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Sexualidade na gravidez e pós-parto

O que muda? O que é que elas sentem e eles pensam? Esclareça dúvidas e aquiete receios. E saiba como é possível viver mais esta etapa da vida na sua plenitude!

Sexualidade na gravidez e pós-parto
Sexualidade na gravidez e pós-parto
06 de fevereiro de 2013 às 07:50 Máxima

Sentia-se bem fisicamente, sem enjoos ou vómitos, e o humor mantinha-se inalterável. Não fosse o corpo ter mudado, a gravidez de Paula S., então com 28 anos, teria passado despercebida. Ela, que sempre fora “magra e seca”, agradeceu cada uma dessas alterações. “Fiquei com formas fabulosas, com mamas e curvilínea. E tudo isso me fazia sentir muito sensual e um profundo aumento do desejo.” Três anos depois, a arquiteta confidencia-nos ter passado uma gestação muito tranquila e “sexualmente estimulante”, pois o seu companheiro “também se sentia particularmente entusiasmado”.

À semelhança de todas as outras experiências, a da gravidez não é vivida da mesma forma por todas as mulheres. Não há duas histórias iguais. Em matéria de desejo, por exemplo, se algumas, como Paula, admitem sentir-se mais sedutoras e mais disponíveis para o sexo quando estão grávidas, muitas outras dizem – e uma boa parte esconde – sentir precisamente o contrário: o desejo drasticamente diminuído. E, no limite, não gostarem da imagem delas no espelho, sofrerem de baixa autoestima. ‘Serei normal?’, perguntam-se algumas.

A diminuição da autoestima na mulher grávida por se considerar menos sedutora é um facto. Mas hoje existem soluções práticas para ela se tornar “mais atraente, sexy e desejável, se assim o quiser”, garante a sexóloga Marta Crawford no livro de sua autoria Viver o sexo com prazer (Esfera dos Livros), referindo-se à multiplicidade de vestuário que hoje existe, “com o qual a grávida pode vestir-se de uma forma versátil”.

CONTRAINDICAÇÕES

Segundo documentos médicos, a atividade sexual não é aconselhável nos seguintes casos:

. Placenta baixa

. Deslocamento de placenta

. Ameaça de aborto

. História anterior de aborto

. Rotura de bolsa

. Hemorragia vaginal

. Incompetência do colo do útero

. Existência de infeção sexualmente transmitida (IST)

A psicóloga clínica e terapeuta sexual Renata Chaleira explica que o desejo “por norma flutua ao longo da gestação, quer pelas questões hormonais – enjoos, vómitos e cefaleias – quer pela mudança física que a gravidez promove – a barriga fica maior, a mama muda – e a mulher poderá ter alguma necessidade de adaptar-se ao seu corpo”. Nestes casos, é importante que o homem reforce a autoestima da parceira, diz. E fique atento a eventuais períodos de tristeza profunda que se arrastem por algum tempo, irritabilidade e instabilidade do humor, pois a depressão é um quadro possível durante a gravidez. É desencadeada tanto “pelas mudanças hormonais que estão a acontecer”, esclarece a especialista, “como pelas alterações de vida que a grávida está a viver, existindo um papel quase a definir-se, o de mãe”. No caso de se verificarem estes sintomas, é importante que a mulher seja “observada por um médico psiquiatra ou psicólogo”.

Mas a medida do desejo não afeta só as mulheres. Eles também podem sentir alterações a este nível. De um lado, há os que asseguram sentir-se mais excitados pelas formas arredondadas das parceiras grávidas, do outro, os que para quem o corpo “gordo e inchado” delas é um obstáculo ao desejo. Henrique P., 35 anos, passou por isso uma vez, “a única que me fez pai”, explica, e logo ali decidiu “que não queria voltar a passar por aquela experiência. Foi de um sofrimento atroz! Como é que se diz a alguém que não conseguimos acariciá-la porque o corpo dela mudou?”

