MUNDO EM 5 NOMES. “Cortiina Hotel (Munique), um lugar que percebeu tudo sobre hotelaria contemporânea.”
. “Maroni (Hiroshima), uma fábrica de móveis belíssimos.” “Revo (Escócia), o fabricante de rádios que vendemos nas nossas lojas.”
. “Barena (Veneza), um estilista de quem aprecio a forma de conceber uma roupa.”
. “Martin Mörck, um ilustrador dinamarquês que continua a gravar à moda antiga selos e notas de banco.”
Fazer parte da galáxia Monocle tem um preço. A tendência das revistas é difundir o conteúdo gratuitamente pela Internet. Ele propõe o contrário: graças a uma série de pequenos extras, o preço por número é mais elevado com assinatura do que comprado no quiosque. “Ele percebeu que os media tinham de se reinventar jogando com a complementaridade dos patrocínios. Ele explora-os com muita inventividade”, descodifica Angelo Cirimele, chefe de redação da Magazine, especialista em media. “E não hesita em ir contra a tecnologia. Não há iPad. Sobretudo, soube criar um código estético identificável de Londres a Tóquio que agora encontramos nas lojas e no café.” O seu modelo preferido? “Um casaco de malha imaginado com a marca japonesa Porter. É fofo e quente e muito prático no aeroporto para passar os controlos de segurança.” Mais belo, mais criativo, mais rápido e também mais prático, assim vai o mundo na opinião de Tyler Brûlé.
. “Maroni (Hiroshima), uma fábrica de móveis belíssimos.” “Revo (Escócia), o fabricante de rádios que vendemos nas nossas lojas.”
. “Barena (Veneza), um estilista de quem aprecio a forma de conceber uma roupa.”
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Cronista, editor, tastemaker, homem de negócios, na cabeça um mesmo fascínio: as viagens. “É assim desde criança e não apenas o sonho de visitar a Argentina ou a África do Sul. Gosto de entrar num avião, observar as infraestruturas.” Educado por um pai futebolista, de quem pouco fala, e por uma mãe estónia, omnipresente, o garoto cresceu. Os sonhos, esses, mantêm-se. Desde a cor dos assentos do TGV aos desempenhos da Central Japan Railway Company, em tudo ele repara, tudo descodifica. Meio de transporte ideal? “Uma carruagem de comboio em que eu fosse o único ocupante com alguns quartos e uma sala de reuniões onde pudesse receber-vos hoje antes de partir para Londres.” Embora a Monocle seja o atlas da sua geografia luxuosa e exclusiva, a sua máquina de fabricar estilo é ainda um outro elo da cadeia. Com o nome Winkreative, esta empresa de consultoria reflete quer para criar a imagem da Swiss International Air Lines, como da província do Ontário ou do governo de Taiwan... Do seu quartel-general em Londres, Tyler Brûlé vê o planeta com os olhos de um gentleman que muito gostaria de salvar o mundo do mau gosto.
1 de 6 /Tyler Brûlé: O mestre do lifestyle
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2 de 6 /Munique
3 de 6 /Ilustrador dinamarquês
4 de 6 /Fabricante de rádios (Escócia)
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5 de 6 /Estilista que aprecia (Veneza)
6 de 6 /Uma das revistas de culto fundadas por Tyler, consgrada como a bílblia do design e foi vendida em 2002