A sexóloga explica que durante a gravidez ocorrem mudanças no corpo da mulher (aumento do perímetro abdominal, ‘barriga’, a aréola mamilar fica maior e mais escura, por exemplo) e na sua anatomia (a vulva e vagina sofrem ligeiras alterações com o aumento do aporte sanguíneo). Alguns homens “sentem estas mudanças como benéficas integrando-as na sexualidade do casal e tirando partido delas”. No entanto, outros deixam de ver a parceira como objeto de desejo sexual, começando a vê-la como mãe [do filho que vai nascer].

Os mitos sobre a atividade sexual durante o tempo de gestação encontram-se classificados nos livros médicos: por exemplo, alimentam que as relações sexuais podem provocar aborto no primeiro trimestre e que a penetração pode magoar o bebé. E, ao contrário do que se julga, não são uma realidade ultrapassada. Estes fantasmas ainda assombram muitos casais, interferindo na sexualidade deles.

Carlos M., 35 anos, professor, é um bom exemplo de que os receios e preconceitos face à sexualidade na gravidez estão vivos. Como ele costuma dizer, andou uns tempos perdido num medo irracional de magoar o bebé. “Sabia perfeitamente que as coisas não são assim, nem tínhamos qualquer contraindicação médica relativamente à penetração, mas não conseguia agir naturalmente”.

Também ainda é comum esta reação masculina. “Receiam que a atividade sexual coital magoe o bebé in utero”, comenta a terapeuta sexual, explicando que é necessário esclarecer que, “por norma, o bebé se encontra bem implementado no útero e não existe qualquer contacto com a abertura vaginal e o colo do útero”.


Apesar de toda a informação disponível que hoje existe, as dúvidas e os medos persistem. Umas vezes, chegam às consultas. Outras, o pudor (pelo o assunto em si) ou a vergonha (por o ignorar) impedem os casais de os colocar abertamente ao especialista que os acompanha.  

Caso não exista indicação do médico assistente em contrário, “a penetração é totalmente segura e não magoa o bebé”, esclarece Renata Chaleira, sublinhando que a explicação de todo o processo [de gravidez] numa consulta de sexualidade pode ajudar a quebrar os mitos e “dar mais confiança ao casal”. Esclarecendo ainda o facto de não existir um padrão definido para os homens reagirem à gravidez das parceiras, a terapeuta sexual explica que é importante acabar com os tabus existentes relativamente a esta fase da vida do casal “e passar para a ação sexual”. Acordando que a sexualidade poderá ser diferente neste período, garante que é “saudável explorar novidades”.

“É importante que o casal se aperceba de que a sexualidade pode ser reinventada nesta fase da vida, podendo assumir outras expressões diferentes de uma relação coital”, escreve  a sexóloga Marta Crawford no seu livro.

O QUE PODE ACONTECER DURANTE A GESTAÇÃO

Alterações que podem ter lugar ao longo da gravidez e que influenciam a vivência da sexualidade do casal, segundo Marta Crawford:

. Alteração do interesse sexual feminino (tendencialmente um decréscimo do interesse no 1.º trimestre, sendo variável no 2.º trimestre)

. O decréscimo da atividade sexual durante o período da gravidez

. A necessidade de mudanças, ao nível do comportamento sexual, com marcada preferência por carícias não genitais

. Alteração das tradicionais posições sexuais

. A relação coital pode ser substituída pela masturbação e pela introdução de outras práticas sexuais gratificantes para ambos

In Viver o sexo com prazer (A Esfera dos Livros)

A partir do terceiro trimestre existem posições impraticáveis, sendo necessário mudar. Ou seja, “passar para novas e apetecíveis experiências: novas posições, novas explorações sensoriais e eróticas, sem receios”, diz Renata Chaleira. Quando existem contraindicações, é diferente, prossegue. Se se relacionarem com a penetração vaginal, esta não é de todo possível. Quanto à exploração de novos jogos sexuais, esclarece que caso a “contraindicação se fique a dever à contração uterina precoce”, estes “não são aconselhados, uma vez que o orgasmo é uma fonte de contração do útero”. Não se verificando esta problemática, “o casal pode passar a explorar mais o erotismo e a sensualidade, promovendo a masturbação em privado ou em casal, recorrendo, por exemplo, a jogos eróticos, visualização de filmes eróticos ou pornográficos, ler livros eróticos e esquecer por momentos a maternidade e a paternidade, tornando-se indivíduos sexuados”.

No último trimestre de gravidez, os casais geralmente reduzem a frequência com que fazem amor, pois a mulher não se sente sexualmente atraente, já que a sua imagem está alterada, explica a especialista em obstetrícia e ginecologia Maria do Céu Santo no livro de sua autoria Amor sem limites (Academia do Livro). No entanto, não se verificando contraindicações, adianta que “não há qualquer problema e chega mesmo a ser aconselhável: o orgasmo e as contrações por ele provocadas podem até ajudar a adaptar a mãe e o bebé para o nascimento… além de a fazer sentir mais mimada e amada”.

E depois que o bebé nasce? O período pós-parto é tido como um tempo de crise, uma fase de imensa complexidade. Antes eram dois, agora são três: nasceu uma mãe, nasceu um pai. Há novos papéis e funções a desempenhar. Tudo se altera e, por isso, também a sexualidade do casal.

Depois do parto, a mulher precisa de recuperar física e psicologicamente. Ora o que acontece, normalmente, é que a primeira recuperação ocorre de forma mais rápida que a segunda. Na cabeça das mulheres, o processo pode ser bem mais lento.

Segundo Maria do Céu Santo, a atividade sexual pode ser retomada cerca de quatro semanas após o parto por via vaginal (mesmo por fórceps ou ventosa) ou cesariana. No entanto, “após um parto por via vaginal, desde que tenha ‘levado pontos’, o início das relações sexuais pode ser doloroso, sendo necessário por vezes utilizar um lubrificante antes e um creme depois”, observa.

“O período de recuperação física dura de quatro a oito semanas”, mas depois “a amamentação e os cuidados do bebé tomam conta das mulheres que se veem absorvidas nesta nova experiência”, recorda Renata Chaleira. Algumas vezes, pode ainda ocorrer outra situação: a depressão pós-parto. “É uma contingência principalmente na gravidez do primeiro filho e das mulheres que amamentam”. De acordo com a terapeuta sexual, ambas as situações “comprometem os casais”. Por isso, os homens devem envolver-se em todas as questões relacionadas com o bebé, nos cuidados com ele, por exemplo, partilhando com as mulheres todas estas novas experiências, aconselha. Desta forma, o homem acaba por ser “melhor recebido numa relação por vezes muito estreita entre mãe-filho, na qual se sente frequentemente excluído”.

Durante este período, também é fundamental que o casal encontre tempo “para viver momentos a dois que fomentem as relações eróticas”, sublinha, explicando que as dificuldades sexuais não atingem só as mulheres neste tempo de mudança, determinado pela chegada de uma criança à vida dos pais. Há estudos que referem que “alguns homens que assistem aos partos das companheiras desenvolvem disfunções sexuais, nomeadamente a disfunção eréctil”. Por isso, e não só, Renata Chaleira afirma que é muito importante que o casal pondere bem a possibilidade do pai estar ou não presente no momento do nascimento do filho, não devendo o homem sentir-se obrigado a fazê-lo. “Por vezes, eles sentem-se forçados a assistir, por contingências emocionais da parceira e por pressão social”, mas, na verdade, só devem fazê-lo “se isso for uma forma de realização e prazer pessoal”.

Tal como durante a gestação, o período pós-parto requer atenção e cuidados. É fundamental que exista diálogo aberto e partilha entre o casal – onde cada um deve expressar o que está a sentir em cada momento e tentar encontrar soluções para melhor lidar com esse mundo de novidades e dificuldades que vão acontecendo. “Partilhar tarefas, receios, fantasias e tabus é um bom começo”, assegura a terapeuta sexual. E, caso seja necessário, o casal deve pedir ajuda.

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